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% * headers
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% (defun dp () (interactive) (find-evincepage "~/quadradinho/quadradinho-print.pdf"))
% (defun m  () (interactive) (find-sh "cd ~/quadradinho/ && makeindex quadradinho-a5"))
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% (find-fline      "~/quadradinho/quadradinho-a5.tex" "defun subsec" "\n)")

% http://angg.twu.net/quadradinho/quadradinho-texto.tex
% http://angg.twu.net/quadradinho/quadradinho-texto.tex.html
% http://angg.twu.net/quadradinho/quadradinho-a5.pdf
% http://angg.twu.net/quadradinho/quadradinho-print.pdf

% Dar cópias para:
% Rodrigo Cazes
% Vandinha
% Helena
% João Alberto da Costa Pinto


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\def\mysubsection#1#2{\subsection{#1}\label{#2}}

\def\mysection   #1#2{\section   {#1}\label{#2}\hypertarget{#2}{}}
\def\mysubsection#1#2{\subsection{#1}\label{#2}\hypertarget{#2}{}}

\def\Index#1{\index{#1}#1}

% (find-hyperrefmanualpage 12 "\\href{URL}{text}")
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\def\fnhref   #1#2{{\sl #2}\footnote{\burl{#1}}}
\def\fnhreft#1#2#3{{\sl #3}\footnote{\burl{#1}#2}}
\def\fnmailto#1{\footnote{\tt{#1}}}

% (find-es "tex")
% (find-es "tex" "psnfss-avant-garde")

% * Quick index:
% «.capa»		(to "capa")
% «.toc»		(to "toc")
% «.introducao»		(to "introducao")
% «.introducao-2»	(to "introducao-2")
% «.porque»			(to "porque")
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%   «.contra-a-greve»		(to "contra-a-greve")
% «.discurso-majoritario»	(to "discurso-majoritario")
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%
% Parte 2:
% «.garrafa-dagua»		(to "garrafa-dagua")
%   «.quimica»			(to "quimica")
%   «.reestruturacao»		(to "reestruturacao")
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%
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%   «.farra-das-diarias»	(to "farra-das-diarias")

%
% Apêndices:
% «.delpupo»			(to "delpupo")
% «.safatle»			(to "safatle")


% «capa» (to ".capa")

\phantom{a}
\vskip 1.5cm

$$\includegraphics[scale=0.6]{front.pdf}$$

\vskip 0.5cm

%\centerline{\color{Firebrick4}Versão 0.8}
\centerline{\color{Firebrick4}Versão 0.8f}
\centerline{29/julho/2013}
%\centerline{7/fevereiro/2013}
%\centerline{[email protected]}
\centerline{eduardoochs@}
\centerline{gmail.com}

\msk

{\footnotesize
\centerline{Apêndices:}
\centerline{Rodrigo Delpupo}
\centerline{Vladimir Safatle}
}

\thispagestyle{empty}

% ----------------------------------------
% ** «toc» (to ".toc")
\newpage

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% ----------------------------------------
\newpage

\phantom{a}
%\vskip 2cm
\vskip 1.5cm

% --------------------
% ** «introducao»  (to ".introducao")
% (sec "Introdução" "introducao")
%\mysection {Introdução} {introducao}

{\bf Introdução.}

Em 1º de junho de 2012, pouco antes da greve na UFF começar, já era
claro pra mim que nós precisávamos de uma greve de ocupação e que nós
precisávamos aprender a fazer mais ações ``políticas'' juntos, e eu
mandei pra lista de discussão da Computação do
\fnhref{http://angg.twu.net/blergh.html}{PURO} uma proposta: que a gente
reunisse um grupo de alunos interessados em redes e começássemos a nos
preparar pra tomar conta da internet do Pólo nós mesmos caso os
técnicos decidissem desaparecer durante a greve. Só recebi {\sl uma}
resposta - e foi de um técnico, e dizia isto aqui:

\begin{quote}
  Sugiro que se o senhor e seus alunos não tenham nada mais importante
  para fazer, procurem! Atenha-se aos assuntos de sua alçada e não nos
  que dizem respeito aos técnicos. Imagine se todos os professores
  tivessem ``carta branca'' para acesso e manuseio da rede - fala
  sério!

  Vamos colocar os técnicos para aplicar as provas, vamos todos trocar
  de lugar... o senhor mesmo pode ir pra Informática consertar os PCs!
  Entendeu o caos agora?

  Com todo respeito, Professor, cada um no seu quadrado!
\end{quote}

\msk

A minha idéia de {\sl mobilização} não era nada óbvia.

Eu precisava escrever sobre ela.

{\it Alguns argumentos aqui são simplificados.} Isto é de
propósito - encontre os furos, discuta, faça a sua própria
versão, acrescentando as suas idéias. A versão online deste
texto - a mais atual, e na qual que os links funcionam - está
em \burl{http://angg.twu.net/\#quadradinho} - você pode usá-la e
modificá-la à vontade, mas por favor ponha um link para o
original (quando possível).

\msk

Note que várias seções são só primeiros esboços e
vão mudar no futuro!... mas os dois apêndices, o do Rodrigo
Delpupo e o do Vladimir Safatle, já estão em forma definitiva.

% \msk
%
% {\sl Pedaços diferentes deste texto foram escritos em épocas
% diferentes}. Expressões como ``ontem'', ``semana passada''

% \begin{quote}
%   Rio de Janeiro / Rio das Ostras, 5 de agosto de 2012.
% \end{quote}

\newpage


% --------------------
% ** «introducao-2»  (to ".introducao-2")
% (sec "Outra introdução" "introducao-2")
%\mysection {Outra introdução} {introducao-2}
{\bf Outra introdução}

% (Pólo Universitário de Rio das Ostras)

Quando a gente quer chamar a atenção pras condições
precárias do PURO a gente sempre começa falando dos containers
(veja fotos \fnhref{http://angg.twu.net/blergh.html}{aqui}), que já
viraram nossa marca registrada. Os 16 containers brancos são
alugados da firma XXX por R\$\,35\,000 por mês, e são quase
metade das nossas salas de aula e todas as nossas salas de
professores. Eles são ``fotogênicos'': é fácil
fotografá-los, dizer ``eu dou aulas/estudo na universidade de
lata'', e aí partir de algumas imagens memoráveis pra atrair a
atenção para os nossos {\sl outros} problemas
\fnhreff{http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/04/24/uff-ufrj-e-unb-participam-de-paralisacao-dos-servidores-publicos-federais-convocada-para-amanha.htm}{}...

% ``isolamento acústico, ar condicionado e piso amadeirado''

Algo um pouco menos evidente, mas que pode ser mostrado em números
e gráficos - embora não em fotografias - é a nossa falta de
professors e nossas péssimas condições ``concretas'',
``mensuráveis'' de trabalho; o texto do Rodrigo Delpupo no primeiro
apêndice (seção \ref{delpupo}) fala estes problemas, que se
repetem em praticamente todo campus no interior, de forma brilhante. A
greve foi principalmente por estes problemas ``mensuráveis'' - a
seção \ref{diagrama-da-greve} discute um pouco as várias
pautas de reivindicações da greve.


Descobrimos que certos problema ``não-mensuráveis'', bastante
interligados entre si, se repetem em muitas universidades. Algumas
palavras-chave pra começar a falar sobre eles: ``vergonha'',
``ditadura dos editais'', ``destruição dos espaços
democráticos''. A parte da ``vergonha'' é tratada em Psicologia
do Trabalho (procure por Christophe Dejours e adoecimento docente);
para ``ditadura dos editais'', procure por ``produtivismo'' - acho que
sobre a ``destruição dos espaços democráticos'' há
menos material por aí.

\msk

\msk

Em uma das atividades de greve que organizamos no PURO - ``Memória
e Luta pela Democracia'', organizada pela Kátia Marro e pelo Edson
Teixeira - nós a cada semana começávamos vendo algo sobre
ditaduras na América Latina e debatíamos depois. Duas destas
discussões foram especialmente marcantes pra mim: uma depois de um
documentário chamado
\fnhreff{http://www.labutaca.net/52sansebastian/nietos.htm}{``Nietos:
Identidad y Memoria''}, sobre a luta pra localizar as (ex-)crianças
filhas de desaparecidos políticos que tinham sido dadas pra
adoção pelos militares na Argentina, e recuperar suas
identidades; outra a partir de um livro de uma fotógrafa que
começou o seu trabalho com um pequeno anúncio: ``tiro fotos suas
com os seus pais desaparecidos''. A idéia original dela era {\sl
tecnicamente} muito simples: as pessoas traziam suas fotos antigas com
os pais, ela projetava na parede, a pessoa se punha na frente da
projeção, e tiravam uma foto disso -

% Uma questão importante é a seguinte. Me parece que {\sl
% muitas} pessoas acreditam que os ``winners'' vão sempre em
% frente, e nunca remóem problemas passados - então como
% justificar que {\sl em algum sentido} vale mais a pena podermos
% olhar pra nossa história do que ignorá-la, distorcê-la,
% mantê-la cheia de buracos escuros?

{\sl Que tipo de ``inteireza psicológica'' conquistamos à medida
que nos tornamos capazes de lidar abertamente com vergonhas, erros e
problemas?} Ou seja, o que é que os ``winners'', que vão sempre
em frente, e nunca remóem problemas passados, {\sl não} têm?
{\sl E quais são as consequências de incentivarmos uma sociedade
na qual o passado está sempre sendo apagado?}

\msk


As seções da Parte 1 foram escritas durante a greve ou logo
depois, pra tentar complementar certas discussões de durante a
greve. Como todos sabem, a grande mídia não tem como noticiar
fidedignamente uma greve (seção \ref{chomsky}), mas mesmo na
mídia alternativa e nos blogs e grupos de
discussão\fnhref{http://angg.twu.net/2012-greve-fontes-primarias.html}{}
certos argumentos não-usuais e que não cabem em poucas frases
quase não apareciam... e este zine é uma tentativa de coletar um
monte deles.

A Parte 2 (p.\pageref{garrafa-dagua} em diante) é meio que uma
tentativa de reconstruir partes da nossa história recente, meio
estudo de caso, meio associação livre. É melhor ter um nome
mais curto pra ``destruição dos espaços democráticos'',
então vamos chamar isto de {\sl o problema dos Fontainers}.




% Nossos containers só são necessários porque os nossos
% prédios extras, que eram pra ter ficado prontos há anos
% atrás, ainda estão só {\sl quase} prontos.
% 
% Esses prédios estavam previstos no convênio com a Prefeitura de
% Rio das Ostras, que criou o pólo
% (seção \ref{farra-das-diarias}), e atrasaram principalmente
% porque certas prestações de contas pendentes com a Prefeitura
% eram quase impossíveis de terminar. Até ???/20?? a Prefeitura
% pagava o aluguel dos containers [linkar: relatório da direção
% Walter/Magini].

% http://angg.twu.net/PURO/relatorio_wm/relatorio_gestao_introd.pdf
% http://angg.twu.net/PURO/relatorio_wm/relatorio_gestao_tabela.pdf

\msk

% (to "farra-das-diarias")

% aug 25 2012
% _fontainers_

% Acho que a gente tem que dar mais visibilidade ao que está
% acontecendo, e já vimos que os nossos representantes nas instâncias
% superiores não nos representam... acho que esses 2 abaixo assinados
% que a gente mandou pro GT de resstruturação - um do RHS, um do RFM -
% foram uma ferramenta fantásstica pra isso; agora a gente pode
% esfregar eles no nariz de todo mundo, e podemos até postá-los na
% internet - nao só pra denunciar, mas também pra descobrir vários
% outros campi no país que passam por coisas parecidas.

% Por enquanto nós somos conhecidos como o campus cujo problema
% principal são os containers, mas daqui a pouco nós podemos ser
% conhecidos - NACIONALMENTE - como o campus dos _Fontainers_.

% Várias da pendência que fizeram esses
% 
% além do prédio que era originalmente uma escola pública -,
% 
% O que eu posso pôr na minha homepage? 
% 
% Não consigo nem mais produzir artigos - me sinto traindo os meus
% colegas, os alunos e o próprio cargo pro qual eu fui contratado
% quando me refugio na minha pesquisa e omito e


\newpage






% --------------------
% ** «porque»  (to ".porque")
% (sec "Porque melhorar - ou não..." "porque")
\mysection {Visões contra e a favor da greve} {porque}

Vamos começar comparando uma argumentação contra o atendimento das
reivindicações dos professores, alunos e técnicos das universidades
federais em greve - pra resumir: ``contra a greve'' - com uma
argumentação ``a favor da greve''.


% ;; (find-kopkadaly4page (+ 12 607) "Index")
% ;; (find-kopkadaly4page (+ 12 637) "Index")
% ;; (find-kopkadaly4page (+ 12 67) "Index")
% ;; (find-kopkadaly4text)


\begin{quotation}

% --------------------
% *** «contra-a-greve»  (to ".contra-a-greve")
% (subsec "Contra a greve" "contra-a-greve")
\mysubsection {Contra a greve} {contra-a-greve}

Porque todo mundo está apertando o cinto; porque o prazo para definir
o orçamento do próximo ano está quase acabando; porque os professores
mais competentes já têm como atingir condições melhores publicando
mais, se juntando a programas de pós-gra\-dua\-ção, e liderando grupos
de pesquisa; porque as universidades têm que se tornar mais
eficientes. {\it Porque a negociação já está encerrada: o governo já
  assinou um acordo} (com o PROIFES) {\it e diz que não dá pra fazer
  mais nada.}


% --------------------
% *** «a-favor-da-greve»  (to ".a-favor-da-greve")
% (subsec "A favor da greve" "a-favor-da-greve")
\mysubsection {A favor da greve} {a-favor-da-greve}

Praticamente todo mundo quer proporcionar a melhor educação
pos\-sí\-vel para os seus filhos. Já nos conformamos com a idéia de
que as escolas públicas são péssimas, e que então temos que pagar para
os nossos filhos as melhores escolas particulares possíveis - ou, mais
precisamente, as com os melhores índices possíveis de aprovação no
vestibular - pra que aí eles passem para as melhores universidades
possíveis. {\it Nós nos conformamos com a idéia de que a educação que
  realmente importa começa na universidade}.

As universidades particulares são ruins - com poucas exceções, como as
PUCs, e algumas semi-exceções - exatamente porque elas {\it têm} que
ser economicamente eficientes, com professores dando aulas pra muitos
alunos, e mesmo assim os alunos têm que ficar satisfeitos... e as
conseqüências disto são: provas de múltipla escolha, índice
obrigatoriamente baixo de reprovações, cumprimento superficial das
ementas - os alunos ficam satisfeitos, mas num certo sentido eles são
enganados. Eles recebem um diplominha no final - e talvez até tenham
tido uma certa experiência com laboratórios bem-equipados e estágios -
mas e daí?

Podemos pensar também de modo mais amplo: queremos que nossos filhos
sejam as melhores pessoas possíveis, tenham as melhores profissões
possíveis, eduquem os seus filhos (nossos netos) da melhor forma
possível etc.

\msk

Sabemos que nem todas as melhores pessoas possíveis vão ter trabalhos
que paguem muito
(\fnhref{http://www.cracked.com/blog/6-things-rich-people-need-to-stop-saying/}{6
  Things Rich People Need to Stop Saying}, itens \#4 e \#3) - nem
todas serão juízes ou empresários, e sabemos inclusive que há juízes e
empresários canalhas, que têm filhos que são delinquentes ricos, que
podem fazer praticamente o que quiserem que ficarão impunes.

Ou seja, sabemos que nossos filhos ``serem as melhores pessoas
possíveis'' e ``ganharem muito'' são coisas {\sl independentes}.

Note que estou, de propósito, falando de dois sentidos diferentes de
``educação'': a educação que gera caráter (``boas pessoas'') e a que
dá diplomas, empregos, e dinheiro. Mas estes dois tipos de
``educação'' não são totalmente independentes. Imagine a seguinte
historinha: um pai quer dar a melhor educação possível pro seu filho;
ele se mata de tanto trabalhar pra pagá-la - daí esse filho acaba
tendo pouco contato com o pai, e boa parte do seu caráter - no sentido
de ``como ele vai lidar com as situações'' - acaba sendo formado na
escola e na universidade, através de coisas que ele lê, vê, pensa,
discute. Ou seja: é comum nós delegarmos uma parte da educação ``do
caráter'' para a escola e a universidade, até porque não temos tempo
de dá-la nós mesmos!

Só que a escola e a universidade que são obrigadas a serem as mais
eficientes possíveis, funcionando com menos recursos e preparando pro
vestibular - no caso da escola - e diplomando e gerando profissionais
- no caso da universidade - não têm como fazer isto!


\end{quotation}





% [# ***
% 
% [P (Claro que eu concordo com o "Por que melhorar..." - os motivos
% para comparar estes dois pontos de vista opostos ficarão claros nas
% próximas seções).]
% 
% [P O que estou querendo dizer com isto é: educação é prioridade [IT
% sim]. O mundo pode estar passando por uma crise, e será necessário que
% a população pense no que considera prioridade, e exija que o governo
% cuide das prioridades corretas.]
% 
% [P [IT Porque a gente se acostumou a não pensar e não exigir?] Isto é
% uma questão importantíssima, que tem bastante a ver com a sensação de
% que nada adianta. Isto é o tema da próxima seção.]
% 
% *** #]


% --------------------
% ** «discurso-majoritario»  (to ".discurso-majoritario")
% (sec "O discurso majoritário" "discurso-majoritario")
\mysection {O discurso majoritário} {discurso-majoritario}

Eu notei que eu às vezes penso em algo que é absurdo como está, e que
há mil argumentos para que seja mudado - por exemplo, que precisamos
de mais professores nas universidades federais, porque os que estão
nelas estão muito sobrecarregados - mas aí eu imagino o tom da
resposta do governo: ``{\it não temos recursos, vão trabalhar, parem
  de reclamar, se virem}''! Aí eu fico repetindo, pra mim e pras
outras pessoas em torno de mim, a resposta que eu {\it prevejo} que o
governo dará - fico procurando algum modo de desmontar com argumentos
esse tom de impossibilidade do governo, e não encontro...

{\it Acho que eu acabo me sentindo idiota, ingênuo e otário quando
  tento discutir com pessoas} - em especial ``autoridades'' - {\it que
  não aceitam nem os melhores argumentos. E quando eu consigo prever
  como essas pessoas vão reagir eu pelo menos me sinto menos ingênuo.}

Uma alternativa é desistir de encontrar uma argumentação única,
impecável, que certamente prevalecerá sobre as outras; reconhecer que
estamos lidando com gente rígida, irredutível, que não é lógica e nem
razoável, e que nem se importa em ser coerente. Estas pessoas - no
caso, o governo - repetem uma linha de raciocínio como se fosse a
única possível, e como a mídia também repete só esta linha de
raciocínio (vou chamá-la de ``discurso majoritário'') a gente acaba
acreditando que esta é a única possível, e que a nossa não faz
sentido, que a nossa nunca vai ser reconhecida, que a nossa {\sl não
  existe}.




% --------------------
% ** «como-se-propagam»  (to ".como-se-propagam")
% (sec "Como as idéias se propagam" "como-se-propagam")
\mysection {Como as idéias se propagam} {como-se-propagam}

Antes de discutir como uma idéia como ``as universidades federais
precisam de mais professores e melhores condições de trabalho'' pode se
tornar ``majoritária", vou preparar o terreno falando de três outras
coisas:

\begin{itemize}

\item No Chile vários movimentos de protesto, que no início tinham
  reclama\-ções e demandas totalmente diferentes, foram se juntando, e
  bem aos poucos, à medida que a população se envolvia, todos
  discutiam, e certas idéias iam se tornando familiares
  ("majoritárias"), foi possível surgir uma exigência principal em
  comum:
  \fnhref{http://www.ft-ci.org/article.php3?id_article=5500?lang=es}{``educação
    gratuita para todos''}.

\item No ato em Macaé no dia 14/junho/2012 eu vi um estudante num
  carro de som dizendo algo que naquele momento soou óbvio e natural:
  que o governo é eleito pra nos representar e pra cuidar do país da
  melhor forma possível; eles não podem desmantelar a educação, e {\it
    muito menos fazer isto em nosso nome}. Naquele momento eu vi uma
  idéia ``nada familiar'' se transformar numa idéia ``óbvia'' - até poucos
  dias antes eu achava que esta idéia do ``não em nosso nome'' era tão
  alienígena para brasileiros que eu não conseguiria imaginar ela
  sendo dita numa praça pública e sendo ouvida e reconhecida por uma
  multidão.

\item No
  \fnhref{http://www.amazon.com/The-Back-Napkin-Expanded-Edition/dp/1591843065/}{``The
    Back of the Napkin''} \index{Back of the Napkin} tem este este
    trecho (pp.113-114):

  \begin{quotation}

    Regardless of who he is talking to, Jeff gives essentially the
    same speech, but how he succeeds in getting his various audiences
    engaged is that he varies the level of simplicity versus
    elaboration to match the expertise of his listeners. Jeff begins
    his talks by showing one of two drawings of how the brain works,
    one for lay audiences and one for the experts. The simple picture
    is composed of two boxes, thirteen arrows, and eleven words, and
    describes conceptually how our brains process incoming
    information.

    Hawkins's second drawing is also composed of boxes, arrows, and
    text... just a lot more of them. This version is the one that Jeff
    shows when talking to neuroscientists, PhD's, and other experts.
    Although conceptually the same as the first drawing - the same
    components, the same relationships, even the same shapes - this
    drawing scares off anyone not already an expert in brain science.
    At the same time, Jeff needs this drawing as his introduction when
    addressing the experts because if he doesn't show something this
    elaborate, they won't believe that he knows what he's talking
    about.

    The most interesting part of this whole story is that by the time
    his presentation is over, Jeff has shown both audiences - experts
    and newbies - both pictures. For the lay audience, seeing the
    wildly complex drawing after they understand the basics of how the
    brain works is amazing. And the neurobiologists and PhD's get
    really excited by Jeff's simple drawing because once they believe
    he knows what he is talking about, they find the drawing
    refreshing.

  \end{quotation}

  Repare que boa parte do trabalho desse cara consiste em pegar uma
  área do conhecimento muito difícil - {\it e que ainda está sendo
    construída} - e torná-la acessível.

\end{itemize}

Uma das principais funções da universidade - é bem evidente que
professores fazem isto o tempo todo, e que pesquisadores fazem isto em
apresentações, mas os alunos também aprendem a fazer isto - é pegar
assuntos difíceis e complicados e construir ``portas de entrada'' pra
eles, pra que outras pessoas tenham acesso a primeiro uma versão
simplificada deles, depois à versão completa, com todas as
sutilezas...

O que está acontecendo agora é que o governo e a mídia nos empurram
uma visão de mundo ``majoritária'' em que só importam a economia e a
formação ``eficiente'' de profissionais ``eficientes'' pro mercado de
trabalho.

É preciso fazer com que as outras ``visões de mundo", em especial as
sobre a educação, se tornem mais coerentes, mais familiares, e, aos
poucos, ``majoritárias'' - quando isto acontecer vai pegar muito mal o
governo continuar deixando a edu\-ca\-ção à míngua, e {\it é aí que
  poderemos considerar que o governo estará sendo efetivamente
  pressionado}.

(Quando eu falo sobre as ``outras visões de mundo'' se tornarem ``mais
coerentes'' e ``mais familiares'' eu estou querendo dizer algo que pra
mim é bem preciso. Quando eu fico só repetindo o ``discurso
majoritário", como na seção \ref{discurso-majoritario}, eu não consigo
pensar sobre a alternativa - e portanto não consigo detalhá-la, nem
me\-lho\-rar o modo de expô-la (como no terceiro item acima)... a
alternativa escorre do meu pensamento, não se fixa, não consigo
repetí-la nem pra mim nem para outros, e daí não consigo nem
melhorá-la nem torná-la familiar - ela se esvai.)

Repare que na terminologia do capítulo 13
d'\fnhref{http://angg.twu.net/zamm-13.html\#vu}{``O Zen e a arte da
  manu\-ten\-ção de motocicletas''} o trabalho de entender, discutir e
transformar idéias é feito pelo ``espírito da universidade'' - em
contraposição ao ``prédio da universidade'' -, e ele pode acontecer
entre pessoas quaisquer, em qualquer lugar. Aliás, agora que o governo
tem tentado reduzir as universidades a fábricas de diplomas (e a
pesquisa a fábricas de artigos cientificamente irrelevantes, mas que
contam o máximo de pontos no currículo Lattes\footnote{Isto foi
  discutido durante meses na Lista Brasileira de Lógica; um link:
  \burl{http://www.dimap.ufrn.br/pipermail/logica-l/2012-July/008246.html}}
as universidades em funcionamento normal se reduziriam ao ``prédio da
universidade"; a universidade ``real'' acontece principalmente durante
a greve, e principalmente durante as atividades de greve. {\it Obs:}
muitos alunos e professores só se ausentam durante a greve por não
saberem participar de nenhum modo mais efetivo do que simplesmente
\index{voto} ``votando a favor''. Mas a idéia de {\it participação ativa} é mais
uma das que só estão se tornando familiares aos poucos.



% --------------------
% ** «a-greve-em-si»  (to ".a-greve-em-si")
% (sec "O objetivo da greve é a greve em si" "a-greve-em-si")
\mysection {``O objetivo da greve é a greve em si''} {a-greve-em-si}

Isto {\it poderia} ser um slogan contra as visões imediatistas da
greve - se fosse fácil de entender.

% Voltando: é por isto que neste momento eu considero que ``{\bf o
% objetivo da greve é a greve em si}'' -

O governo está numa posição tão viciada que ele não tem nem como
entender nem como atender a pauta de exigências para melhoria das
condições da educação; o único modo de transformar concretamente as
condições passa por mudar a mentalidade de boa parte do Brasil, {\sl e
  isto é feito na greve}. Se nenhuma reivindicação nossa for atendida,
{\sl ótimo} - continuaremos aproveitando cada segundo desta greve (e
da próxima, se tivermos que interromper temporariamente esta) para
trabalhar para criar as condições para uma mudança real.


% --------------------
% ** «diagrama-da-greve»  (to ".diagrama-da-greve")
% (sec "Um diagrama para a greve" "diagrama-da-greve")
\mysection {Um diagrama para a greve} {diagrama-da-greve}

No início da greve muita gente a via como este diagrama aqui:


$$\includegraphics[scale=0.6]{greve-simplificado.pdf}$$

% \vskip 4cm

Os negociadores dos professores (NP), falando em nome de todos os
professores, negociam com um negociador do governo (NG), que fala em
nome da Dilma (D) e do governo em geral. Os professores cruzam os
braços, o governo fica incomodado, o NP diz ``queremos melhores
salários!", ou ``queremos que vocês nos tratem melhor!", e algo
acontece.

Mas pra uma descrição minimamente realista precisamos de um
diagrama bem mais complicado.

$$\includegraphics[scale=0.6]{greve-full.pdf}$$

% \vskip 5cm

O principal NG, Mercadante, negocia com representes do ANDES, que é
um sindicato grande, e do PROIFES, que é pequeno. Cada sindicato
tem membros muito ativos, que acompanham as negociações em
detalhes, e membros menos ativos; além disso o ANDES ``representa''
todos os professores de certas universidades, e o PROIFES todos os de
outras. Nas assembléias de greve nas universidades todos os
professores que comparecem podem \index{voto} votar, não só os
sindicalizados. Alguns professores não vão nas assembléias
mas discutem com os que vão e os influenciam; outros professores
só vão para as suas casas durante a greve, e desaparecem. Os
negociadores dos sindicatos repassam muitas informações para as
assembléias, e eles se guiam pelo que acontece nas assembléias
pra negociar.

Isso é só o que acontece na bola ``professores". Na bola ``governo"
também entram o MEC, o MPOG, juristas, etc. E, na interface entre as
bolas, as negociações são baseadas numa
\fnhref{http://portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-ult-1539784043.pdf}{\Index{pauta
  de revindicações} enorme} dos professores, e em documentos
detalhados produzidos por um lado e pelo outro.

Quando o diagrama é MUITO simplificado a pauta de reivindicações é
resumida a um item só: ``salários". O segundo item da pauta, ``plano de
carreira", não é tão distante de ``salários'' assim; resumir ``salários e
plano de carreira'' a ``salários'' numa reportagem obrigada a ser muito
curta não é tão enganoso. Mas o terceiro item da pauta é ``condições de
trabalho e estudo".

{\it Neste momento - início de agosto/2012 - as ``condições de
  trabalho e estudo'' desapareceram da grande mídia.} Porquê? Porque o
governo apresentou uma propostas ``puramente econômicas'' que só
falavam de salário e plano de carreira, o PROIFES propôs que a segunda
estas propostas fosse aceita, a aí pergunta urgente passou a ser:
``será que a greve vai acabar?''... o ANDES preparou análises
detalhadas, ``técnicas'', destas propostas e as divulgou -
``técnicas'' no sentido de que mesmo quem reduz tudo a contas do modo
mais míope possível, vendo só salários, vai reconhecer estas análises
como algo totalmente ``objetivo'' - e mostrou que as propostas são
péssimas.


% --------------------
% ** «alem-das-bolas»  (to ".alem-das-bolas")
% (sec "Além das bolas ``governo'' e ``professores''" "alem-das-bolas")
\mysection {Além das bolas ``governo'' e ``professores''} {alem-das-bolas}

Já vimos, na seção ``A favor da greve'', que ``queremos universidades
melhores'' é (ou: pode ser) uma demanda da população como um todo;
``queremos melhores salários para os professores das IFES'' é uma
demanda que só interessa realmente aos professores das IFES.

Vou chamar de a ``pauta real'' a
\fnhref{http://portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-ult-1539784043.pdf}{pauta
  de reivindicações completa}, e de ``pauta resumida'' a que só tem
salários e plano de carreira, ou só salários. Como dizia um amigo meu,
``resumiu tanto que ficou errado''.

A ``pauta real'' não é só da bola ``professores''. Ela importa a uma
bola maior: a bola ``universitários'', que inclui estudantes e
professores, e também a uma bola maior ainda: a ``população''.

É difícil defender a ``pauta resumida''. Os professores das IFES já
são vistos como os primos ricos dos professores de ensino médio, que a
população já se acostumou a manter paupérrimos como monges
fransciscanos, então algumas pessoas vão ver os professores das IFES
como marajás pedindo aumento.


% --------------------
% ** «tecnocracia»  (to ".tecnocracia")
% (sec "Tecnocracia" "tecnocracia")
\mysection {Tecnocracia} {tecnocracia}

Um {\it \Index{tecnocrata}} é uma pessoa que toma suas decisões
baseando-se somente em informações técnicas, ignorando todas
as questões ``humanas''.

{\catcode`\_=11

Na seção \ref{desperdicios} eu explico porque eu acredito que os
``investimentos'' que são necessários para melhorar a Educação não
podem ser só financeiros; mas o governo está tentando responder às
demandas dos professores só de modos econômicos e técnicos - e de
forma inconsistente (procure no Google por ``educação não é gasto, é
investimento'' - esta idéia foi ignorada), e manipulativa (veja
\fnhref{http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed703_o_jornalismo_cego_as_armadilhas_do_discurso_oficial}{esta
  análise} da proposta dos 45\%), mas isto não vem ao caso agora.

}

{\it Porque não conseguimos pôr no governo pessoas que saberiam
fazer os ``investimentos não-financeiros'' necessários?}

Pra facilitar a exposição das próximas idéias deixa eu improvisar
uns termos:

\begin{itemize}

  \item {\it (Fazer) política ``no bom sentido"} é fazer com que as
    pessoas dialoguem, troquem idéias, se entendam, e cheguem perto o
    suficiente de consensos pra que consigam trabalhar juntas - e daí
    consigam realizar coisas juntas mesmo que os recursos financeiros
    disponíveis sejam mínimos;

  \item {\it (Fazer) política ``no mau sentido"} consiste em fazer
    alianças, promessas e trocas de favores, pra
    ganhar \index{voto} votações, aprovar projetos e mudanças
    de regras daninhos à sociedade em geral
    (\fnhref{http://www.youtube.com/watch?v=2eL6zAz_LaQ}{nesta
    entrevista do Marcelo Freixo} ele fala brilhantemente sobre os
    problemas de se fazer certos tipos de alianças);

  \item vou chamar de {\it \Index{aliançocrata}} alguém que
    só faz ``política no mau sentido''.

\end{itemize}

% [# (find-LATEX "chaui-hch.tex")
% #]

\fnhref{http://angg.twu.net/LATEX/chaui-hch.pdf}{Este artigo} da
\Index{Marilena Chauí}, interessantíssimo, analisa a redução da Po\-lí\-tica
às Finanças - ou seja, a exclusão do que eu estou chamando de
``política no bom sentido'' do que é reconhecido socialmente
como ``política".

Acho que é bem claro que temos um governo de tecnocratas (ou:
"finan\-ço\-cratas") e aliançocratas. O que é intrigante é {\it
  porque} é tão difícil pôr em posições de poder pessoas que não são
nem tecnocratas nem aliançocratas - os candidatos que nos parecem
nossas melhoras apostas ou não são eleitos, ou se transformam no
oposto do que esperávamos que eles fossem (vide
\fnhref{http://www.youtube.com/watch?v=5ThtUMN39K8}{Dilma} e
\fnhref{http://outrorisco.wordpress.com/2012/07/10/a-greve-o-feijao-e-o-sonho-por-aloizio-mercadante-oliva/}{Mercadante}).

Ao invés de ficarmos discutindo o porquê disto vou enunciar o
seguinte, como uma premissa ou um fato,

\begin{quotation}
  {\it A estrutura de governo atual, e o sistema eleitoral atual,
  fazem com que só tecnocratas e aliançocratas possam chegar a
  posições importantes.}
\end{quotation}

\noindent e vamos discutir como lidar com isto, já que mudar esta
estrutura não será algo rápido.


% --------------------
% ** «greve-impossivel»  (to ".greve-impossivel")
% (sec "A greve aparentemente impossível" "greve-impossivel")
\mysection {A greve aparentemente impossível} {greve-impossivel}

Um governo de tecnocratas e aliançocratas não tem como fazer os
"investimentos não-financeiros'' - na verdade só ``menos financeiros'' -
necessários para a melhora das condi\-ções de trabalho e estudo, que
são (na minha opinião!) a parte mais importante das reivindicações dos
professores, alunos e técnicos... mas um governo tem poderes e, em
certo sentido, responsabilidades; um governo completamente
disfuncional tem só poderes e a age como dono (irresponsável) do
país...

{\catcode`\_=11

{\it Esta greve não tem como funcionar}, mas ao mesmo tempo {\it não
  podemos deixar a situação correr como está}, isto é, com o ensino
superior, {\it sob nossa responsabilidade}, se desmantelando a olhos
vistos; então a greve é urgente, tão ``definitiva'' quanto a
``\fnhref{http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed703_o_jornalismo_cego_as_armadilhas_do_discurso_oficial}{proposta
  definitiva}'' do governo, e o nosso objetivo real nesta greve é {\it
  descobrir algum modo de fazer a greve que ``funcione''}! Uma visão
pequena desta greve - como um embate entre um sindicato e um governo,
principalmente por reajustes salariais - não faz sentido, mas uma
visão maior, na qual a greve nas universidades federais brasileiras é
um pedaço de (uma tendência a) uma greve geral no Brasil e um
pedacinho de um movimento mundial, isto faz sentido sim. Há
relativamente pouco material em Português sobre este movimento mundial
- eu gosto do texto do Vladimir Safatle na seção \ref{safatle} como
uma boa introdução curta - e, como eu já mencionei na seção
\ref{como-se-propagam}, eu considero que quem está nas universidades,
por ter mais prática com certas habilidades específicas, tem também
certas res\-pon\-sa\-bi\-li\-dades, e deve assumir o papel
correspondente a estas habilidades. Como está super bem dito no item
\#2 do
\fnhref{http://www.cracked.com/blog/6-things-rich-people-need-to-stop-saying/}{6
  Things Rich People Need to Stop Saying}, ``eu estou pedindo pra você
pegar coisas na prateleira de cima porque você é mais alto, não porque
eu sou mau"!...

}


% --------------------
% ** «votou-agora-aguenta»  (to ".votou-agora-aguenta")
% (sec "Votou na Dilma, agora aguenta" "votou-agora-aguenta")
\mysection {Votou na Dilma, agora aguenta} {votou-agora-aguenta}

\index{voto}

É frequente as pessoas comuns ficarem se culpando umas às outras: ``a
culpa é sua, você votou na Dilma''! Ora, eu não votei nesta Dilma
atual, votei na que eu vi nos debates - e num momento em que só haviam
duas opções, e a outra era o Serra... 

Será que todo mundo é obrigado a adivinhar no que cada candidato vai
se transformar?

Como a resposta ``{\it não}'' é sem graça, digamos que {\it sim}.

Será que é melhor votar num candidato que começa bom mas que vai
estragar e virar um monstro? Ou será que é melhor votar no que já
começa um monstro - e que depois pode até virar rapidamente um monstro
ainda pior? Será que é muito ridículo a gente ter uma esperança, votar
numa aposta - e depois a gente se decepcionar?

Qual é o melhor uso pro nosso voto e pra nossa energia?

Quando ampliamos o diagrama da seção \ref{diagrama-da-greve} vimos que
as reivindicações dos professores são uma tentativa de concretizar o
desejo de educação de qualidade da população em geral; assumindo um
tom um pouco mecanicista por um momento, {\it professores que se
sentem responsáveis por uma educação de qualidade são impelidos à
greve}. Mas - vamos tentar entender o que acontece de correspondente
na bola ``Governo'' - o que é que impele o governo a agir como age?
Quais são as pressões que quem está no governo sofre? Se entendermos
estas pressões entenderemos o que é que faz com que mesmo os
candidatos idealistas mais lúcidos e íntegros estraguem quando chegam
ao poder.

[Citar o ``Opção Brasileira'' - as notícias reduzidas a números - o
lado ``macroeconômico'' do Brasil é tão grande que as pressões da
população civil se tornam ínfimas em comparação]

Como alguém no governo pensa - e decide para quais pressões dar
prioridade? Acho que o pensamento tende a ser quantitativo: pensa-se
em termos de custos - financeiros, políticos, para si mesmo, para o
partido, para um grupo de lobistas ou aliados, para a população, a
curto prazo, a médio prazo, a longo prazo - e acho que vale a pena a
gente pensar em termos de custos também.

A população vê a greve como {\sl desperdício}.





% --------------------
% ** «desperdicios»  (to ".desperdicios")
% (sec "Desperdícios" "desperdicios")
\mysection {Desperdícios} {desperdicios}

Acho que uma idéia que {\it deveria} ser central na discussão sobre
quanto os professores devem ganhar e o quanto se deve investir na
educação é a idéia de {\it desperdício}. Posso começar mencionando
brevemente algumas conexões:

\begin{itemize}

\item O dinheiro que já está sendo investido em educação está sendo
  desperdiçado? Como?

\item Se houverem mais investimentos em educação este dinheiro vai ser
  desperdiçado? Por exemplo, será que ele irá todo para a construção
  de prédios faraônicos que não serão bem utilizados, para a
  corrupção, e para a manu\-ten\-ção de uma casta de pesquisadores
  ``top" que aparecem como co-autores de todos os artigos publicados
  por seus grupos de pesquisa mas que perderam o contato com a
  realidade - e que acreditam que qualquer coisa que fizerem ou
  disserem é ``pesquisa de ponta"?

\item Muitos dos doutores formados nos últimos anos - e muitos destes
  aprenderam a fazer pesquisas brilhantes apesar de term pouquíssimos
  recursos, já que tiveram bolsas de estudo muito menores que as de
  dez anos antes - agora são professores nos {\it campi} do interior,
  e têm que lidar com uma sobrecarga de trabalho: muitas horas em sala
  de aula, turmas grandes e formadas por alunos que saíram do ensino
  médio sem saberem escrever bem o suficiente; obrigação de assumirem
  cargos administrativos além das suas tarefas de
  ensino/pesquisa/extensão, expectativa de que produzam coisas que
  lhes valham muitas linhas nos seus currículos Lattes. Será que o
  investimento feito na formação destes professores está sendo
  desperdiçado? Ou será que isto é natural - como estes professores
  não passaram pela peneira que só deixa os melhores passarem para os
  grandes centros é porque estes do interior são incompetentes, e
  merecem as condições de trabalho que têm?

\item Será que o tempo e o investimento dos alunos que passam para as
  universidades brasileiras hoje em dia está sendo desperdiçado?

\item As regras dos funcionalismo público brasileiro dão a professores
  que já terminaram o estágio probatório (de 3 anos) bastante
  estabilidade. Mesmo em países desenvolvidos, que têm algo
  correspondente (``{\it tenure}''), os prós e contras desta
  estabilidade são discutidos. As condições atuais na maioria das
  universidades brasileiras expõem estes professores a um risco de
  burn-out muito grande.

\item Será que estamos discutindo greves, relações de poder e relações
  de trabalho dos modos certos? Ou será que estamos só repetindo
  fórmulas antigas que perderam a pertinência? Continuamos à mercê de
  pessoas com discursos produtivistas e de pessoas que acham que
  qualquer passo fora do nosso quadradinho é uma desculpa pra não
  trabalhar, e é inveja, fofoca, é se meter na vida dos outros e ser
  anti-profissional...

\end{itemize}

% [P (...) apesar de que temos o hábito de comparar dados numéricos do
% Brasil com os de outros países, são relativamente raras as
% comparações entre certos {\it modos de funcionar] brasileiros e os
% de outros países. Vou desenvolver isto na próxima seção.]

% [P (Algumas pessoas reagem às notícias da greve com o discurso do "vai
% trabalhar, vagabundo"...)]




% --------------------
% ** «burn-out»  (to ".burn-out")
% (sec "Burn-out, desistência e depressão" "burn-out")
\mysection {Burn-out, desistência e depressão} {burn-out}

Num encontro que reuniu professores dos vários campi (precarizados)
da UFF no interior do estado do RJ, para discutirem seus problemas e
possíveis soluções, um professor de \Index{Angra dos Reis}
disse uma coisa corajosa e genial: que no campus dele, que funciona no
prédio de uma escola pública, (aproximadamente) 25\% dos
professores se mudaram de mala e cuia pra
Angra\footnote{Correção: os que se mudaram de mala e cuia são
só 4\%, aproximadamente (Andréa Pavão)}; outros 50\% passam
só alguns dias por semana em Angra, mas, como os primeiros 25\%,
conseguem se virar bem com a falta de infra-estrutura do campus e da
cidade e conseguem dar aulas bem e fazer pesquisa; os outros 25\%
não conseguem lidar direito com a situação do campus, ficam
esmagados pelos problemas, dão a carga horária mínima de
aulas mas não conseguem assumir tarefas extras, suas aulas são
mais ou menos, sua pesquisa pouca ou inexistente.


$$\includegraphics[scale=0.5]{25-50-25.pdf}$$

% \vskip 3cm

Não acho que seja possível eliminar completamente esta
fração de 25\% de ``\Index{improdutivos}'' - mas há vários
modo de tentar reduzí-la.

Um modo - que eu associo com o ``discurso majoritário'' atual - é
punindo estes 25\%, talvez até demitindo-os; e as punições seriam
determinadas ou pelos professores em cargos de direção, ou pelos
colegiados de curso, ou por todos os professores, ou por gestores
profissionais, ou por regras absolutas que medem a produtividade de
cada um de forma homogênea no país inteiro. Cada uma destas
alternativas para estabelecer punições é péssima; os argumentos são
bem conhecidos e não vou reproduzí-los aqui.

O outro modo é dar mais condições para que estes 75\% que querem
trabalhar bem resolvam os problemas das suas universidades. Quando as
condições de trabalho são ruins e as tentativas de consertá-las não
dão em nada mais gente dos 75\% ``bons'' acaba com burn-out e
depressão e vai parar nos 25\% improdutivos.

Apesar de que as idéias sobre o que está ruim e como consertar podem
vir de todos os professores, alguns professores são mais responsáveis
por pôr estas soluções em prática (e até por criar as condições para
que elas sejam debatidas nas reuniões): os que assumem cargos de
direção e de coordenação de cursos. Estes diretores podem vir dos 75\%
ou dos 25\%, e podem favorecer os 75\% ou os 25\%.

No meu campus um grupo de professores que fazem política ``no mau
sentido'' (alian\-ço\-cratas) tomou um certo número de cargos de
direção, e garantiu uma via permanente de acesso a uma boa fração dos
recursos do campus para os seus aliados... mas isto é a minha visão,
claro - {\it eu vejo eles como vilões} - e na visão deles acho que sou
um baderneiro subversivo, que não respeita regras nem hierarquia e
semeia a fofoca e o caos. Mas a visão deles não é divulgada
publicamente, o que torna o diálogo difícil - quase só sei que pra
eles os professores ``mais produtivos'' são os que têm mais contratos
com empresas. Ou seja, a própria noção de ``produtividade'' deles é
diferente.






% --------------------
% ** «impossivel»  (to ".impossivel")
% (sec "O ``impossível'' do governo" "impossivel")
\mysection {O ``impossível'' do governo} {impossivel}

Duas das disciplinas que eu costumo dar - Geometria Analítica e
Matemática Discreta - são disciplinas de 1º período muito difíceis, e
costumam ter cerca de 80\% de reprovação, porque elas exigem o que a
gente chama de ``maturidade matemática'' - e alunos que cursaram o
ensino médio que temos hoje em dia chegam na universidade sem nunca
terem visto direito um teorema, e não têm como aprender o conteúdo
destas disciplinas num semestre só... Então nós estruturamos estas
disciplinas para que os alunos possam cursá-las 2 ou 3 vezes sem
ficarem nem desanimados nem entediados - mas da primeira vez eles
acham tudo impossível, e acham que nunca vão conseguir pensar e
escrever do jeito que se exige deles.

O governo diz que é ``impossível'' atender as reivindicações dos
professores, e faz propostas com erros primários, que ignoram que
``gastos'' em educação são na verdade investimentos (diz-se que cada
R\$100 investidos na educação viram R\$185 no PIB), e que praticamente
só falam de remuneração e plano de carreira, ignorando as condições de
trabalho - e eu não consigo deixar de associar este ``impossível'' do
governo com o dos alunos dizendo que é ``impossível'' aprender algo
difícil (mas que milhares de pessoas antes deles já aprenderam).

É comum ver em discussões na internet as pessoas dizendo coisas
como ``a solução é na próxima eleição 100 milhões
de pessoas \index{voto} votarem da forma {\it X}'', e uma vez eu
fiquei muito puto com um colega meu - e passei dias procurando uma
resposta - quando ele mandou uma mensagem para a lista de discussão
de Lógica cujo subtexto era ``se você não está satisfeito
com o país em que você está, mude de país''. Ora, trocar o
governo de um país ou trocar de país não são coisas
fáceis como trocar de sabão em pó, que se você não
está satisfeito com o que você está usando você da
próxima vez que for no supermercado compra um de outra marca;
não, tirar um governo incompetente é bem mais difícil que
demitir um professor improdutivo de uma universidade federal
precária - mas tem muita coisa que podemos fazer além de
escolhermos outra marca da próxima vez que formos ao supermercado
das urnas.

{\it (Pôr aqui uma citação do Martin Luther King (?) em que ele mostra
  que a nossa participação ``política'' numa ``democracia'' não se
  restringe ao voto.)}




% --------------------
% ** «esperar-melhoras»  (to ".esperar-melhoras")
% (sec "Esperar melhoras é ingenuidade?" "esperar-melhoras")
\mysection {Esperar melhoras é ingenuidade?} {esperar-melhoras}

{\it Esperar um aumento de salário ou melhores condições de trabalho e
  estudo não é ingênuo?} Ou: {\sl será que não estamos sendo ingênuos
  em achar que uma greve pode melhorar as condições dos professores,
  alunos e técnicos nas universidades federais?} Afinal, o governo já
mostrou que pode fazer o que quiser impunemente - veja os vídeos
\fnhref{http://www.youtube.com/watch?v=091GM9g2jGk}{Belo Monte -
  anúncio de uma guerra} e
\fnhref{http://www.youtube.com/watch?v=YXI6LHGFGxg}{Audiência Pública
  Sobre o Pinheirinho - Defensor Jairo Salvador}... Então porque ele
melhoraria as universidades ao invés de ignorar os professores, ou
puní-los, ou demití-los?

Vamos pensar sob outro ponto de vista. Nós, que estamos escrevendo
este texto, somos professores de universidades federais, dos {\it
  campi} precarizados. Quais são nossas alternativas? Nós podemos:

\begin{itemize}

\item continuar trabalhando dentro das condições de trabalho atuais -
  dando 16 horas de aula por semana para turmas grandes demais e
  feitas de alunos que saíram do ensino médio com muito menos base do
  que deveriam - e além disso podemos fazer pesquisa à beça, orientar
  alunos e ainda assumirmos cargos de coordenação e de direção... ou
  podemos:

\item lutar pra mudar as nossas condições de trabalho.

\end{itemize}

Um dos objetivos deste texto é mostrar que as duas alternativas acima
não são excludentes; aliás, é inerente à condição de professor
universitário fazer três coisas ao mesmo tempo:

\begin{itemize}

\item encontrar o melhor modo de de ensinar, pesquisar, etc, dentro
  das condições atuais,

\item encontrar o melhor modo de mudar as condições atuais,

\item decidir, a cada momento, quanta energia dedicar a funcionar
  dentro das condições atuais e quanta energia dedicar a mudá-las.

\end{itemize}

Talvez a palavra ``lutar'', em ``lutar por melhores condições'', tenha
adqui\-rido uma conotação muito estrita, de algo incompatível com o
trabalho e a vida cotidiana normal - ``luta'' sugere ``luta armada'',
ou pessoas em greve na rua, gritando com punhos erguidos; como
apontado
\fnhreft{http://empresasjuniores.com.br/site/item/198-panorama-abril-acontecenomej}{:
  ``Tempos Atuais. Os pensamentos mudaram. Já não temos mais ditadura
  militar ou não precisamos mais lutar pela democracia no país. Já
  fizeram isso por nós. Agora é momento de ver o Brasil crescer, de se
  desenvolver.''}{aqui} e na seção \ref{safatle} é como se hoje em dia
isto não fizesse mais sentido, e só o que faz sentido é tentarmos ser
os mais {\it eficientes} e {\it produtivos} possíveis... Mas toda vez
que nos impomos uma tarefa e temos alguma autonomia para decidir como
realizá-la uma parte do nosso trabalho consiste em {\it mudar as
  condições em torno de nós}. (...)



% --------------------
% ** «filtros»  (to ".filtros")
% (sec "Filtros" "filtros")
\mysection {Filtros} {filtros}

Os filtros que fazem com que poucos tipos de fatos possam aparecer
como notícias em jornais são bem conhecidos. Uma série parecida de
filtros age entre o ``mundo real'' e qualquer pessoa no governo,
fazendo com que quem chega ao governo passe a ter uma percepção cada
vez mais distorcida da realidade; e uma outra série de filtros atua
entre o que alguém no governo consegue planejar e o que essa pessoa
consegue que seja executado...

$$\includegraphics[scale=0.6]{filtros.pdf}$$

\noindent ...e há outros filtros que fazem com que só
uns poucos {\sl tipos} de pessoas possam chegar a cargos eletivos no
governo - um aliançocrata hábil consegue facilmente apoio para fazer
uma campanha milionária, e alguém que incomoda a mídia pode ter sua
imagem pública destruída muito facilmente a partir de qualquer detalhe
esquisito da sua vida privada.

{\it Não podemos esperar que alguém super-competente consiga ser
eleito e nos salve.} Aliás, pense em como é difícil alguém muito
íntegro chegar a ser candidato, conseguir fazer campanha na mídia,
conseguir ser eleito, e não ser neutralizado pelas forças
aliançocratas e tecnocratas uma vez que chegue ao poder. Talvez na
situação atual só alguém íntegro sobre-humano conseguiria virar
governador, presidente, ou ministro, e fazer algo decente ao chegar ao
poder - e antes de enlouquecer e estragar. O que podemos fazer? Uma
resposta: mudar a sociedade civil...

\msk

Passando para uma escala bem menor, podemos pensar em quais são as
pessoas que chegam a cargos de chefia, direção, coordenação, gerência,
etc; estas pessoas vão ser responsáveis por boa parte das condições de
trabalho das outras - tanto as condições ``concretas'' como as
``psicológicas'', e tanto no setor público quanto no privado...

Aqui prefiro descrever um caso específico.

[Acabei transferindo o caso específico pra
seção \ref{reestruturacao}.]

% (to "reestruturacao")

% Aqui é melhor começar com um caso específico.





% --------------------
% ** «abandonados»  (to ".abandonados")
% (sec "Espaços democráticos abandonados" "abandonados")
\mysection {Espaços democráticos abandonados} {abandonados}

Alguns meses depois de eu entrar no PURO um dos nossos containers teve
um princípio de incêndio no quadro elétrico durante uma aula - e o
quadro elétrico era do lado da porta, e aí descobriram todos os nossos
\Index{extintores de incêndio} estavam com a validade vencida e ficavam
guardados dentro de um dos containers-depósito... Mas, bom, por
sorte um professor nosso, o Oswaldo Del Cima, era especialista em
emergências, e deu um jeito de salvar todo mundo, não me lembro
como. Nos dias seguintes descobrimos que a nossa rede elétrica
estava subdimensionada, e esse problema, e as possíveis atitudes a
se tomar, foram discutidos por {\it todo mundo} em várias
reuniões. Claro que só um pequeno grupo participou da
comissão que falou com os eletricistas, checou a legislação e
resumiu tudo para os demais, mas todo mundo se sentiu parcialmente
responsável pela decisões mais importantes - por exemplo, a de
{\sl não chamar} os bombeiros para uma análise de riscos, porque
eles certamente interditariam o nosso prédio por pelo menos alguns
dias - e ao invés disso nós paramos de usar os aparelhos de ar
condicionado até uma solução paliativa ficar pronta.

\msk

Um slogan que eu quero usar aqui é:

  \begin{quote}
  {\it Discussão gera responsabilidade.}
  \end{quote}

Um tema recorrente durante a greve era quem \index{voto} votava se a
greve deveria continuar ou não. Um grupo defendia que só
votassem os professores que fossem nas assembléias - e um outro
grupo dizia que muitos professores não gostavam das assembléias,
porque elas eram dominadas por sindicalistas comunistas manipuladores
antipáticos, e que pra sermos ``realmente democráticos'' e
``todo mundo ter voz'' deveríamos fazer plebiscitos eletrônicos
- ou seja, votação por e-mail, e acho que estava implícito
que seria secreta, porque esta proposta gerou discussões enormes
sobre possibilidades de fraudes... se fizessem uma listagem
pública, nacional, com cada professor votante, seu departamento e
seu voto, seria fácil conferir cada possível fraude.

É óbvio que o ideal é que todo mundo ``tenha voz'' - e vote. Mas e se
o modo ``óbvio'' de fazer com que todo mundo vote - fazendo com que
votar por internet seja muito fácil e não atrapalhe a vida de ninguém
- faz com que... o quê? Vou introduzir mais termos improvisados:
``voto irresponsável'' e ``votocracia'' - pra falar das situações em
que acreditamos que basta algo ter sido votado - mesmo que os votantes
tenham pouquíssima informação sobre o que está em jogo - pra este algo
ser visto como certo, sagrado, imutável, e o melhor possível. Então:
como podemos pensar em alternativas à votocracia - sem sermos
imediatamente tachados de anti-democratas?


% --------------------
% ** «votocracia»  (to ".votocracia")
% (sec "Votocracia: porquê e porquê não" "votocracia")
\mysection {Votocracia: porquê e porquê não} {votocracia}

\index{voto}

{\it Quais são as vantagens de algo ser decidido por uma
votação? Quais destas vantagens podem não estar sendo
atingidas pelas votações atuais? Porque eu vejo as votocracias
mais próximas de mim como navios à deriva?}

Pra mim a vantagem principal - de casos como o das decisões sobre a
rede elétrica do PURO - é fazer que as decisões sejam tomadas por
pessoas que se informaram, discutiram, pensaram nas conseqüências, e
que vão se sentir responsáveis pelo que for decidido, vão dar a cara a
tapa quando virem as conseqüências ruins, e vão tentar consertá-las
ativamente, com ``pequenas mudanças de rota'' - ao invés de deixarem o
navio bater contra os rochedos pra só eleger um outro daí a 4 anos...

Em qualquer processo de decisão coletiva existe um contínuo entre as
pessoas que ``participam ativamente'' e as que ``participam
passivamente'', só votando sem grande envolvimento ou participação
posterior. Eu ando atribuindo a culpa de muitos dos males em torno de
mim no fato de muitas pessoas não fazerem a menor idéia de como
participarem ativamente, e se limitarem a votar quase que
aleatoriamente e deixarem o barco afundar.

O exemplo mais próximo de mim é dos democratas versus republicanos no
PURO. 

(...)


% --------------------
% ** «apoios»  (to ".apoios")
% (sec "Apoios mudam" "apoios")
\mysection {Apoios mudam} {apoios}

Apoiar uma {\it pessoa} é uma simplificação - não podemos nos obrigar
a continuar apoiando eternamente alguém que depois de eleito
enlouqueceu e estragou, e aposto que se o Mercadante mudasse da água
de esgoto pro vinho e passasse a tomar todas as decisões certas ele
certamente viraria nosso herói e passaríamos a amá-lo...

Também não dá pra continuar apoiando incondicionalmente e sem ajustes
uma idéia que parecia ótima na teoria, mas que quando aplicada revela
ter defeitos horríveis... e, da mesma forma que estamos sempre
filtrando quais pedaços de pessoas e de idéias externas nós vamos
apoiar e quais não -

[Idem pra partes da gente - é comum a gente notar que algo que a
gente fez com a melhor das boas intenções teve
conseqüências totalmente diferentes das que a gente previa - e
às vezes o conserto é muito, muito difícil. Então: a gente
também não pode {\sl se} apoiar incondicionalmente, apesar do
que os livros de auto-ajuda dizem - porque é um inferno conviver
com pessoas que acreditam nessa obrigação de apoio
incondicional, e saem chorando quando algum faz críticas
básicas, ao invés de cogitarem mudar de posição...]

A situação em que estamos agora - em que as pessoas em posições de
poder se tornaram reféns das alianças que tiveram que fazer, e quase
tudo de melhor e mais honesto que elas poderiam dizer não pode ser
dito, porque é perigoso, porque vai ser mal interpretado - é MUITO
difícil.

O Facebook e as ruas estão cheios de pessoas que dizem ``é só todo
mundo fazer X'' - e com isto propõem soluções simples e
inimplementáveis, que no mínimo precisariam de {\it muitos} ajustes -
e mais cheios ainda de pessoas que não conseguem pegar idéias simples
e pensar em como ajustá-las pra elas ser tornarem mais concretizáveis,
e daí ficam com um discurso de que nada adianta - talvez pra não se
sentirem ingênuas - meio como na seção \ref{discurso-majoritario}.



% --------------------
% ** «contos-de-fadas»  (to ".contos-de-fadas")
% (sec "Contos de fadas" "contos-de-fadas")
\mysection {Contos de fadas} {contos-de-fadas}

{\it Acho que a gente tem que se permitir lembrar dos contos de fadas
em que um reino, ou uma princesa, estão doentes, e um príncipe sai em
peregrinação pelo mundo pra tentar entender essa doença e encontrar um
remédio.}

\msk

``Peregrinar pelo mundo'' na situação atual quer dizer procurar novas
idéias, não tão óbvias. E muitas das idéias pouco óbvias de hoje em
dia estão escritas, mesmo que de modo informal, em algum lugar - e
muitas vezes há pelo menos algum resumo delas disponível na internet,
num blog ou numa webpage, com indicações de modos de se conseguir mais
material relacionado e de entrar em contato com os autores.

As pessoas que dizem ``não vamos participar de assembléias
porque elas são manipuladas'' nem sequer ``peregrinaram'' o
mínimo pela internet para descobrirem que muita gente, desde 2500
anos atrás\footnote{Moses Finley: ``Democracia antiga e moderna'',
ed.\ Graal, 1998.}, sabe que processos coletivos de decisão são
frágeis sim, e precisam de atenção e cuidados permanentes,
porque podem ser manipulados não só voluntariamente quanto
também involuntariamente, e até por pessoas com ótimas
intenções... e hoje em dia muita gente está muito incomodada
com as conseqüências desta epidemia de ``cada um no seu
quadradinho'' - as decisões mais importantes são tomadas por
``especialistas'' que na verdade são tecnocratas, ou
por \index{voto!comissões de 3 ou 4} votações em comissões
de 3 ou 4 pessoas - mas fazer publicações independentes é
relativamente fácil, então há vários livros\footnote{Por
exemplo: ``Come Hell or High Water - A Handbook of Collective Process
Gone Awry'' -
\url{http://www.akpress.org/comehellorhighwater.html}} escritos por
pessoas que trabalharam em coletivos durante décadas, e que analisam
como identificar e consertar os problemas dos coletivos
degringolados...

Agora imagine o seguinte: a pessoa $A$ acha que nada coletivo funciona
e acha que cada um tem que ficar no seu quadrado e cuidar só do seu
nariz; a pessoa $B$ acredita em decisões coletivas, e existe uma pilha
de livros (longos), textos (médios), panfletos (curtos), e argumentos
(sínteses, mais curtos ainda), que vamos chamar de $C$, que é um
``corpo de conhecimentos sobre processos coletivos''. A pessoa $A$
pode começar negando a existência das idéias em $C$, mas se pessoas
suficientes passam a ter algum contato com $C$ a pessoa $A$ vai aos
poucos passar a ser {\sl responsabilizada} por ter resolvido, {\sl
deliberadamente}, se negar a reconhecer qualquer das idéias em $C$...



% --------------------
% ** «chomsky»  (to ".chomsky")
% (sec "Conseqüências previsíveis" "chomsky")
\mysection {Conseqüências previsíveis} {chomsky}

% Obs: o documentário "Manufacturing Consent: Noam Chomsky and the
% Media" nunca foi lançado oficialmente no Brasil, e legendas em
% Português pra ele são extremamente difíceis de conseguir...
% Lá fora ele é muito conhecido, e está disponível de
% forma mais ou menos "livre" em vários formatos:
%
%  (acrescentar links)
%
% Ele foi exibido pela TVE, legendado e em três partes, no
% início da década de 2000, e alguns grupos de pessoas que
% distribuem DVDs de documentários importantes (como "samizdat")
% disponibilizam uma versão digitalizada de uma gravação em
% VHS desta versão legendada... Não há nenhum modo
% automático de extrair estas legendas, mas eu digitei, NA MÃO,
% as legendas em português de uma das partes que eu gostaria de ter
% usado como material de debate numa atividade de greve que nunca
% aconteceu... Essa parte em Português que eu digitei está mais
% abaixo.
%
% Uma das seções do "Saia do seu quadradinho" - "Consequencias
% previsíveis" - tem as legendas em Inglês de um trecho do
% documentário (bem maior do que a parte em Português que eu
% digitei).

Um trecho do documentário {\sl Manufacturing Consent: Noam Chomsky and
the Media} (o negrito é meu):

\index{Chomsky, Noam}

\begin{quote}

MEYER: Professor Chomsky and many people
who engage in this kind of press analysis
have one thing in common - most of them
have never worked for a newspaper,
many of them know very little
about how newspapers work.

When Chomsky came around, he had with him
a file of all the coverage
in The New York Times, The Washington Post,
and other papers of East Timor,
and he would go to the meticulous degree
that if, for example, The London Times
had a piece on East Timor,
and then it appeared in The New York Times,
that if a paragraph was cut out,
he'd compare, and he'd say,
``Look - this key paragraph right near the end
which is what tells the whole story
was let out
of The New York Times' version
of the London Times' thing.''

CHOMSKY: There was a story in The London
Times which was pretty accurate.
The New York Times revised it radically.
They didn't just leave a paragraph out.
They revised it,
and gave it a totally different cast.
It was then picked up by Newsweek,
giving it The New York Times' cast.
It ended up being a whitewash,
whereas the original was an atrocity story.

MEYER: So, I said to Chomsky at the time,
``Well, it may be that you're misinterpreting
ignorance, haste, deadline pressure, etcetera,
for some kind of determined effort
to suppress an element of the story.''
He said, ``Well, if it happened once,
or twice, or three times
I might agree with you,
but if it happens a dozen times,
Mr Meyer,
I think there's something else at work''.

CHOMSKY: It's not a matter of happening one time,
two, five, a hundred. It happened all the time.

MEYER: I said, ``Professor Chomsky, having been
in this business, it happens a dozen times.
These are very imperfect institutions''.

CHOMSKY: When they did give coverage,
it was from the point of view of...
it was a whitewash of the United States.
Now, you know, that's not an error.
That's systematic, consistent behaviour,
in this case without even any exception.
This is a much more subtle process
than you get
in the kind of sledgehammer rhetoric
of the people that make an A to B equation
between what the government does,
what people think, and what newspapers say.
That
that sometimes what The Times does
can make an enormous difference.
At other times, it has no influence whatsoever.

So one of the greatest tragedies of our age
is still happening in East Timor.
The Indonesians have killed
up to a third of the population.
They're in concentration camps.
They conduct large-scale military campaigns
against the people who are resisting,
campaigns with names like Operation
Eradicate,
or Operation Clean Sweep.
Timorese women are subjected
to a forced birth control programme,
in addition to bringing in a constant stream
of Indonesian settlers to take over the land.
Whenever people are brave enough
to take to the streets in demonstrations
or show the least sign of resistance,
they just massacre them.
It's sort of like Indonesia, if we allow them
to continue to stay in East Timor -
the international community -
they will simply digest East Timor
and turn it into...
they're trying to turn it into cash crop.
I mean, this is way beyond just demonstrating
this subservience of the media to power.
I mean, they have real complicity in genocide
in this case.
The reason that the atrocities can go on
is because nobody knows about them.
If anyone knew about them,
there'd be protests and pressure to stop them.
So therefore, by suppressing the facts,
the media are making a major contribution
to some of... probably the worst act of genocide
since the Holocaust.

FRUM: You say that what the media do is to
ignore certain kinds of atrocities
that are committed by us and our friends,
and to play up enormously atrocities
that are committed by them and our enemies.
And you posit that
there's a test of integrity and moral honesty
which is to have
%
% (find-chomskyleg "1:31:08" "tratar os cadáveres de forma igualitária.")
%
a kind of equality of treatment of corpses.
I mean, every dead person should be in
principle equal to every other dead person.

% (find-chomskyleg "1:31:15" "Não foi isso que eu disse.")

CHOMKSY: That's not what I say.

FRUM: I'm glad it's not, because it's not what you do.

CHOMSKY: Of course it's not what I do.
Nor would I say it. In fact, I say the opposite.
%
% (find-chomskyleg "1:31:28" "Afirmo que devemos")
%
What I say is we should be
responsible for our own actions primarily.

FRUM: Because your method is not only
to ignore the corpses created by them,
but also to ignore corpses
that are created by neither side,
%
% (find-chomskyleg "1:31:36" "que não são importantes para as suas prioridades ideológicas.")
%
that are irrelevant to your ideological agenda.

CHOMSKY: That's totally untrue.

FRUM: Let me give you an example.
%
% (find-chomskyleg "1:31:44" "Você leva a sério a causa dos palestinos.")
%
Um... one of your own causes that you take very
seriously is the cause of the Palestinians.
And a Palestinian corpse
weighs very heavily on your conscience,
and yet a Kurdish corpse does not.

% (find-chomskyleg "1:31:53" "Não é verdade.")

CHOMSKY: That's not true at all. I've been involved
in Kurdish support groups for years.
That's... It's simply false.
Just ask the Kurdish.
%
% (find-chomskyleg "1:32:01" "Pergunte às pessoas envolvidas.")
%
Ask the people who are involved in...
You know, they come to me,
I sign their petitions, and so on and so forth.
If you look at the things we've written.
Let's take a look...
%
% (find-chomskyleg "1:32:09" "Eu não sou a Anistia Internacional.")
%
I'm not Amnesty International.
I can't do everything.
I'm a single human person.
But if you read... Take a look, say, at the book
%
% (find-chomskyleg "1:32:18" "o livro que escrevi com Edward Hermann sobre este assunto.")
%
that Edward Herman and I wrote on this topic.
In it we discuss three kinds of atrocities -
%
% (find-chomskyleg "1:32:26" "As que podem ser denominadas banhos de sangue benignos,")
%
what we call {\sl benign bloodbaths},
which nobody cares about,
{\sl constructive bloodbaths},
which are the ones we like,
and {\sl nefarious bloodbaths},
%
% (find-chomskyleg "1:32:34" "praticados pelos bandidos.")
%
which are the ones the bad guys do.
The principle that I think we ought to follow
is not the one that you stated.
%
% (find-chomskyleg "1:32:41" "é um ponto ético simples.")
%
You know, it's a very simple, ethical point.
{\bf You're responsible for
%
% (find-chomskyleg "1:32:49" "das nossas ações. E não responsáveis...")
%
the predictable consequences of your actions.}
You're not responsible for the predictable
consequences of somebody else's actions.
The most important thing for me and for you
is to think about
%
% (find-chomskyleg "1:32:57" "avaliar as conseqüências das ações...")
%
the consequences of your actions.
What can you affect?
These are the things to keep in mind.
%
% (find-chomskyleg "1:32:58" "Essas coisas não são exercícios acadêmicos.")
%
These are not just academic exercises.
%
% (find-chomskyleg "1:33:06" "em Marte ou no século 18.")
%
We're not analysing the media on Mars,
or in the 18th Century, or something like that.
We're dealing with real human beings who are
%
% (find-chomskyleg "1:33:15" "sendo torturados e mortos")
%
suffering, and dying, and being tortured,
and starving because of policies
that we are involved in.
We as citizens of democratic societies
%
% (find-chomskyleg "1:33:22" "estamos diretamente envolvidos e pelas quais responsáveis.")
%
are directly involved in and are responsible for,
and what the media are doing is ensuring
that we do not act on our responsibilities,
%
% (find-chomskyleg "1:33:30" "e não os interesses")
%
and that the interests of power are served,
not the needs of the suffering people,
and not even the needs of the American people
%
% (find-chomskyleg "1:33:39" "esse ficaria horrorizado se percebesse")
%
who would be horrified
if they realised
the blood that's dripping from their hands
because of the way they're allowing themselves
%
% (find-chomskyleg "1:33:47" "devido à forma como é utilizado e manipulado pelo sistema.")
%
to be deluded and manipulated by the system.

\msk

MEMBER OF THE AUDIENCE: What about the Third World?

CHOMSKY: Well, despite everything,
and it's pretty ugly and awful,
these struggles are not over.
The struggle for freedom and independence
never is completely over.
Their courage, in fact, is really remarkable.
Amazing.
I've personally had the privilege,
and it is a privilege, of witnessing it a few times,
in villages in Southeast Asia
and Central America,
and recently in the occupied West Bank,
and it is astonishing to see.
And it's always amazing -
at least to me it's amazing.
I can't understand it.
It's also very moving and inspiring.
In fact, it's kind of awe-inspiring.
Now, they rely very crucially
on a very slim margin for survival
that's provided by dissidence and turbulence
within the imperial societies,
and how large that margin is
is for us to determine.

\end{quote}

Uma das funções da Educação - e da Cultura, aliás - é dar mais
ferramentas para que as pessoas possam avalias as ``conseqüências
previsíveis'' dos seus atos.

[Hannah Arendt e os pequenos Eichmanns]

% (find-chomskyleg "1:30:20" "É muito mais que simples subserviência da mídia.")

% (setq last-kbd-macro (kbd "C-a 20*<right> C-SPC 7*<right> M-w 7*<left> <down> C-y 7*<delete>"))


% (find-chomskyleg "1:32:40" "O princípio que devemos seguir é um ponto ético simples")
% (find-chomskyleg "1:32:40" "somos responsáveis pelas conseqüências [previsíveis]")
% (find-chomskyleg "1:32:49" "das nossas ações, e não responsáveis")
% (find-chomskyleg "1:32:49" "pelas conseqüências das ações dos outros.")
% (find-chomskyleg "1:32:49" "Para mim e para você, é mais importante...")
% (find-chomskyleg "1:32:57" "avaliar as conseqüências das ações...")
% (find-chomskyleg "1:33:01" "que podemos influenciar.")
% (find-chomskyleg "1:33:01" "Essas coisas não são...")
% (find-chomskyleg "1:32:01" "exercícios acadêmicos. Não se trata da mídia...")
% (find-chomskyleg "1:33:06" "em Marte ou no século 18.")
% (find-chomskyleg "1:33:06" "Estamos lidando...")
% (find-chomskyleg "1:33:06" "com seres humanos reais, que estão sofrendo...")
% (find-chomskyleg "1:33:15" "sendo torturados e mortos devido às políticas em que nós...")
% (find-chomskyleg "1:33:15" "cidadãos de sociedades democráticas...")
% (find-chomskyleg "1:33:22" "estaos diretamente envolvidos e pelas quais somos responsáveis.")
% (find-chomskyleg "1:33:22" "A mídia está evitando que assumamos...")
% (find-chomskyleg "1:33:31" "as nossas responsabilidades para que sejam atendidos...")
% (find-chomskyleg "1:33:31" "os interesses do poder e não os interesses das pessoas...")
% (find-chomskyleg "1:33:39" "que estão sofrendo ou do próprio povo americano.")
% (find-chomskyleg "1:33:39" "Esse ficaria horrorizado se percebesse...")
% (find-chomskyleg "1:33:39" "que tem as mãos sujas de sangue...")
% (find-chomskyleg "1:33:39" "devido à forma como é utilizado e manipulado pelo sistema.")

% (find-anggfile "VIDEOS/mc.srt" "predictable")


% que têm a autoridade mas não têm responsabilidade

% uma ``solução'' fácil é dizer: discutir não adianta, pensar não
% adianta, é melhor cada um só se concentrar no seu trabalho.

% somos responsáveis pelas consequencias previsiveis dos nossos atos

% aqui eu me permito ir um passo além da posição do Chomksy. Acho que
% muitos dos nosso líderes/gestores que estão tomando decisões
% destrutivas estão agindo de boa fé {\sl sim} - mas eles ainda não
% conseguem ver claramente as conseqüência das suas gestões
% tecnocráticas e aliançocráticas, e não conseguem ver que outros
% tipos de gestões são possíveis. É aí que entra a educação

% as pessoas que estão decidindo



% Oi André,
% 
% desculpa, não fui claro - eu uso essas discussões pra tentar
% esclarecer as minhas próprias idéias, e só depois da resposta da outra
% pessoa é que eu vejo que no que eu falei a ênfase ficou toda no lugar
% errado, e o que eu considerava central ficou praticamente escondido...
% 
% Pra mim o ponto central é como fazer que as decisões sejam tomadas por
% pessoas que se informaram, discutiram, pensaram nas conseqüências, vão
% se sentir responsáveis pelo que for decidido, vão dar a cara a tapa
% quando virem as conseqüências ruins, e vão tentar consertá-las
% ativamente, com "pequenas mudanças de rota" - ao invés de deixarem o
% navio bater contra os rochedos pra só eleger um outro daí a 4 anos...
% 
% Existe um contínuo entre as pessoas que "participam ativamente" - as
% que eu esbocei acima - e as que "participam passivamente", só votando
% sem grande envolvimento ou participação posterior. Eu ando pondo a
% culpa de muitos dos males em torno de mim no fato de muitas pessoas
% não fazerem a menor idéia de como participarem ativamente, e se
% limitarem a votar quase que aleatoriamente e deixarem o barco afundar.
% 
% Ah, as questões sindicais são de uma categoria sim, mas acho que o
% único modo de melhorarmos um pouco os problemas da universidade é
% vermos estas questões como parte de algo maior, não reduzindo-as a
% algo pequeno e técnico - e pra mim a principal dificuldade nesta
% negociação com o governo é que este governo não tem como encarar os
% problemas da educação como algo maior que questões técnicas e
% orçamentárias. Então - assumo que a minha posição é atípica, mas lá
% vai - o sindicato tenta negociar com o governo tentando usar uma
% linguagem que o governo entenda, mas a greve e o sindicato estão sendo
% apoiados por uma multidão de professores que já tinha perdido há muito
% tempo a fé em sindicatos e em política no sentido usual - uma multidão
% de "independentes", que até entendem porque salário e carreira viraram
% os primeiros pontos da pauta de reivindicações, mas pros quais as
% _condições de trabalho_ são tão importantes quanto salário e carreira,
% ou mais... e como fazer o governo discutir condições de trabalho? Isto
% é um problema aparentemente impossível, mas que a gente sabe que vai
% ter que ser resolvido de alguma forma... no mínimo queremos sentir que
% algum passo adiante nesta direção foi dado.
% 
%   [[]], Eduardo


% --------------------
% ** «contagio»  (to ".contagio")
% (sec "Contágio" "contagio")
\mysection {Contágio} {contagio}

Acho que devemos partir do princípio de que nossas atitudes e idéias
tendem a contagiar as pessoas ao nosso redor, mas algo como ``falar de
problemas atrai mais problemas'' é simplista demais; neste caso acho
mais realista que ``pessoas que negam os problemas se cercam de outras
pessoas que também negam os problemas'', e que ``quando lidamos com
problemas de modos construtivos e interessantes isto atrai outras
pessoas que também estão tentando lidar com seus problemas de modos
construtivos e interessantes''...

\index{cala a boca}

Uma atitude como a resposta do técnico copiada na introdução, que é um
``meta-se com a sua vida'' e um ``cala a boca'', contagia as pessoas
de uma outra forma - ela mostra que á admissível numa discussão
pública se responder ``meta-se com a sua vida'' e ``cale a boca''.
Ora, como é que a gente se defende - numa reunião de departamento,
digamos, pra mudar o contexto um pouco - de alguém que diz algo como
``meta-se com a sua vida'' ou ``cala a boca'', e que é apoiado pela
maioria das pessoas presentes, que nem sequer reclamam do tom? Acho
que isto cria uma situação de paralisia, como a da seção
\ref{discurso-majoritario}...

Qualquer grosseria, ``cala a boca'' ou ato de violência nosso autoriza
- e incentiva - as pessoas em torno de nós a usarem algo equivalente
contra nós. Provocações idem; quando eu mandei a proposta de nos
prepararmos para tomar posse da internet durante a greve eu não fazia
a menor idéia de quais seriam as respostas - mas eu estava apostando
em que aquilo geraria provocações correspondentes contra mim - e
discussões interessantes.

Quando denunciamos outras pessoas estamos deixando implícito que
consideramos que a atitude mais construtiva naquele momento é
denunciar - e portanto os outros podem, e talvez devam, nos denunciar
também. A alternativa mais evidente a reagir a denún\-cias
denunciando o denunciador é se concentrar no seu trabalho - e quem
faz isto deixa implícito que, na sua visão de mundo, {\it se
cada um se concentrar no seu trabalho e fizé-lo direito o mundo vai
ficar bem melhor}.

O que estou propondo aqui é que está na hora de pensarmos e
discutirmos bem mais sobre as nossas posturas e as conseqüências delas
- e não a partir do zero, mas sim a partir de toneladas de material
(como filmes e vídeos, livros, artigos, textos informais) que já está
circulando por aí, e também a partir do que nós pensamos a respeito
das nossas atitudes e das dos outros.

% Acho que neste momento podemos -
% em certos ambientes protegidos, claro - começar certas discussões
% discutindo o nosso incômodo com





% --------------------
% ** «visibilidade»  (to ".visibilidade")
% (sec "Visibilidade" "visibilidade")
\mysection {Visibilidade} {visibilidade}

Hoje (2012nov20) eu saí pra almoçar com a minha mãe, e numa hora a
gente começou a conversar sobre questões de gênero. Eu disse que
talvez ela nunca tivesse pensado muito sobre essas coisas - e nem
conseguia separar direito sexo e gênero - porque ela nunca quis fazer
nada considerado ``masculino''. Ela disse que não era bem assim, que
do grupo de amigas mais próximas dela ela foi uma das poucas que
continuou trabalhando e estudando - ela terminou o doutorado dela, em
Hegel e Freud, quando eu tinha 23 anos -, e era a única que ia sozinha
pra todos os lugares. Tá, isso demolia parcialmente o meu argumento -
mas a gente continuou cavucando essa idéia do ``fazer coisas que
ninguém mais como você faz'', e descobri que no início ela não se
sentia à vontade pra, por exemplo, ir num restaurante sozinha; depois
ela viu que se ela levasse uma pilha de livros e ficasse lendo niguém
estranhava, e depois, aos poucos, ela aprendeu a ficar concentrada nas
coisas dela, e pronto.

Um dos argumentos que eu acho mais fortes a favor de cotas nas
universidades é: {\sl é muito difícil ser o único negro da
universidade} - porque quase o tempo todo você vai ter que responder
questões implícitas nos olhares dos outros, desde as mais grossas,
como ``o que você está fazendo aqui? Isto não é lugar pra você, vamos
provar que você não aguenta a pressão'', até outras que são
curiosidades até bastante válidas, como: ``como você vai lidar com o
racismo no mercado de trabalho?''%
%
\footnote{acho que eu só tive um
aluno negro - um cara que estudava à beça - quando eu dei aula pra
Engenharia de Produção, e confesso que eu pensava: não é meio suicídio
você estar fazendo este curso? Nas empresas em que eu trabalhei a
competência importava só um pouco, o mais importante era como a gente
socializava com os colegas - isto é, a capacidade de fazer piadas escrotas
junto com os outros, ir nos churrascos, nos porres e nas boates, ser
``um deles'', fazer pose de superior e bem-sucedido, ser previsível e
confiável na hora de agir como parte da máfia, e sacanear quem está pra ser
limado... então: você pode passar em concursos daqui a um tempo, mas e até
lá, enquanto você tiver que fazer estágios???},
%
``como é a sua família?'', ``como você estudava sem ter todas as
facilidades que a gente teve?'', ``você toca alguma coisa?'', ``você é
bom em esportes?'', ``como você lida com todo mundo sempre olhando pra
você?''... e se há vários negros na universidade estas questões de
certa forma se diluem, e eles podem usar a energia deles mais
facilmente pra outras coisas.

Não acho que seja possível fingir que certos estranhamentos não
existam [referência: Camille Paglia; glass ceiling, token lesbian]

Deixa eu passar pra algo relacionado. No início de nov/2012 o MP
julgou uma ação pela retirada do ``Deus seja louvado'' das notas do
Real. As notícias sobre isto geraram discussões enormes no Facebook, e
muitos dos ``argumentos'' contra este julgamento eram como: ``vocês
não têm mais o que fazer? Porque não vão julgar X, Y ou Z ao invés
dessa besteirada?''... Acho que isto é recorrente - e imagino que bem
mais no Brasil do que no Mundo Civilizado.

Outra coisa que é comum é uma pessoa, que está lutando por uma causa
A, ser criticada por pessoas que dizem que a causa A é frescura, que
ela é idiota e devia estar lutando pelas causas B, C ou D.

Conversando com uma amiga minha sobre isto - ela está estudando
literatura feminista na década de 70, e estava escrevendo sobre o
{\sl Novas Cartas Portuguesas} e o processo contra as três autoras
- ela me contou que existe um termo pra isto:
{\sl \Index{Hierarquização da Violência}} - as lutas por
direitos das mulheres eram consideradas irrelevantes, as pessoas
deveriam estar lutando, por exemplo, contra a fome ou contra a guerra
nas colônias africanas.

O argumento de ``as pessoas não deveriam estar lutando pela causa A
porque deveriam estar lutando pela causa B'' se baseia em várias
idéias erradas. Uma, que a energia investida em lutar por A é energia
não investida em lutar por B. Ora, se para uma pessoa, por motivos
pessoais, a causa A é prioridade, então ela vai aprender muito mais
lutando por A, e vai se tornar uma pessoa com muito mais energia,
disposição e ``ferramentas'' se lutar por A; se ela se obrigar a lutar
direto por B ela provavelmente vai virar pouco mais que mais uma
pessoa fazendo número numa multidão... outra idéia errada é que {\sl é
possível mandar as pessoas lutarem pelas causas ``certas''} - ou seja,
que o número de pessoas na multidão é muito importante -, e outra é
que existem critérios ``lógicos'', ``absolutos'', pra se decidir que
causas são importantes, e que eu, pessoa B, posso aplicar rapidamente
estes critérios, descobrir que a causa pela qual a pessoa A luta é
fútil e passar um sabão nela pelo Facebook.

Eu comecei a ler um livro
interessantíssimo: \fnhref{http://www.prickly-paradigm.com/sites/default/files/Graeber_PPP_14_0.pdf}{Fragments
of an Anarchist Anthropology} (David Graeber, 2004), e como eu tenho
mania de conectar as últimas coisas que eu li com tudo, lá vai uma
citação (p.8):

\begin{quote}
  Anarchists have never been much interested in the kinds of broad
  strategic or philosophical questions that have historically
  preoccupied Marxists - questions like: Are the peasants a
  potentially revolutionary class? (Anarchists consider this something
  for the peasants to decide.)
\end{quote}

{\sl Como a gente decide se uma ``causa'' - pra ser mais específico:
um incômodo no nosso ambiente de trabalho - é algo que valha a pena
lutar pra mudar, ou se essa causa é uma ``frescura'', isto é, algo que
a gente tem que engolir e esquecer?} Seguindo a idéia do Graeber, não
vale tanto a pena tentar decidir de antemão, por argumentos
``acadêmicos'' (p.??) - podemos deixar que a causa ``decida por si
mesma'' - idéia:

\begin{quote}
  Algo que nos causa pesadelos recorrentes, que nos deixa em pânico,
  que nos drena uma quantidade enorme de energia, a tal ponto que a
  gente começa a achar que vai ter enfrentar as pessoas que dizem que
  isso é frescura, é uma causa que {\sl decidiu por si mesma} que
  vamos ter que lutar por ela.
\end{quote}


\newpage

\phantom{a}
\vskip 3.0cm

\centerline{\huge\bf Parte 2}

\msk
\msk

\centerline{\large O roubo da garrafa d'água, ou:}

\centerline{\large Destruição dos espaços democráticos, ou:}

\centerline{\large O problema dos Fontainers}

% (find-classespage 21 "Chapters and Sections")
% (find-classestext 21 "Chapters and Sections")
% (find-source2epage 297 "\\addcontentsline")
% (find-source2etext 297 "\\addcontentsline")
% (find-anggfile "quadradinho/quadradinho-a5.aux")
% (find-anggfile "quadradinho/quadradinho-a5.toc")

\addtocontents{toc}{\par\ssk{\bf Parte 2:}}

%\makeatletter
%\@writefile{toc}{\contentsline {section}{\numberline {3}Como as id\'eias se propagam}{8}{section.3}}
%\@writefile{aux}{
%\@writefile{toc}{\msk Parte 2}
%}
%\makeatother

\newpage


% --------------------
% * PARTE 2
% * «garrafa-dagua»  (to ".garrafa-dagua")
% (sec "O roubo da garrafa d'água" "garrafa-dagua")
\mysection {O roubo da garrafa d'água} {garrafa-dagua}

Acho que uma das principais razões que me fizeram escrever este zine é
porque eu fiquei tendo pesadelos recorrentes durante meses com a
história do roubo da garrafa d'água, que é uma coisa que concretamente
é tão pequena que a gente ficar se preocupando com aquilo deve soar
como muita frescura... Mas, bom, este é o {\sl meu} zine - tomara que
você se sinta contagiado pela idéia de escrever, e aí no {\sl seu}
zine você vai poder contar as histórias que são mais importantes pra
você, sob o {\sl seu} ponto de vista....

Antes de contar a história do roubo da garrafa d'água é melhor eu
contar uma outra, pra preparar o terreno.

Quando a minha mãe fez o doutorado dela - em Filosofia, pela PUC-Rio -
ela conseguiu uma bolsa-sanduíche pra passar um tempo em Paris. Pois
bem, nesse mesmo almoço com ela que eu mencionei na outra seção ela me
contou que quando ela entrou na Sorbonne pela primeira vez - e era um
fim de tarde de inverno, e o saguão logo depois da entrada estava
praticamente vazio - a sensação dela era de ``vão me expulsar, {\it eu
não tenho nível pra estar aqui}'' -

Quando eu entrei pra UFF em 2009 e eu comecei a participar das
reuniões de Departamento - naquela época o ICT era um departamento só,
com umas 40 pessoas, e as reuniões eram com todo mundo - a minha
sensação era algo bem parecido: ``{\it eu não tenho nível pra falar
nessas reuniões} - eu não sei o suficiente, eu não falo bem o
suficiente - o que eu falar vai tomar o tempo dos outros, e as minhas
besteiras vão ficar registradas em ata pra sempre''...

\msk


No meio da reunião do ICT de 24/nov/2011 (que foi tensíssima;
veja a seção \ref{regimento-ict} e
a \fnhref{http://angg.twu.net/PURO/ict/2011_11_24_ata.pdf}{ata dela})
o Fontana pegou a garrafa d'água do Fernando Naufel. Eu fiquei
tão chocado que cheguei a dizer em voz alta que a garrafa era do
Fernando, que ele não podia fazer aquilo, que era {\sl roubo}, que
ele devia comprar uma pra ele na cantina a 10m de distância, que a
gente esperaria ele voltar pra continuar a reunião - mas ele só
sorriu e disse: ``{\sl eu sou mais velho}''.

Depois de eu ver que esse tipo de coisa podia acontecer sem que nem a
diretora da Unidade, que presidia a reunião, nem ninguém da
Engenharia ou da Computação falasse nada ou estranhasse, eu vi
que poderiam fazer {\sl qualquer} tipo de grosseria ou desrespeito com
a gente, e até roubarem, digamos, pacotes de provas meus ou meu
laptop, sem ninguém da Engenharia ou da Computação
desaprovasse.

Talvez o Fontana quisesse que esse gesto fosse visto como uma mera
``brincadeira de macho'', só porque no final ele riu - mas esse
pseudo-gesto de intimidade também podia ser visto - e foi - como
{\sl invasão do espaço pessoal do colega}, e como um desrespeito
ostensivo... ok, nossos códigos são muito diferentes - {\sl o
que fazer?}




% \fnhref{http://angg.twu.net/2012-ict.html}{} o 

% \msk
% 
% [H2 Códigos: a garrafa d'água]
% 
% Quando o professor Fontana, com sede no meio de uma reunião
% tensíssima (a de 24/nov/2011; veja a
% seção \ref{regimento-ict}), tomou a garrafa d'água do
% professor Fernando Naufel, apesar de vários colegas, surpresos e
% assustados, pedirem que ele não fizesse isto, que ele fosse comprar
% uma garrafa pra ele no Julien's a 10 metros de distância, que
% nós esperariamos até ele voltar pra continuar as discussões,
% ele possivelmente viu este gesto com um gesto de intimidade, mas
% várias pessoas - por exemplo, eu - viram isto como uma {\sl
% invasão do espaco pessoal do colega}, e talvez um desrespeito
% ostensivo...
% 
% o que só se tornou mais apavorante quando a gente viu que ninguém
% 
% o professor Fontana
% 
% ora, eu sou matematico, trabalho numa area muito abstrata em que
% conceitos e notacoes novas surgem a toda hora, e ai' e' comum, quando
% a gente esta' fazendo seminarios de pesquisa, a gente fazer passos
% talvez duvidosos em contas ou demonstracoes, e colegas fazerem
% perguntas, e nos descermos aos detalhes junto com eles pra vez se o
% que a gente fez realmente esta' certo - achismos existem mas sao
% temporarios, e se


% \msk
% 
% Nas próximas seções vou contar um pouco do que tem acontecido
% nas reuniões do ICT - mas fora da ordem cronológica, pra poder
% expôr o meu diagnóstico sobre o problema de forma mais clara. A
% ordem cronológica correta seria a seguinte:
% 
% \begin{itemize}
% 
% \item \fnhreff{http://angg.twu.net/monep.html\#ata}{28/out/2010 e 18/nov/2010}:
%   ``não tem o que discutir, é só aprovar''; primeiro problema
%   com atas.
% 
% \end{itemize}
% 
% [Lembre que na \fnhreff{http://angg.twu.net/\#quadradinho}{versão
% online deste zine} os links funcionam!]



% Corta a cena pra 2012.
% 
% Pólos - só uma proposta chegou - abaixo-assinados - reuniões com o GT
% - pedido de reunião conjunta - reunião do RIR / reunião do ICT com
% participação re Ramiro, Edinho, Felipe - reuniao seguinte: mudança de
% regra que não saiu em ata.
% 
% Link pra ata do RFM. Links pras atas do ICT nas quais este assunto já
% foi discutido.


% http://www.historicthedalles.org/stagecoach.htm

% 0: eleição pro ICT ("chapa 0")
% 1: chapa 1
% A: atas
% C: concurso de química
% D: disciplina de química
% R: reestruturação
% M: coisas que a Maira e o Magini fizeram (acad/admin)
% V: número de vagas de cada depto no colegiado do ICT
% I: iniciativa privada, convênios, consultorias, cursos pagos
% T: transparência
% S: sindicância



% M-artigos:    Maira produziu vários artigos com o nome do PURO
% M-mesa:       Maira nunca ganhou uma mesa
% M-bolsa:      Maira precisava atrelar sua bolsa ao PURO
% M-LLaRC:      Magini conseguiu a sala pro LLaRC
% M-vicedir:    Magini foi vice-diretor do Pólo

% I-anvisae:    e-mail mencionando ANVISA
% I-anvisac:    reunião do CONPURO sobre projeto ANVISA
% I-anvisaq:    camisetas do "queremos bolsas ANVISA de 11 mil reais"
% I-cpagos:     plebiscito dos cursos pagos
% I-incubadora: como a incubadora apareceu de surpresa
% I-prefeitura: incubadora muda negociações com prefeitura
% I-reefer:     projeto do container reefer (sem detalhes)
% I-cabofrio:   cursos em Cabo Frio - com que professores?

% C-conc1:      concurso sem perfil acadêmico, 1 candidato, não foi
% C-dilig:      diligência do Fontana
% C-diligr:     reunião sobre a diligência
% C-carta:      a carta do Fontana apareceu transcrita na ata
% C-vaga:       o reitor cedeu uma vaga
% C-conc2:

% V-orig:       discussão original sobre nº de vagas p/cada depto
% V-mudanca:    a CAA mudou o regimento sem mandar justificativa
%

% os argumentos do Dalessandro sobre falta de compromisso aparecem
% detalhados na ata, nossas respostas não

% quanta energia é pra gente gastar, na véspera de cada
% reunião - que é quando a versão preliminar da ata é
% mandada pra revisão aos membros do colegiado - pra tentar
% preparar correções que tenham chances de serem aceitas?





% --------------------
% ** «quimica»  (to ".quimica")
% (sec "Concurso de Química (ou: posições frágeis)" "quimica")
\mysection {Concurso de Química (posições frágeis)} {quimica}

{[Falta completar alguns dados e pôr uns links pra páginas da
COPEMAG]}


% http://angg.twu.net/PURO/quimica/concurso_eng_petroleo.pdf
% [DCTUFF : 2882] Projeto de Pesquisa/Produtividade

\msk

Em março de 2012 a Engenharia realizou
um \fnhref{http://angg.twu.net/PURO/quimica/}{concurso pra Engenharia
de Petróleo}, cuja ementa era só Química, e com uma
pontuação de currículo muito estranha, que fazia com que quem
não tivesse experiência na indústria mas tirasse nota 10 em
todos os outros quesitos e provas ficasse com exatamente a nota
mínima pra passar: 7.0 no cômputo final - ou seja, bastava a
nota em alguma das provas ser, digamos, 9.7, pra essa pessoa
hipotética estar automaticamente reprovada, e não ficar nem na
fila de espera pra se os primeiros colocados desistissem.

Pois bem, essa pontuação excluia - deliberadamente, talvez - uma
candidata ``natural'': uma pesquisadora que já vinha publicando
artigos com o nome do PURO, contando pontos pra nós, e que só ainda
não tinha conseguido atrelar sua bolsa de pesquisa tipo XXX ao PURO
por sei lá que confusão burocrática. Esta pesquisadora já morava aqui,
era casada com o nosso professor mais ativo e produtivo, eles tinham
se mudado de mala e cuia pra cá, com o filho de 5 anos, comprado casa
aqui, patati patatá, e, segundo uma das versões, ela só não trabalhava
fisicamente no Pólo porque com os nossos problemas de espaço e
sobrecarga de trabalho a tarefa de ``arranjar uma mesa pra ela'' nunca
era completada.

Concursos públicos pra professores custam muito trabalho e dinheiro
pú\-bli\-co pra serem realizados, e em geral tentam ser os mais
abertos e honestos possí\-veis, pra contratar alguém bom mesmo
em campi do interior, que interessam menos aos candidatos que os campi
nas capitais.

Este concurso pra Engenharia de Petróleo teve 4 inscritos,
apesar de permitir candidatos que só tivessem mestrado - não
consegui checar quantos candidatos vieram fazer as provas - e não
teve nenhum aprovado.

Depois houve uma briga enorme, na época da divisão de
disciplinas (veja as \fnhref{http://angg.twu.net/2012-ict.html}{atas}
de 26/5, 30/6 e 25/8/2011), pra ver que departamento ficaria com
Química Geral. Pediram a opinião de especialistas, que mostraram
que Quí\-mi\-ca Geral tinha bem mais a ver com o RFM, houve uma
votação, deu empate, e, após o voto de Minerva da diretora,
Quí\-mi\-ca Geral foi pra Engenharia
(\fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/ict/2011_08_25_ata.pdf}{ata de
25/8/2011}, linhas 160--209; os argumentos dos especialistas não
aparecem detalhados nessa ata).

\msk

Um dia pessoas do nosso Departamento foram até o Reitor e disseram:
estamos à beira de perder o Marcio Magini, que é conhecido e
respeitadíssimo na Reitoria pela atuação dele na direcao
pró-tempore do Pólo, como vice do Walter Machado-Pinheiro... o
Marcio tem este currículo Lattes
gigante \fnhref{http://lattes.cnpq.br/9697265373144215}{aqui}, e
além de vice-diretor e super-pesquisador ele tem $N$ alunos de
iniciação, tem bolsa de produtividade tal, dá $N$
matérias, participa dos colegiados tais e tais, etc etc, e a mulher
dele tem este currículo
Lattes \fnhref{http://lattes.cnpq.br/1796634863495672}{aqui}; ela
publicou $N$ artigos, já transferiu a bolsa de produtividade CNPq
dela pro PURO e já publicou 3 artigos com o nome do PURO, e a
áreas dela são tais e tais, e ela poderia dar sem esforço
várias disciplinas de Química, Bioquímica e Estatística da
Engenharia, da Enfermagem, da Psicologia, etc. Nós gostaríamos
de realizar um concurso com esta ementa bem abrangente pra bons
candidatos de várias áreas poderem participar, com
divulgação em todas as sociedades de Química, Bioquímica e
Estatística, com esta banca aqui com $N$ professores que são
pesquisadores A1 do CNPq e portanto incorruptíveis, aproveitando o
prazo (uma das ``janelas'' pra realização de concursos na UFF),
mas pelos problemas politicos tais e tais não temos nenhuma chance
de fazer um concurso no qual essa candidata possa sequer participar.
{\sl O que podemos fazer?}

Então o Reitor pegou uma vaga das que ele tinha guardadas pra
emer\-gên\-cias especialíssimas e deu pro RFM, mas, óbvio, com
condições explí\-citas e implí\-citas: que ela seria usada pra um
concurso de Química exatamente daquela forma, que o concurso tivesse
toda a legitimidade concebível e imaginável, que o concurso tivesse
muitos bons candidatos e selecionasse dentre eles o melhor possível,
que indicava que seria um professor e pesquisador fantástico, que
melhorasse muito o PURO, etc, etc, e que fôssemos absolutamentos
íntegros até as próximas 4 gerações.

\msk

{\it Se algo disto não fosse cumprido nós ficaríamos numa situação
extremamente frágil perante os nossos colegas do PURO e perante o
Reitor.}

\msk

Aí o Prof.\ Fontana, ou não percebendo esta idéia da
posição frágil ou querendo testá-la até o limite, abriu
uma diligência contra este concurso, e isto é um pedaço da
história que todo mundo conhece bem, porque essa diligência foi
discutida na reunião do ICT de 13/dez/2011, que tem
uma \fnhreff{http://angg.twu.net/2012-ict.html}{ata super detalhada},
foi gravada,
a \fnhreff{http://angg.twu.net/2011-dec-13/}{gravação está
disponível publicamente na internet}, junto com
um \fnhreff{http://angg.twu.net/2011-dec-13/README.html}{índice}
que diz onde cada fala começa e cada coisa importante acontece,
etc.

\msk

A coisa mais apavorante dessa reunião foi a fala do Fontana
(1:57:38 na
\fnhreff{http://angg.twu.net/audios/2012dez13-ict.html}{gravação},
linha 242
na \fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/ict/2011_12_13_ata.pdf}{ata}) na
qual ele diz: ``Eu vou à última instância com esse documento.
Vou no CEP, vou no CUV, e vou na justiça comum. E vou no
Ministério Público. Então: querem continuar?''

Então: dos 6 candidatos inscritos nesse concurso - todos com
doutorado - 3 vieram fazer as provas, o que é um número bastante
bom; a Máira Magini foi reprovada na primeira prova (a prova
escrita), um candidato que tinha pós-doutorado pelo Max Planck
Institut - o que não me parece pouca porcaria - foi reprovado na
prova de aula, e a outra candidata foi aprovada... e o Fontana não
entrou com nenhum processo contra o concurso, apesar de todos os
argumentos dele de que é um absurdo um concurso de Química num
departamento de Física e Matemática.

Me contaram que a Máira foi fazer a prova com febre alta. Acho
plausível, e acho humano. Eu no lugar dela teria ficado {\sl muito}
em dúvida se estaria fazendo prova pro lugar certo, já que eu
teria toda evidência de que se eu passasse na prova a minha vida
seria um inferno.

\msk

Curiosamente, temos todas as evidências de que a esposa do prof.\
Dalessandro, da Computação do PURO, que é professora de
Matemática em outra universidade federal, vai se transferir pro
nosso Departamento de Computação assim que for possível - e
basta haver uma vaga pra isso, porque ela já é de uma federal e
portanto não precisa de concurso. Imagino que um dos argumentos
seja que agora que o RFM fez um concurso pra Química tudo já
virou bagunça, então a Computação pode contratar uma
matemática.

\msk

Aliás, quando eu estava revendo centenas de e-mails, atas e
gravações pra escrever este texto eu percebi uma coisa
engraçada: em \fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/quimica/}{maio de
2011} o Dalessandro era abertamente favorável a um concurso no qual
a Máira pudesse participar, mas em {\sl todos} os registros
posteriores aos quais eu tive acesso a posição dele passa a ser
``{\sl sou contra qualquer quebra de hierarquia}'' e ``{\sl temos que
apoiar a Unidade}\footnote{o ICT é, administrativamente, uma
``unidade'' da UFF.}'', o que a meu ver até neutraliza a sua
posição anterior...


% (find-fline "~/PURO/ict/")
% http://angg.twu.net/PURO/ict/2011_08_25_ata.pdf 160-209


% [DCTUFF : 2882] Projeto de Pesquisa/Produtividade
% 
% Prezados Professores;
% 
% Em anexo segue a publicação da Profa. Máira Regina Rodrigues
% Magini constando o nome do Departamento de Ciência e Tecnologia na
% revista Spectroscopy, importante jornal da área de Química
% Aplicada.
% 
% Essa publicação leva o nome do PURO e do departamento assim como
% outros 02 já aceitos para publicação em revistas
% internacionais que em breve terão sua publicação consolidada.
% Esses 03 artigos que receberam o nome da UFF/PURO/RCT são resultado
% da aprovação em departamento (24/02) da transferência da
% Bolsa de Produtividade (CNPq) da pesquisadora para o Pólo.
% 
% Att.

% (find-angg "2011-dec-13/README")
% (find-TH "magini")
% (find-TH "2012-carta-ao-ict")



% --------------------
% ** «reestruturacao»  (to ".reestruturacao")
% (sec "O processo de reestruturação" "reestruturacao")
\mysection {O processo de reestruturação} {reestruturacao}

% (to "filtros")

No PURO temos dois grupos que pensam de formas muito diferentes e
não se entendem; vou improvisar terminologia mais uma vez, e
chamá-los de ``democratas'' e `republicanos''. Estamos à beira
de uma reestruturação administrativa, e os ``democratas'' - que
são 2/3 dos professores, 2/3 dos cursos e 2/3 dos departamentos -
acreditam que as decisões sobre como lidar com os problemas do
campus têm que vir de nós mesmos, e pra isto nós precisamos
de mais transparência, que as informações circulem mais, que
mais gente participe dos debates, que os argumentos fiquem claros, e
que cada decisão importante tenha o apoio de uma maioria bem
informada; já os ``republicanos'', que apesar de serem só 1/3 de
nós ocupam a maior parte dos cargos que nos representam formalmente
nas instâncias superiores (inter-campi), acreditam que nós já
{\it demonstramos que não temos maturidade para nos gerir
sozinhos}, que e toda tentativa de debate - em especial as tentativas
de diálogo entre ``democratas'' e ``republicanos'' - degringola
para conflitos que só geram desgate inútil. {\it Os
``republicanos'' acreditam em especialização, e que as
decisões devem ser tomadas por especialistas} - e os ``democratas''
sabem que na situação atual nenhum especialista externo seria
capaz de lidar com os nossos problemas, e que nós precisamos
aprender mais nós mesmos - pensando, lendo e debatendo - e aí
cuidarmos dos problemas nós mesmos. E para esta
reestruturação administrativa os ``republicanos'' defendem uma
estrutura na qual as decisões sobre a infra-estrutura do Pólo
sejam tomadas por um triunvirato formado por um ``democrata'', um
``republicano'' e um ``especialista'', e casos com discordâncias
insolúveis são decidos por um dos conselhos superiores da UFF -
e os ``democratas'' propõem uma estrutura com um ``democrata'' e um
``republicano'' e na qual casos sem consenso são levados pra
instâncias {\it inferiores} - colegiados, plebiscitos, debates.

[Colar melhor $\uparrow$ e $\downarrow$]

\msk

Durante o processo de reestruturação administrativa dos pólos
a comissão local de reestruturação não conseguiu chegar a
um consenso sobre que proposta levar pra comissão geral,
inter-pólos, e ficou decido que mandaríamos as duas propostas,
pra que a comissão geral pegasse elementos delas e fizesse a
síntese que achasse mais sábia. Bem a grosso modo, analisando as
conseqüências de cada proposta de estrutura administrativa, a
proposta $A$ dizia que em caso de discordância entre as unidades
quem decidiria seria o CEP ou o presidente do CEP; a proposta $B$
dizia que decisões importantes sobre o pólo têm que ser
consensuais entre as unidades, e que quando não houver consenso a
decisão ``desce'' ao invés de ``subir'': ao invés dela ser
delegada a instâncias superiores ela volta pros colegiados, pra
discussão e talvez até plebiscitos.

{\sl Por alguma confusão só a proposta $A$, a que dizia que as
decisões em caso de não-consenso iriam pra instâncias
superiores, chegou até a comissão inter-pólos.} Obs: os
nossos dois representantes na comissão inter-pólos eram o
Áureo, que acabou não indo a nenhuma reunião dela por
questões de saúde, e o Fontana.

% (find-fline "~/PURO/reestruturacao/")

Isto criou uma comoção muito grande no pólo quando foi
descoberto, ainda mais porque só descobrimos quando o prazo pra
decisão final da comissão inter-pólos estava próximo,
então aconteceram reuniões aqui,
depois \fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/reestruturacao/}{abaixo-assinados
grandes}, uma comissão de acho que uns 10 professores foi numa
reunião da comissão inter-pólos, que então pôde
considerar melhor as consequências de cada proposta, $A$ e $B$, e
como essa comissão inter-pólos não conseguiu, e não quis,
chegar sozinha a uma decisão definitiva e se tornar a única
reponsável por ela, ela disse: ``façam uma reunião com as
duas unidades, dentro de um prazo de daqui até 10 dias, e nós
acataremos a decisão de vocês''.

Não foi possível fazer essa reunião com as duas unidades
porque o ICT alegou que isto seria ``arregimental'', mas o RIR fez uma
reunião das 14:00 às 16:00, o ICT tinha uma reunião de
colegiado de unidade logo depois, e três professores do RIR que
tinham participado de todo o processo, os debates, a ida à
comissão inter-pólos, a reunião das 14:00 às 16:00hs,
tudo, vieram na nossa reunião de colegiado
e \fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/ict/2012_08_23_ata.pdf}{deram
informes importantes}.

Aí a comissão inter-pólos soube do pouco que conseguimos
fazer em termos de reunião conjunta, e aprovou a proposta $B$ - a
que não criava nenhuma estrutura especial pro PURO, que fazia com
as decisões sobre os casos sem consenso ``descessem'' pra mais
debates ao invés de subirem pro CEP, e que era a proposta que
não tinha chegado até a comissão, que tinha se perdido pelo
caminho.

Na reunião seguinte do ICT (a de setembro; veja a
seção \ref{atas-e-gravacoes}) inventaram que não-membros do
colegiado não têm mais direito a voz nas reuniões.

% (find-TH "2012-ict")



% --------------------
% ** «comissao-local»  (to ".comissao-local")
% (sec "A comissão local" "comissao-local")
\mysection {A comissão local} {comissao-local}

Já é bem ruim que o Fontana não tenha reparado que das duas
propostas de reestruturação enviadas só uma delas chegou à
comissão inter-pólos, mas há uma evidência - fraca,
infelizmente - de que {\sl pode} ter acontecido algo bem pior.

Nessa reunião da comissão local havia pouca gente argumentando a
favor da proposta do triunvirato que incluía o ``especialista'': ao
que eu me lembre, eram só a Flávia, da Computação, e o
Duque, da Engenharia (foi uma reunião sem ata, no auditório - eu
vi ela acontecendo e entrei de curioso, como ouvinte, e peguei a
segunda metade da reunião). Tinha mais umas 8 ou 10 pessoas, dentre
as quais talvez só a Ana Isabel fosse do ICT. A Flávia tentou
argumentar a favor da proposta com o especialista durante um
tempão, mas cada argumento dela foi rebatido - a meu ver muito bem
- por gente que mostrava que cada uma das ``vantagens'' do esquema do
especialista correspondia a algo que já tinha sido tentado no PURO,
tinha dado errado, e já tinha sido muito debatido.

Lembro da sensação, minha e de muita gente - conversei com
várias pessoas depois - de que era angustiante dialogar com a
Flávia, porque ela parecia ter esquecido e apagado todo o nosso
histórico, e queria recomeçar todas as discussões do
zero\footnote{Veja \burl{http://angg.twu.net/2011-alice-e-bob.html};
eu devo ser um gato escaldado.}.

Pois bem: num momento, perto da hora do fim da reunião, a Flávia
- que, lembrem, estava contra a comissão local enviar {\sl as duas}
propostas já que não havia consenso - disse algo
como\footnote{Acho que não consigo reconstruir esta frase de forma
que ela soe plausível.}: ``Vocês não aceitam os meus
argumentos mas o representante do PURO na Comissão é o Fontana,
e ele vai levar a proposta que o ICT quiser''. E se levantou e saiu
chorando.

Não acho muito grave que ela tenha dito isso num rompante - afinal
é bem difícil argumentar sozinha contra uma multidão bem
preparada - mas é {\sl possível} que o Fontana tenha feito
exatamente o que ela disse... e, por exemplo, ela foi vice do Fontana
na eleição pro
CUV\fnhref{http://angg.twu.net/PURO/eleicao-docente-edital-002.pdf}{}
- isto {\sl pode} ser encarado como evidência da proximidade entre
ela e o Fontana.

% [Flávia]

% ;; (find-fline "~/PURO/")
% (code-xpdf     "editalchapasconselhos" "~/PURO/eleicao-docente-edital-002.pdf")
% (code-pdf-text "editalchapasconselhos" "~/PURO/eleicao-docente-edital-002.pdf")
% ;; (find-editalchapasconselhospage 8)
% ;; (find-editalchapasconselhospage 9 "Bernardini")
% ;; (find-editalchapasconselhostext 8)





% --------------------
% ** «atas-e-gravacoes»  (to ".atas-e-gravacoes")
% (sec "Regras para atas e gravações" "atas-e-gravacoes")
\mysection {Regras para atas e gravações} {atas-e-gravacoes}

% da qual só temos uma gravação informal,
% (find-TH "2012-ict")
% (find-THLfile "audios/")
% (find-THLfile "PURO/ict/")
% http://angg.twu.net/PURO/ict/2012_09_20_ata.pdf

% [puro-uff-rfm: 1659] Fwd: Regimento ICT
% [puro-uff-rfm: 1666] reunião extraordinária do departamento de física e matemática

Em 18/set/2012 ficamos sabendo que o novo regimento do ICT tinha sido
aprovado, e o Reginaldo descobriu que a cláusula que era mais
importante pra nós, e que tinha sido discutida durante uma
reunião do ICT quase toda, tinha sido mutilada por uma das
câmaras superiores sem que nenhuma justificava fosse dada - os
detalhes disto estão na seção \ref{regimento-ict}. No
início da reunião do ICT de 20/set/2012 o Antônio pediu a
inclusão de um ponto de pauta - ``4.2.\ Discussão do regimento
interno aprovado pelo CUV'' -, mas acabamos passando mais de 40
minutos só discutindo as correções a serem feitas na
versão preliminar da ata da reunião anterior (de 23/ago/2012), e
não deu pra chegarmos a este ponto de pauta.

% o tempo da reunião acabou antes de chegarmos até
% ele.
% 
% Na reunião do Colegiado do ICT
% de \fnhreff{http://angg.twu.net/audios/}{20/set/2012} nós passamos
% mais de 40 minutos só discutindo 

\msk

O meu pedido pra ata era a inclusão desta frase,

\begin{quote}

  O Prof. Eduardo Ochs diz que não é preciso fazer a
  votação, pode escrever o resultado direto: 7 a 3. À
  objeção do prof.\ Moacyr o prof.\ Eduardo Ochs responde
  dizendo que não é bem assim, que nem toda votação é
  uma caixinha de surpresas, e aposta com ele R\$\,5 que o resultado
  será 7 a 3.

\end{quote}

E o Antônio submeteu quatro pedidos. 

O meu pedido foi declarado ``absurdo'' - é um ``absurdo'' colocar
numa ata ``aposto R\$\,5'', ``é um desrespeito ao colegiado''
(Fontana, 39:25
na \fnhreff{http://angg.twu.net/audios/2012set20-ict.html}{gravação}).

Um dos do Antônio era uma correção numa fala da Marcelle, em
que o que saiu não fazia sentido no contexto da ata e era o
contrário do que ela tinha dito. Resposta, também do Fontana:
{\sl não pode pedir correções na fala dos outros}, não
pode nem propôr uma correção e pedir pra votar - ``isso aí
não se vota!'' (41:44 na gravação).

Outras regras pra atas foram aparecendo durante a reunião, todas
via Fontana. ``Quando um terceiro fala a reunião tem que ser
suspensa'' (1:02:16; tradução: o que não-membros do Colegiado
falam não pode constar da ata); ``não pode frases soltas''.

A meu ver essas regras pra atas deveriam ter aparecido na ata desta
reunião, mesmo que não fossem regras novas e sim esclarecimentos
sobre como interpretar regras pré-existente. Não saiu nada -
como se essas regras fossem todas óbvias.

% (find-angg ".emacs.audios" "2012sep20-ict")
% (find-angg ".emacs.audios" "2012nov22-ict")
% (find-angg ".emacs.audios" "2012dec13-ict")

% [Oops, acho que a discussão sobre gravações aconteceu na
% outra reunião - checar]

% (find-TH "2012-carta-ao-ict.blogme")


% A-naomembros: não-membros nao tem mais voz
% A-corroutros: nao pode pedir correcoes na fala dos outros
% A-frsoltas:   nao pode frases soltas ("F nunca fez mal a ninguém")
% A-absurdo:    eu pedi algo que o Fontana disse "absurdo"
% A-corrvote:   pedidos de correção são votados/vetados
% A-comoCUV:    como se a nova interpretação fosse correta
%
% A-gravacao:   não pode mais gravação
% A-suspensa:   a última reunião foi suspensa

Mais um trecho do ``Debt'' (pp.166--167; a seção se chama
``Honor and Degration''):

\begin{quote}

  \Index{Equiano}'s further adventures - and there were many - are
  narrated in his autobiography, {\sl The Interesting Narrative of the
  Life of Olaudah Equiano: or, Gustav Vassa, the African}, published
  in 1789. After spending much of the Seven Year's War hauling
  gunpowder on a British frigate, he was promised his freedom, denied
  his freedom, sold to several owners - who regularly lied to him,
  promising his freedom, and then broke their word - until he passed
  into the hands of a Quaker merchant in Pennsylvania, who eventually
  allowed him to purchase his freedom. Over the course of his later
  years he was to become a successful merchant in his own right, a
  best-selling author, An Arctic explorer, and eventually, one of the
  leading voices of English Abolitionism. His eloquence and the power
  of his life played significant parts in the movement that led to the
  British abolition of the slave trade in 1807.

  Readers of Equiano's book are often troubled by one aspect of the
  story: that for most of his early life, he was not opposed to the
  institution os slavery. At one point, while saving money to buy his
  freedom, he even briefly took a job that involved purchasing slaves
  in Africa. Equiano only came around to an abolitionist position
  after converting to Methodism and falling in with religious
  activities against the trade. Many have asked: Why did it take him
  so long? Surely if anyone had reason to understand the evils of
  slavery, he did.

  The answer seems, oddly, to lie in the man's very integrity. One
  thing that comes through strikingly in the book is that this was not
  only a man of endless resourcefulness and determination, but above
  all a man of honor. Yet this created a terrible dilemma. To be made
  a slave is to be stripped of any possible honor. Equiano wished
  above all else to regain what had been taken from him. The problem
  is that honor is, by definition, something that exists in the eyes
  of others. To be able to recover it, then, a slave must necessarily
  adopt the rules and standards of the society that surrounds him, and
  this means that, in practice at least, he cannot absolutely reject
  the institutions that deprived him of his honor in the first place.

\end{quote}

O caminho mais óbvio seria nós tentarmos seguir todas as regras
dessas reuniões - mesmo que essas regras mudem a toda hora - pra
tentarmos mostrar pros donos da reunião como nós somos
respeitáveis, e daí merecermos que o que nos importa saia na
ata, e merecermos mas nas votações mais dos que os 3 votos do
nosso departamento (dentre 10). Mas vamos supor, por um momento, que
isto {\sl não adiante}.

Com a novo \Index{regimento do ICT} (depois da modificação feita
pela Câmara de Assuntos Administrativos) o RFM pode passar a ter
só um representante no Colegiado. O que esse um representante do
RFM vai fazer nessas reuniões? Já foi dito várias vezes que
essas reuniões não são pra debates, que isso é perda de
tempo - elas são pra deliberar e votar, e em assuntos importantes
as pessoas já vêm com voto definido, já que elas representam
seus departamentos. Então esse um representante iria trazer ou
responder idéias no colegiado pra quê, se essas idéias não
são ouvidas - e nem podem ser gravadas - e não saem na ata? E
com que motivação outros membros do RFM viriam nessas
reuniões, se não-membros do colegiado não têm nem direito
a voz? A gente não tem uma Helen Suzman, que aguentou ser a
única pessoa anti-apartheid no parlamento da África do Sul
durante 13 anos...




% --------------------
% ** «regimento-ict»  (to ".regimento-ict")
% (sec "O regimento do ICT" "regimento-ict")
\mysection {O regimento do ICT} {regimento-ict}

% from:reginaldo "regimento ict"
% http://www.uff.br/uffon/bs/2012/08/144-2012.pdf
% (find-fline "$S/http/www.uff.br/uffon/bs/2012/08/")
% (code-xpdf     "bsregimento" "$S/http/www.uff.br/uffon/bs/2012/08/144-2012.pdf")
% (code-pdf-text "bsregimento" "$S/http/www.uff.br/uffon/bs/2012/08/144-2012.pdf")
% (find-bsregimentopage)
% (find-bsregimentotext)
% (find-bsregimentopage (+ 2 146))
% (find-bsregimentotext (+ 2 146))

% [Link pra reunião de 24/nov/2011 e pros documentos que mostram
% como e quando a cláusula que garantia o mínimo de 3
% representantes pra cada departamento foi modificada na Câmara de
% Assuntos Administrativos; discussão sobre reações a isto na
% reunião do ICT de dez/2012]

% [Link pra refs sobre o parlamento da África do Sul durante o
% Apartheid; como funcionaria o RFM ter um representante só num
% colegiado que decidiu que não-membros do colegiado não têm
% mais direito a voz, e que tem as regras atuais sobre como as atas
% são preparadas e que pedidos de modificação são
% aceitáveis?]

Apesar do PURO ter falta de professores em quase todos os
departamentos - incluindo, imagino, na Engenharia de Produção,
já que uma proporção grande das novas vagas de professores
substitutos foram pra Engenharia {\sl [link pra ata]} - a Engenharia
decidiu que um dos seus professores DE - o Fontana, que é o
único Professor Titular lotado no PURO - não precisaria fazer
nem ensino, nem pesquisa, nem extensão; ele seria ``Assessor
Especial da Direção do ICT'' full-time, e seu papel principal
seria na interface do PURO com Niterói - principalmente com as
Câmaras Superiores.

O Fontana é o ``segundo decano'' do CUV - o segundo membro do CUV
mais antigo em atividade - e imagino que ele conheça as câmaras
superiores como (quase) ninguém - seus regulamentos, suas
práticas, seus históricos, seus membros.

\msk

Na reunião do ICT de 13/dez/2012(?) nós (do RFM) ficamos
tentando encontrar o melhor encaminhamento prático possível pro
problema da mudança no regimento do ICT - mas a melhor idéia que
tivemos foi pedir à Câmara de Assuntos Administrativos a {\sl
justificativa} para a mudança.

O Fontana disse que isso é absurdo, que ele é contra, que não
se vai contra uma decisão das câmaras superiores, que é um
absurdo e um desrespeito pedir uma justificativa, que elas não
têm que justificar nada, e que isto não tem como dar em nada - e
na votação ele pediu que o seu voto constasse em ata: ele é
contra pedirmos uma justificativa pra mudança. (Eu expliquei que o
pedido de justificativa é um modo prático de sinalizarmos que
{\sl algo} do que aconteceu merece mais atenção - {\sl como} o
diálogo vai ser reaberto, ou quais vão ser os passos seguintes,
ainda não temos como saber.)

\msk

A comunicação com as câmaras superiores, e outras entidades
similares, é feita em três \Index{níveis de linguagem}
diferentes. As ``leis'' - regimentos, etc - são numa linguagem
muito concisa e muito precisa, em que cada palavra pode ter um peso
enorme; a frase retirada pela CAA cria um futuro negro para o RFM, e o
{\sl nome} do RFM - ``Departamento de Física e Matemática'',
versus ``Departamento de Ciências Básicas'' [decidido na
  reunião tal] foi um dos argumentos pra que concursos pra
Química não pudessem ser feitos pelo RFM [link pra ata].

% Leis aprovadas estão ``set in stone'' [trad?],

\begin{itemize}

\item[1.] {\sl Abaixo-assinados} são feitos numa linguagem menos concisa, que
permite exemplos e explicações. Memorandos às vezes admitem
trechos nesta linguagem menos concisa, e confesso que o pedido de
justificativa que eu vagamente imaginava abriria algum espaço para
uma justificativa formal da CAA que fosse mais do que uma ou duas
frases {\sl pro-forma} com conteúdo zero.

\item[2.] Discussões públicas ``formais'' são numa linguagem menos
concisa ainda, que permite argumentos que não sentimos que precisam
ser definitivos; retratações são relativamente fáceis,
é comum percebermos furos nas nossas posições e voltarmos
atrás - em especial se certas regras de convivialidade são
seguidas e a convivência é mais ou menos amistosa.

\item[3.] Discussões ``não-públicas'' têm um espaço enorme para
trechos nos quais o {\sl tom} é mais importante que as palavras -
trechos nos quais as pessoas se demonstram amistosas, ou demonstram
aprovação aos outros, mostrando que compartilham os mesmos
códigos e fazendo brincadeiras. Tem vários professores do PURO,
principalmente na Computação, com os quais eu não me imagino
tendo este tipo de comunicação, pelo menos não num futuro
próximo - há um impasse, porque eles não entendem porque
muitas pessoas não os cumprimentam mais, não dizem ``bom dia''
nem olham na cara deles quando cruzam com eles nos corredores, mas
eles também não têm tempo pra ler nada sobre o nosso ponto de
vista, e nem mesmo pra fazerem hipóteses sobre o que aconteceu,
muito menos pra escreverem algo no registro das discussões
públicas ``formais'' que mencionei antes - então um lado espera
uma iniciativa {\sl amistosa} do outro, e o outro espera uma
iniciativa {\sl racional} do um.

\end{itemize}


% Comentário da ata:
% 
% Substituir a frase: "O Prof. Antônio Esposito solicita informe
% sobre o recebimento de vagas de professores temporários".
% 
% por: "O Prof. Antônio Esposito solicita informe sobre o recebimento
% de mais duas vagas de professores temporários que fazem parte das 8
% vagas acordadas junto a Reitoria para atender a demanda dos cursos de
% engenharia de produção e ciência da computação."
% 
% Substituir a frase: "A Prof. Marcelle informa que foram recebidas duas
% vagas no ICT e que foi discutido com os chefes de departamento e
% coordenadores de curso e decidido que uma vaga iria para o RCM e a
% outra para o REG."
% 
% por: A Prof. Marcelle informa que foram recebidas duas vagas no ICT e
% que foi discutido com os chefes de departamento e coordenadores de
% curso, mas não se chegou a uma proposta de consenso e que a
% Direção da Unidade decidiu que uma vaga iria para o RCM e a
% outra para o REG".
% 
% Substituir a frase: "O Prof. Antônio questiona porque não houve
% rodízio, como havia sido deliberado pela plenária da unidade."
% 
% por: "O Prof. Antônio questiona porque a Direção da Unidade
% não obedeceu à deliberação da plenária do colegiado de
% unidade que estabeleceu o rodízio para distribuição das 8
% vagas de professor temporário e que a decisão da Direção
% da Unidade de nãoobedecer ao rodízio fez com que o RFM não
% recebece uma dessas duas vagas."
% 
% Substituir a frase: "Esclarece que o rodízio foi seguido"
% 
% por: "Esclarece como o rodízio não foi seguido."
% 
% Cordialmente,
% Antônio.

%              (find-TH "2012-ict")
% file:///home/edrx/TH/L/2012-ict.html

Na reunião de 23/ago/2012 saiu na ata a seguinte frase solta: ``O
Prof. Antônio Fontana diz que nunca fez mal a ninguém
conscientemente, ele apenas briga por aquilo que acredita''. Na
reunião de 20/set/2012 reiteraram que não se pode {\sl nem
sequer propor} mudanças nas falas dos outros, e que não pode
frases soltas - {\sl e a discussão sobre as regras pra atas não
saiu em ata} [pôr aqui: notas sobre jurisprudência]. Então, se
querem que {\sl algo} de uma discussão não saia na ata, basta
não pôr na ata uma fala de alguém da Engenharia logo anterior
a este {\sl algo}, nem nada do que vem depois. Aí não dá pra
pedir menção à fala desse alguém da Engenharia, e o que
vem depois vira ``frases soltas'', que também não se pode pedir
pra incluir.

\msk

{\sl Que ferramentas vão nos restar pra refletirmos sobre as
conseqüências - as que não conseguimos prever - dos nossos
atos se os espaços pra discussão são suprimidos?}

\msk

Certas ferramentas pra isto - como a obrigação formal de se
fazer atas de certas reuniões, e a obrigação pelo menos
``moral'' de que estas atas sejam fidedignas - podem parecer
desagradáveis em certos momentos, mas elas {\sl existem}, e a
existência delas tem uma origem social clara: o recado é que
{\sl é possível agir coerentemente e responsavelmente} - isto
pode exigir esforço e prática, mas este exercício é
considerado necessário, e a sociedade considera como ``adultas'' as
pessoas que fizeram este exercício o suficiente.




% --------------------
% * «como-eu»  (to ".como-eu")
% (sec "Como eu tive que sair da toca" "como-eu")
% (sec "Como eu (tive que) saí(r) da toca" "como-eu")
\mysection {Como eu (tive que) saí(r) da toca} {como-eu}

Agora deixa eu contar como é que eu {\sl tive que} deixar de ser
alguém que fica quieto num canto só olhando à distância e
comecei a participar ativamente de várias dessas confusões do
PURO... foi porque eu comecei a ficar {\sl muito mal}. As próximas
(muitas) seções vão ter ainda mais ``eu''s no texto que as
outras, por motivos óbvios.



% --------------------
% ** «carrano»  (to ".carrano")
% (subsec "A transferência do Carrano" "carrano")
\mysubsection {A transferência do Carrano} {carrano}

Em abril de 2010 o prof.\ Carrano, que tinha passado pro PURO há
pouquíssimo tempo - e num concurso pra Assistente, porque ele ainda
estava no meio do doutorado - pediu transferência, pro próprio
departamento da UFF de Niterói onde ele estava fazendo doutorado, o
TET/UFF.

Quando eu fiz o concurso pro PURO uma das coisas que me perguntaram na
entrevista foi: você realmente está a fim de trabalhar aqui?
Porque os professores tinham um pacto - informal, claro - de que o
PURO não seria usado só como trampolim pra quem queria ir pra um
campus decente (que era quase todo mundo; veja a seção
\ref{delpupo}), e só conseguiam manter o PURO como um lugar bom pra
se trabalhar por conta desse pacto... então quem queria sair antes
de terminar o estágio probatório devia fazer concurso pra outra
universidade, ao invés de pedir transferência. Eu entendi essa
idéia, achei bem razoável, e aceitei - aliás eu tinha
trabalhado uns anos como programador, cercado de colegas que faziam
exatamente o mínimo pra não serem demitidos, e que pulavam fora
deixando seus projetos pelo meio (e sem documentação,
ilegíveis, pra serem terminados pelos outros) assim que conseguiam
ser contratados em outros lugares. Isso me desesperava, e eu estava
voltando pro mundo acadêmico - fugindo do ``mundo real'', onde o
mais comum era as pessoas fazerem o mínimo que parece ok pro
``cliente'', pegarem o dinheiro e saírem correndo - porque eu
não aguentava mais.

O pedido de transferência do Carrano foi discutido à beça na
reunião de abril, mas deixado pra ser votado na reunião de maio,
na qual as discussões foram ainda mais selvagens... e no fim das
contas a maioria votou a favor de liberar o Carrano - o que me
surpreendeu, porque levou muito tempo na reunião pra aparecer a
primeira fala pró-liberação do Carrano - e talvez também
porque eu tinha uma mágoa especialmente grande do mundo no qual os
trabalhos são só trabalhos quaisquer, pra conseguir dinheiro e
benefícios pessoais, e não há uma noção de comunidade.
Além disso uma comunidade na qual a gente tem até reuniões
nas quais todo mundo pode falar é algo que dá muito trabalho pra
construir, então se dependesse de mim a gente cozinharia o Carrano
mais um bocado.

Acho que as atas dessas duas reuniões são prova do quanto a
gente discutia questões ``micropolíticas'' no PURO - a
definição {\sl formal} do que quereria dizer ``dedicação
exclusiva'' pra nós era só uma pontinha de iceberg.

Um colega meu de departamento, Reginaldo Demarque, ficou marcado por
um outro aspecto dessa reunião: a postura do Fontana - e, se não
me engano, nenhum de nós dois nunca tinha nem visto nem ouvido
falar nele antes, e eu tava no PURO desde jan/2009 e o Reginaldo desde
.../.... .

\begin{quote}

  [Reginaldôôôôô, manda a sua história preu incluir aqui?]

\end{quote}


% --------------------
% ** «e-so-assinar»  (to ".e-so-assinar")
% (subsec "É só assinar" "e-so-assinar")
\mysubsection {É só assinar} {e-so-assinar}

Na reunião do ICT de 28/out/2010 (?) um dos assuntos na pauta era
uma possibilidade de passar a professora Maria Helena, da Engenharia,
de 20h pra 40h DE. Explicaram que a Maria Helena trabalhava no
escritório de propriedade intelectual da UFF, em Niterói, no
tempo dela fora do PURO, e tinham conseguido um modo de dar esse
upgrade na contratação dela, com o acordo de que ela continuaria
meio no PURO, meio em Niterói. Como na minha cabeça a idéia
de Dedicação Exclusiva era algo que naquele momento era pra ser
discutida em todas as oportunidades possíveis, eu pedi que a gente
discutisse - e o Rodolfo disse: ``não tem nada pra discutir, é
só assinar''... {\sl caramba, como responder uma coisa dessas?} Foi
como se eu estivesse numa daquelas histórias em que a Maga
Patalógica está correndo pro Vesúvio pra derreter a moeda
nº 1 do Tio Patinhas, e ela joga uma das Bombas Bestificantes nos
patos que estão perseguindo ela, e eles ficam paralisados... apesar
de semi-paralisado eu até consegui responder alguma coisa na hora,
só que na reunião seguinte os meus pedidos de correções na
ata deram uma confusão enorme, que me deixou pior ainda...

Pra eu não ficar meses só me corroendo de mágoa e
impotência eu acabei escrevendo um monte de coisas (``notas''?) -
pessoais, que eu levei meses até mostrar pra colegas do PURO - que
pus \fnhref{http://angg.twu.net/monep.html}{aqui}, e chamei de ``Meu
ouvido não é penico''. Tem muita coisa lá, e elas são
grandes demais pra eu poder resumir aqui.

% (find-TH "monep")
% (find-TH "monep" "ata")


% --------------------
% ** «anvisa»  (to ".anvisa")
% (subsec "As bolsas Anvisa" "anvisa")
\mysubsection {As bolsas Anvisa} {anvisa}

Eu já não entendia porque é que 1) o Moacyr, como
vice-diretor do Pólo e professor nosso\footnote{O Sérgio
Mendonça, nosso diretor, ficava pelo menos metade do tempo em
Niterói, e dava suas aulas lá.}, não enxergava direito os
nossos problemas, e daí não transformava o PURO num paraíso,
2) as falas dele nas reuniões não tinham a menor concisão e
ninguém cortava, então a gente tinha que ficar um tempão
ouvindo que a reunião com o reitor foi uma reunião, éé,
muito, ããã, muito, ããã, muito difícil, éé,
ããã, muito difícil, mas a vida é assim mesmo, foi um
ano de muitas lutas, éé, muitas lutas, agora parabéns pra
nós, temos que comemorar - e aí o povo da Engenharia, que dava
as disciplinas avançadas, pra poucos alunos, ficava marcando
churrascos nas reuniões, enquanto eu me descabelava em silêncio,
e tentava trabalhar nos meus assuntos de pesquisa em cada mini-brecha
de tempo...

Aí apareceu um
\fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/festival3.html}{e-mail de
denúncia}, {\sl aparentemente} assinado por um cara do ANDES-RJ, e
que tinha sido mandado pra centenas de pessoas, até pro reitor...
tudo que era fácil verificar do que ele denunciava era verdade - e,
bom, era um e-mail {\sl assinado}, e ninguém iria mandar uma coisa
daquelas, e pôr a cara a tapa daquela forma, sem checar bastante
bem o que está dizendo - então as pessoas começaram a
repassar aquele e-mail umas pras outras e a conversar {\sl muito}
sobre ele... claro que a gente não tinha tempo de checar tudo, mas,
repara, a universidade pública {\sl deveria} ser o lugar em que as
coisas são mais transparentes, então o que exatamente andava
acontecendo - e era centenas de coisas - que fazia com que as
denúncias nele {\sl soassem} tão verdadeiras?

% (find-es "tex" "floats")
% (find-TH "2010-conseq")
% (find-TH "2012.2" "textos")


% --------------------
% ** «conseq»  (to ".conseq")
% (subsec "Primeira denúncia/desabafo" "conseq")
\mysubsection {Primeira denúncia/desabafo} {conseq}

Em 16/nov/2010, depois de um fim de semana me contorcendo em casa sem
saber o que fazer a respeito dessas últimas notícias que eu
tinha tido sobre o PURO, eu escrevi um texto curto {\sl muito} amargo
- porque quando eu escrevo sobre algo que me perturba muito eu consigo
parar de repetir tanto os meus pensamentos sobre aquela coisa - e
daí levei uns 3 dias pra ter coragem de mostrá-lo pra colegas, e
não sei mais quantos dias pra decidir pô-lo na minha página.
Vou transcrever o corpo desse texto aqui - mas aviso que a versão
online, \fnhref{http://angg.twu.net/2010-conseq.html}{aqui}, está
cheia de links - inclusive pro tal e-mail da denúncia - então
visite-a...

(Obs: a menção aos ``efeitos sobre os alunos'' tem a ver com um
caso endêmico de cola numa turma minha no fim de 2009, e com as
respostas - {\sl bizarras} - que os alunos envolvidos deram tentando
se defender; veja as
minhas \fnhref{http://angg.twu.net/2009-cola.html}{Notas sobre cola}).

\begin{quote}

  Sabemos que os alunos de Engenharia de Produção nunca se
  envolvem politicamente com nada - eles dizem que ``não têm
  tempo'', que essas coisas ``não funcionam'', que elas ``não têm
  a ver com eles'', e que participar de manifestações ``pode
  prejudicá-los''.

  Muitas pessoas já receberam um e-mail da ANDES-RJ com o
  título: ``INTERVENÇÃO NA UFF - FESTIVAL DE
  COR\-RUP\-ÇÃO''. Este e-mail contém uma denúncia sobre o
  Projeto Anvisa, que envolve vários professores de Engenharia de
  Produção do PURO - mas só o Moacyr, vice-diretor do
  pólo, é citado nominalmente -, e várias outras denúncias
  sobre a Reitoria. Mas estas denúncias são apenas denúncias
  por enquanto... o que temos de absolutamente concreto são estas
  relações de despesas do governo (clique em ``Lista dos
  favorecidos finais''):

  \msk

  {\it [Aqui a página tem vários links pro Portal
  Transparência do governo. Visite-os pra ver quem recebia
  R\$\,11\,000 por mês e quem recebia R\$\,4\,500.]}

  \msk

  Suponha que o TCU aceite a denúncia e investigue estas despesas.
  O que vai acontecer? Os envolvidos podem ter que prestar contas,
  podem ter que responder a um processo... Punições além
  deste ponto são raras - o que aconteceu com o Reitor até
  agora? E com o Lentino? E será que estes nossos professores
  vão passar a se dedicar menos ainda ao PURO porque estarão
  ocupados preparando prestações de contas e defesas???...
  Será que eles não poderiam ter agido transparentemente e de
  acordo com a lei desde o início?

  Os professores que tiverem que responder a estes processos
  ficarão com suas reputações ligeiramente arranhadas. Quais
  as conse\-qüên\-cias disto? Será que isto afetará os
  outros professores da Engenharia de Produção de algum modo? O
  que eles acham disto tudo? Se o Moacyr for processado, por exemplo,
  será que eles vão achar só que foi uma fatalidade?... Que
  este é o modo mais eficiente de se fazer negócios, que as
  exigências de transparência feitas pelo governo só
  atrapalham, que se o Moacyr foi pego foi porque ele foi otário, e
  o que aconteceu com ele não tem nada a ver com os outros?

  Professores são sempre formadores de opinião (em algum
  sentido). Estes professores mostram para os seus alunos como o
  ``mercado'' funciona - e mostram que o risco de ser denunciado
  sempre faz parte do negócio. ``Empreendedorismo'' talvez seja
  isto - aproveitar as melhores oportunidades, tentando minimizar os
  riscos. E ``profissionalismo'' envolve fazer alianças, se
  expôr pouco, e acobertar os colegas... Estes professores formam
  os {\sl alunos} da Engenharia de Produção - que não se
  envolvem em questões ``morais'' ou ``políticas'', porque
  estão muito ocupados, porque teriam muito a perder, e porque eles
  não sentem que têm a ver com o que acontece em torno deles.

  Esta atitude - eles são ``práticos'' e ``realistas'', os
  outros são ``sonha\-dores'' e ``idealistas'' - está quase que
  completamente consolidada, e não vai mudar só com uma ou duas
  passeatas, ou com eles sendo mal-vistos durante uma semana, ou com
  umas poucas pessoas centrais tendo que enfrentar prestações de
  contas e um processo. A questão, para todos os que se incomodam -
  alunos, professores, funcionários, amigos, parentes, cidadãos,
  que pagam impostos diretos ou indiretos - é maior, e é
  permanente: como lidar como estas pessoas no dia-a-dia? Como
  dialogar com elas se as nossas questões ``morais'' pra elas
  são ``frescuras''? Se elas não são nem mesmo mal-vistas
  socialmente, quais são as conseqüências - para elas - do
  que elas fazem? Se não fazemos nada estamos sendo cúmplices? O
  que podemos fazer pra que honestidade deixe de ser ``coisa de
  otário''?

\end{quote}



% --------------------
% ** «esclarecimentos»  (to ".esclarecimentos")
% (subsec "Esclarecimentos (péssimos)" "esclarecimentos")
\mysubsection {Esclarecimentos (péssimos)} {esclarecimentos}

Aí em 25/nov/2010 teve uma reunião extraordinária do CONPURO
pra pedir esclarecimentos sobre o projeto Anvisa, e eu fui nela... os
``esclarecimentos'' me deixaram mas chocado ainda, e eu me contorci
durante de angústia e raiva mais uns dias, e escrevi mais
isto \fnhreff{http://angg.twu.net/desnevizacao.html}{aqui} - que
aliás foi onde eu inventei o termo ``zumbis'', que eu continuo
usando até hoje, porque é prático.

\begin{quote}

  {\bf Sobre competência (pra ganhar dinheiro)}

  Eu queria conseguir esquecer dos problemas rapidamente, como as
  outras pessoas em torno de mim. Mas eu não consigo. Algumas
  coisas que foram ditas na reunião do CONPURO de 25/nov/2010 - a
  que tinha como um dos pontos de pauta ``esclarecimentos sobre o
  projeto ANVISA'' - não me saíram da cabeça até agora, e
  ficam voltando... é MUITO desagradável.

  Uma delas foi o João dizendo que acha um absurdo essa coisa dos
  brasileiros terem vergonha de dizer abertamente o quanto ganham; que
  nos EUA é exatamente o contrário, lá as pessoas têm
  orgulho de dizer ``eu ganho 100\,000 por mês'', porque isso quer
  dizer que elas VALEM 100\,000 por mês.

  Outra foi o Fontana dizendo que eles ganham as bolsas de entre
  4\,500 e 11\,000 reais por mês da ANVISA porque eles são
  competentes e o trabalho deles é muito bom, e se os outros não
  são competentes é problema deles.

  Outra foi o João dizendo que quem repassou
  o \fnhref{http://angg.twu.net/PURO/festival3.html}{e-mail da
  denúncia} sem checar a veracidade dele é um irresponsável,
  que deve ser processado por calúnia, difamação e danos
  morais (detalhe:
  no \fnhreff{http://angg.twu.net/monep.html\#almoco}{almoço de
  25nov2010} ele disse que se fosse ele que tivesse recebido aquele
  e-mail anônimo que o Fábio recebeu ele teria acionado a
  polícia pra descobrir de quem foi, processado o aluno, e
  recorrido em todas as instâncias... e aí o aluno ia perder uns
  50 ou 60 mil se defendendo, e ia aprender uma lição - e ele,
  João, tem um seguro-advogado que permite a ele mover um processo
  desses de graça). Bom, pelo menos essa do ``tem que ser
  processado por calúnia, difamação e danos morais'' eu
  consegui responder!... Eu expliquei que eu é que tinha repassado
  o e-mail, junto com
  um \fnhreff{http://angg.twu.net/2010-conseq.html}{texto extra}, e
  fiz isso mesmo sabendo que eu corria o risco de ser processado e
  aí passar três anos gastando metade do meu salário com
  custas de processo... e não fiz isso nem anonimamente nem
  levianamente. Eu já fiquei doente várias vezes por questões
  relacionadas às condições de trabalho no PURO (ainda não
  tive nada que afetasse a minha vida profissional, mas estava à
  beira de, e já tive estragos enormes em todo o resto da minha
  vida) e, realmente, eu não tinha como checar sozinho se as
  denúncias eram verdadeiras, mas o que eu fiz foi pra pra gerar
  discussões, que eu acreditava que iriam melhorar as
  condições de todos.

  \msk

  Eu ainda penso com freqüência que eu ganho metade do que o Neves
  ganha, e um terço do que o Moacyr ganha, e portanto eu valho metade do
  que o Neves vale, e um terço do Moacyr; o Neves é duas vezes melhor
  que eu, e o Moacyr é três vezes melhor.

  Fiquei sabendo que muitos funcionários ganham bolsas da Prefeitura
  - bolsas de fixação? - como auxílio e incentivo para ficarem em Rio
  das Ostras. A prefeitura não tem nos repassado as verbas que deve,
  então por enquanto estas bolsas estão sendo pagas pela FEC, mas elas
  terão que ser cortadas em breve - até porque os acordos com a
  Prefeitura acabaram. Parece que os valores dessas bolsas são meio
  arbitrários - e que é comum quando a gente pede a um funcionário pra
  assumir uma tarefa extra que ele pergunte quanto de bolsa ele vai
  ganhar. E, evidentemente, os que não ganham essas bolsas se sentem
  desvalorizados, e, por motivos humanos que todo mundo entende, eles ou
  não assumem as novas tarefas ou as fazem mal. Criou-se uma situação na
  qual a gente vale o que ganha, e as comparações com os colegas - e a
  sensação de injustiça - são inevitáveis.

  Com os cortes das bolsas pra funcionários vamos começar um processo
  de desnevização do PURO. Tomara que dê certo.

  \msk

  A questão da ``competência'' (pra ganhar dinheiro) fica me
  voltando à cabeça. O RCT só tem um incompetente assumido -
  que sou eu. Eu tentei virar programador numa época, exatamente
  pra ganhar dinheiro - o meu objetivo era juntar o suficiente pra eu
  ir pra Inglaterra fazer o curso de formação em Técnica
  Alexander - e deu \fnhref{http://angg.twu.net/omnisys.html}{tudo
  errado}. Eu não tinha a estrutura psicológica pra ser um bom
  profissional. Eu me incomodava com questões ``éticas'' da vida
  dos outros que não eram da minha conta, achava que muitas
  brincadeiras que eles faziam pareciam ``bonding rites'' de mafiosos,
  e, por mais que eu tentasse fazer com que isso não transparecesse
  e não afetasse o meu trabalho, eu acabava ficando desgastado, e
  os meus colegas ficavam muito incomodados por eu não me entrosar
  e me expeliam. Isso aconteceu várias vezes, e eu voltei pro mundo
  acadêmico.

  \msk

  Era pra nós nos concentrarmos em educação, pesquisa e em
  criarmos condições pra esse lugar funcionar, mas tá
  difícil não ficar pensando demais em dinheiro. Na verdade a
  gente {\sl tinha} vários mecanismos pra fazer com que as
  questões de dinheiro fossem sempre secundárias, mas eles foram
  subvertidos.

  \msk
  \msk

  {\footnotesize ({\sl Update:} não sei por quanto tempo eu ainda vou
  conseguir manter o controle... daqui a pouco eu também vou virar uma
  célula cancerígena, devorando os recursos do organismo do qual eu faço
  parte e provocando mutações malignas nos meus poucos colegas
  saudáveis. Vou decretar que eu fui mordido pelos zumbis - afinal,
  depois de tantos anos tentando resistir - e agora virei um deles. Não
  serei mais responsável pelos meus atos: estarei simplesmente fazendo o
  que todos fazem, me alimentarei de carne humana fresca e - nham, nham!
  - cérebros, porque isto é da minha natureza. Farei parte da massa,
  serei rico, inconsequente, normal e feliz.)}

\end{quote}



% --------------------
% ** «queremos»  (to ".queremos")
% (subsec "Queremos bolsas da Anvisa de onze mil reais" "queremos")
\mysubsection {Queremos bolsas da Anvisa de onze mil reais} {queremos}

\begin{itemize}

\item 16/nov/2010: meu \fnhref{http://angg.twu.net/2010-conseq.html}{texto}
  sobre as denún\-cias das bolsas ANVISA.

\item 25/nov/2010: reunião do CONPURO pra esclarecimentos sobre
  o projeto ANVISA; fiquei tão chocado com os argumentos
  apresentados que
  escrevi \fnhref{http://angg.twu.net/desnevizacao.html}{este texto}.

\item 8/jun/2011: fica pronto o primeiro lote de 27 camisetas do
  ``queremos bolsas da Anvisa de onze mil reais'', em várias cores
  diferentes. Nos dois dias seguintes quase todas elas são
  vendidas, e o PURO se enche de pessoas com camisetas ``queremos
  bolsas da Anvisa de onze mil reais''. Eu me sinto uma pessoa
  pública pela primeira vez, e também é a primeira vez que eu
  fico realmente feliz no PURO, ao invés me sentir só nervoso,
  culpado, envergonhado, e em dívida.

$$\includegraphics[scale=0.15]{queremos4.pdf}$$

\end{itemize}


\msk
\msk

[Será que não ocorre a eles que o que os deixaria numa
posição bem mais segura seria eles trabalharem pra transformar o
PURO num paraíso pra todos? Será que eles não viram que o que
está implícito em ``Queremos bolsas da Anvisa de onze mil
reais'' é ``agora nós queremos bolsas da Anvisa de onze mil por
mês pra {\sl todo mundo} - alunos, professores e funcionários''?]



% --------------------
% ** «chapa1»  (to ".chapa1")
% (sec "As eleições de 2011 no PURO" "chapa1")
\mysection {As eleições de 2011 no PURO} {chapa1}

% [18/nov/2010 a 24/mar/2011: eleição para direção do ICT - detalhes
%   \fnhref{http://angg.twu.net/2011-eleicoes.html}{aqui}]

% (find-TH "chapa1")
% after:2011/6/2 before:2011/7/1

Então. Em ??/jun/2011 eu estava numa mesa com vários colegas
meus (``humanos'', não ``zumbis'', na terminologia do link acima),
que estavam tentando montar uma chapa com candidatos não-zumbis pra
Direção do Pólo e pra representação nos conselhos
superiores da UFF. Eles não estavam conseguindo arranjar ninguém
pra posição de vice-diretor, e apesar de eu sempre ter sido
avessos a grupos e a política, me perguntaram se eu aceitaria...
lembro da minha frase: ``a minha namorada vai me matar, mas vamos
lá''... $=)$





% --------------------
% ** «debate»  (to ".debate")
% (subsec "O debate entre as chapas" "debate")
\mysubsection {O debate entre as chapas} {debate}

Uma das perguntas que fizeram pra mim no debate - e que talvez tenha
sido o motivo principal pra destruírem as gravações - foi a
seguinte.

% [Pergunta do Edwin sobre prazos; pedido de retração feito pela
% Ana Isabel (que ele é coordenador de curso, etc); eu disse que
% achava que pergunta era boa e queria responder; copiando de outra
% página, Acho que ele foi pressionado a apagar as gravações
% porque um zumbi fez uma pergunta que pegou muito mal - como é que
% eu podia me candidatar à vice-direção se eu tinha
% dificuldades até em entregar as provas corrigidas dentro do prazo
% estabelecido pelo regulamento, e alunos já tinham feito
% abaixo-assinados contra mim reclamando disso - e eu respondi
% brilhantemente, falando das [R 2009-cola.html dificuldades] que eu
% tive e que qualquer professor iniciante vai ter e explicando como a
% gente tem que lidar com esses problemas [IT abertamente].]

O Edwin disse que quem está na Direção do Pólo tem que
lidar com milhares de prazos que não podem ser descumpridos de
jeito nenhum, e com milhares de regras idem, e que é sabido e
notório que eu sou péssimo com prazos e regras, que eu nunca
consigo nem entregar as provas dos meus alunos corrigidas no prazo que
o regulamento estabelece, e que isso já gerou até
abaixo-assinados contra mim, então como é que eu posso estar me
candidatando à vice-direção.

A Ana Isabel - e várias outras pessoas na audiência - se
revoltaram contra essa pergunta, disseram que aquela pergunta já
poderia ser considerada anti-ética de ser feita publicamente se o
Edwin fosse só um professor comum, mas que o Edwin ainda por cima
era o coordenador do curso de Engenharia de Produção, que aquilo
era inadmissível etc etc, que ele se retratasse -

Eu fiquei tentanto interromper essa situação, dizendo que gente,
por favor, a pergunta é boa, eu quero responder.

% (find-TH "tattoo")
% (find-TH "2009.1")
% (find-TH "contact")

\msk

Eu expliquei que quando eu comecei a dar aulas no PURO, em 2009.1, eu
tinha pouca experiência como professor (só um ano, como
substituto na FEBF em 2004), e me deram três turmas, cada uma de
uma disciplina diferente, que eu nunca tinha dado antes, e que ainda
por cima meus horários eram às 2ªs, 4ªs e 6ªs... eu
achava que eu iria dar conta indo e vindo sempre entre RO e o Rio de
Janeiro como a maioria dos nossos professores, mas não, e mesmo
depois que eu consegui alugar uma casa em RO o ritmo de trabalho ainda
era pesadíssimo, minhas disciplinas eram das mais difíceis,
turmas grandes e de primeiros períodos, com índices de
reprovação tradicionalmente gigantescos, e eu achava que
explicava as coisas direito mas nas provas descobria que não, que
os alunos mostravam que não sabiam coisas que eu não imaginava
que alguém podia não saber, que eu realmente demorava muito pra
encontrar uma correção mais ou menos justa, que considerasse
raciocínios certos, não punisse alunos por furos meus, os
incentivassem a pensar e escrever mais ao invés de só decorarem
técnicas, e ao mesmo tempo não deixasse passar quem não teria
base pra acompanhar as disciplinas seguintes - e que {\sl praticamente
cada professor que contratássemos começaria sem experiência e
portanto péssimo}, nosso índice de evasão de professores é
enorme (principalmente na Computação), porque o mais comum é
os professores começarem nos campi do interior logo depois do
doutorado e depois fazerem concursos para os grandes centros nas
capitais, onde dá pra fazer pesquisa... que o meu caso podia ser
extremo mas não era atípico, e que a questão certa é {\sl
qual o melhor modo de lidar com isso}, e que eu acredito que
precisamos é poder {\sl lidar com os problemas abertamente} - e que
qualquer pessoa na direção vai ser atacada milhares de vezes,
todos os dias, e mesmo o Walter e o Magini, que pra mim eram as
pessoas mais preparadas que já tivemos na direção, foram
tão atacados que só aguentaram um ano, que a Eblin e Eu, ou o
Bazilio e o Áureo, seriam dez vezes mais atacados, e que uma aura
de perfeição ou de auto-suficiência seria algo perfeitamente
inútil, e que só atrapalharia - ah, e que a gente está sempre
escolhendo o que sacrificar, que nos meus cursos eu escolhi sacrificar
certos prazos, que quem tá na direção tem que conseguir que
as decisões do tipo ``o que sacrificar'' sejam tomadas com o maior
respaldo possível da comunidade, e aí é que entram a
transparência e criar condições pra que as pessoas fiquem
à vontade pra debater - e que eu frequentemente tenho ataques de
vergonha pelos cursos ruins que eu já dei, mas que eu lido com isso
tentando encontrar algo de ``universal'' nos problemas pelos quais eu
passei e daí produzir algo que ajude todo mundo a lidar com
problemas como aqueles - por exemplo, depois um caso endêmico de
cola numa turma minha em 2009.2 eu passei semanas escrevendo um texto
grande, pra debate,
chamado \fnhref{http://angg.twu.net/2009-cola.html}{Notas sobre cola},
que acabou sendo lido - e usado - por um monte de professores e
alunos...

% mas que, talvez por eu
% ter vindo do movimento do Software Livre, eu acabava escrevendo
% bastante, até sobre isso, e que depois de um -
% e que
% realmente, eu frequentemente ainda me sentia péssimo pela vergonha
% de ter dado cursos muito ruins, e que eu tentava fazer algo de {\sl
% útil} com aquilo, que

% (find-TH "2009-cola")


\msk

Teve uma outra fala que eu fiz nesse debate que também me deixou
super orgulhoso - e esperançoso, explico porquê depois - e {\sl
muito} puto por ela ter sido apagada e perdida. Vou tentar reconstruir
as idéias dela como der.

A Francine, aluna da Produção Cultural, apareceu com um trecho
impresso de uma discussão no Facebook da qual eu participei - no
grupo ME PURO, que naquele momento era quase só de alunos, mas
tinham me convidado pra fazer parte dele - e que por falta de
prática em Facebook eu achava que era uma discussão entre poucas
pessoas, mas no fim das contas era algo cujo log ficava disponível
pra todos (o que pra mim não era tão grave, mas pra Francine
era, etc etc). Então: no meio de um chat em grupo com várias
pessoas alguém me perguntou o que eu achava do Bazilio, e eu fui
sincero e disse que eu achava que ele evitava tanto dizer coisas que
pudessem pegar mal que ele acabava não conseguindo se desvencilhar
de certas situações complicadas, e sob certos pontos de vista
ele acabava sendo cúmplice de coisas graves.

A Francine me perguntou se eu não achava anti-ético dizer coisas
como aquelas em público, ainda mais numa situação na qual o
Bazilio não estava presente, e era sequer membro do grupo, e não
teria como se defender.

Não sei bem como eu estruturei a resposta, mas eu fui sacando que
não era só uma questão de ``é ético sim'' ou ``não
é não'', e de encontrar o modo certo de me desculpar - fui
associando idéias e acabei dizendo que eu achava que talvez fosse
melhor a gente aproveitar aquele momento pra pensar sobre os vários
modos que as pessoas têm de lidar com privacidade (eu já tinha
explicado que eu estava acostumado com listas de discussão de
Software Livre, em que as besteiras que a gente diz e que os outros
dizem sobre a gente continuam disponíveis dez anos depois) e com
denúncias e com acusações de que algo que fulano fez é
errado, anti-ético, imoral ou ilegal; eu que aliás eu vivia
falando de ``transparência'', mas isso é algo que não é
nada óbvio de se pôr em prática, então vamos pensar a
respeito da tal ``farra das diárias''
(seção \ref{farra-das-diarias}) da qual tanto se falava... a
direção tem muito pouco poder na prática, mas tem
responsabilidades enormes e tem que lidar com expectativas enormes - e
talvez a maior parte do trabalho da Direção seja {\sl
político}, no sentido de ajudar os muitos segmentos do PURO, que
é um saco de gatos, a funcionarem uns com os outros, e muitas vezes
vão esperar que a Direção faça papel de juiz ou de
mediador quando acusações vêm à tona, como por exemplo a
história da dita ``farra das diárias'', cujos documentos
estão arquivados na Direção.

Quando essa história aconteceu o PURO tinha muito dinheiro
sobrando, não sabemos quais eram os critérios daquela época
pra pedidos e concessões de diárias, e seria possível até
que pegasse {\sl muito} mal alguém dizer ``não, obrigado, aceito
fazer essa tarefa mas não quero receber R\$\,5\,000 em diárias
como bônus''. Agora, que não temos dinheiro pra nada, é
natural pensarmos que as pessoas que receberam R\$\,5\,000,
R\$\,10\,000, R\$\,30\,000 em diárias são ``uns canalhas'' - mas
isso também é {\sl ingênuo} e {\sl contraproducente} - e se
queremos funcionar temos que pensar em como lidar com nossa
tendência ao denuncismo e a demonizar as pessoas que fizeram coisas
que hoje em dia nos parecem erradas. Temos que começar a pensar em
que atitudes podemos ter, pensando nas consequência de cada uma -
então, por exemplo, descartar pessoas que fizeram algo
anti-ético é evidentemente ruim, e perdoar e esquecer tudo
também é...





% --------------------
% ** «debate-apagado»  (to ".debate-apagado")
% (subsec "O apagamento da gravação do debate" "debate-apagado")
\mysubsection {O apagamento da gravação do debate} {debate-apagado}

% welington DVDs documento expectativa

{\sl Junho de 2010: meu casamento por um fio, porque eu sempre chegava
no Rio exausto e uma pilha de nervos - a Valeria tentava me apoiar,
mas vez ou outra ela chegava no limite dela e acabava explodindo
também -}

\msk

A coisa no PURO que me dava mais esperança eram as reuniões
do CONPURO, presididas pelo Walter e pelo Marcio Magini, nas
quais a gente via claramente uma tentativa honesta, por parte de
{\sl muitas} pessoas, de lidar com os problemas abertamente e em
grupo de forma construtiva...

Acho que o melhor link que eu tenho sobre o que eram essas
reuniões é este texto aqui,
\fnhref{http://angg.twu.net/2011-bctp.html}{``Queremos boas
condições de trabalho para direções transparentes''}, que
é basicamente um e-mail que eu escrevi pro Marcio e pro Walter
quando eles pediram suas exonerações da direção.

% (find-TH "2011-bctp")
% (find-TH "chapa1")

A cronologia de todo este processo, com link pra vários
documentos e e-mails, está nesta página:
\fnhref{http://angg.twu.net/chapa1.html}{Chapa 1 - PURO 2011} -
mas o que eu quero fazer nesta seção é tentar
reconstruir algumas das coisas que eu disse no 2º debate - o
que foi
\fnhref{http://angg.twu.net/chapa1.html\#apagamento}{apagado.}





% --------------------
% ** «telefonia»  (to ".telefonia")
% (subsec "Telefonia" "telefonia")
\mysubsection {Telefonia} {telefonia}

Algumas pessoas têm a mania de reclamarem que foram ``expostas''
quando a gente publica algo que elas escreveram ou disseram, então
aqui vão duas mensagens que eu é que escrevi, e que postei no ME
PURO em 20/out/2011 e também mandei por e-mail pra muitas pessoas.

\begin{quote}

  Descobrimos que o PURO tem telefones celulares institucionais da
  Claro, e topo de linha... um cara do NTI de Niterói veio aqui pra
  tentar entender os nossos problemas de comunicação - telefonia
  e internet - e ficou surpreso de nós estarmos usando uns poucos
  Nextels aos invés desses Claros... Aí ele olhou nos registros
  dele e descobriu que só uma pessoa do PURO usa esses Claros
  institucionais: o prof.\ Fontana, da Engenharia de Produção,
  aquele que é titular e é lotado no PURO, mas que conhece tanto
  da UFF e é tão bom pra fazer questões políticas andarem
  que ele não dá aula - ele tem um cargo de Assessor Especial da
  Direção do Departamento de Engenharia de Produção e ele
  só vem aqui em algumas quintas-feiras, quando há reuniões
  da EP.

  Gente, por favor, aproveitem essas quintas-feiras pra fazer todas as
  ligações que vocês gostariam de fazer usando telefones
  institucionais do PURO. Peçam o telefone do Fontana emprestado. E
  avisem os seus professores.

  \msk

  Ah, não sei se ficou claro, mas a minha sugestão é séria...

  O Fontana é meio grosso às vezes, mas se duas ou três
  pessoas - mais corajosas, mais caras-de-pau, ou o que for - pedirem
  o telefone dele emprestado a solução mais prática pra ele
  vai ser ele explicar como outras pessoas podem solicitar telefones
  como o que ele tem...

\end{quote}

Um bom resumo da situação dos nossos telefones aparece no
relatório de gestão do Walter e do
Magini, \fnhref{http://angg.twu.net/PURO/relatorio_wm/relatorio_gestao_tabela.pdf}{aqui}.







% --------------------
% ** «atas-conpuro»  (to ".atas-conpuro")
% (subsec "Atas do CONPURO" "atas-conpuro")
\mysubsection {Atas do CONPURO} {atas-conpuro}

Um e-mail que eu mandei pra um monte de gente em 1º/nov/2011:

\begin{quote}

Oi pessoas do CONPURO, com cópia pra outras,

será que vocês poderiam pedir a inclusão de um item na ata da
próxima reunião do CONPURO - a próxima vai ser agora na 6ª
4/novembro, não é? - sobre disponibilização de atas de
reuniões e outros documentos?...

Eu solicitei à Direção do Pólo cópias de todas as atas
do CONPURO - primeiro por e-mail, em 3/setembro, depois por escrito,
em 8/outubro - e na última quinta perguntei ao Bazilio se ele já
tinha pelo menos confirmado que as atas do CONPURO são realmente
documentos públicos, e ele - aham, como posso dizer? - me disse,
{\sl de novo}, que ele não se sente à vontade de me dar
cópias das atas de reuniões nas quais ele não estava sequer
presente... {\sl maaaaaaas} ele disse que se isto for discutido no
CONPURO e a decisão de liberar cópias destas atas tiver o
respaldo de outros conselheiros, aí ele não vai ser o único
responsável, e tudo bem...

\end{quote}

Acho que essa posição só faz sentido se: 1) o Bazilio sente
que a Direção é um mar de ``documentos sensíveis'' e pisa
em ovos, 2) eu sou visto como alguém que vai usar qualquer
documento ``para o mal''.

Obs: a chapa 2 pra direção - Bazilio e Áureo, mas o
Áureo \fnhreff{http://angg.twu.net/chapa1.html\#sem-vice}{não
foi nomeado} - tinha um item sobre transparência na
sua \fnhreff{http://angg.twu.net/chapa1.html\#propostas-de-gestao}{proposta
de gestão}, mas acho que eles não faziam idéia de quanta
energia seria necessária pra implementar transparência no PURO,
e acabaram sacrificaram este item.

% (find-TH "chapa1" "propostas-de-gestao")
% (find-TH "chapa1" "sem-vice")

\msk

Em 18/nov/2011 - depois que ficou {\sl muito} claro na reunião do
CONPURO que atas de reunião são {\sl públicas} - a
Direção disponibilizou estas
atas \fnhref{http://www.puro.uff.br/direcao/}{aqui}.



% --------------------
% ** «sindicancia»  (to ".sindicancia")
% (subsec "Comissão de Sindicância" "sindicancia")
\mysubsection {Comissão de Sindicância} {sindicancia}

% http://www.prograd.uff.br/novo/bancodearquivos/regulamento-dos-cursos-de-graduacao-112008

Em 15/jul/2011 cinco alunos que tinham cursado
\fnhreff{http://angg.twu.net/2011.1-GA.html}{Geometria Analítica
comigo em 2010.1} entraram com pedidos de ``desconsideração de
disciplina'' na coordenação de curso da Engenharia de
Produção, pra que as suas reprovações em GA naquele
semestre fossem eliminadas dos seus históricos. Este pedido era bem
razoável - o
\fnhref{http://www.prograd.uff.br/novo/sites/default/files/regulamentocep.pdf}{regulamento}
permite isto, e várias das alegações eram verdadeiras, por
exemplo a de que eu não tinha cumprido a ementa toda... obs: era
uma turma de ``excedentes'' com CR baixo, criada várias semanas
depois das outras, e eu tive um trabalho enorme pra fazer com que eles
parassem de querer sempre ``decorar e aplicar as fórmulas''...

Pois bem, esse pedido foi discutido na reunião do Colegiado de
Curso da Engenharia de 1º/set/2011 (``Trata-se, em verdade, da
situação crônica que envolve o professor Eduardo Ochs'' -
linha 44\footnote{o draft em PDF diz algo como ``o problema Eduardo,
que já dura três anos'' (?) - conferir} e aí pedem que se
crie uma ``comissão de sindicância'' pra averiguar os fatos.

O que acho mais importante ressaltar neste caso é que depois que os
alunos submetem o pedido de desconsideração da disciplina esse
pedido sai de cena completamente - seria trivial aprová-lo com uma
votação no Colegiado, mesmo sem todos os dados, como
um \fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/cccomp/2011-07-07-cccomp-ata.pdf}{pedido
similar} feito na Computação no semestre anterior - mas acho que
não há mais menção a estes alunos ou ao pedido em nenhum
documento da Engenharia, só a sindicância passa a importar
[explicar como isto foi usado na reunião da unidade de 27/out/2011,
na qual um dos pontos de pauta {\sl deveria} ser a aprovação do
meu estágio probatório - mas usaram vários argumentos pra
tentarem impedir a inclusão desse ponto de pauta].

\msk

[O relatório final da comissão está \fnhref{?}{aqui}, com o
nome ``Relatório Conclusivo para substanciar parecer do RFM em
relação aos fatos relatados no memo RGN005/2011 encaminhado pela
Direção da Unidade' - porque o processo de abertura de uma
comissão de sindicância era algo totalmente diferente, que
não cabia neste caso.]





% --------------------
% ** «reefer»  (to ".reefer")
% (subsec "Projeto FINEP: container reefer" "reefer")
\mysubsection {Projeto FINEP: container reefer} {reefer}

Em 14/set/2011 ficamos sabendo, a partir de uma mensagem de
parabéns - meio irônica, mas essa nem fui eu que escrevi (!!!) -
para membros do LEI (``Laboratório de Empreendimentos Inovadores'',
do PURO), que um projeto do LEI, chamado ``MICROS - Mini Container
Reefer Off-Shore'', tinha sido aprovado pela FINEP. Repassei os links
que eu tinha - eu só tive acesso a respostas de respostas pra
respostas do parabéns original, que não incluíam o anexo com
o documento do projeto - pro \Index{ME PURO}, terminando com:

\begin{quote}

  O projeto é em conjunto com uma empresa externa, mas mesmo
  sabendo disso não consigo deixar de ficar pasmo com o valor:
  R\$\,3.417.429,74.

  Comentários?

\end{quote}

Um aluno da Engenharia membro do LEI respondeu isto aqui:

% Diogo Cevolani Camatta 9:51pm Sep 15
% 15/set/2011(?):

\begin{quote}

  Esse é um projeto da FINEP em um edital público federal com
  dinheiro público. Os dados são publicos e disponíveis.
  Duvidas devem ser levadas em condução formal ao CNPq ou FINEP.

\end{quote}

Pra resumir: os dados não são tão públicos e
disponíveis não - nunca consegui ter acesso a esse projeto. No
PURO tudo parou mais ou menos por aí, com esse tom de ``vai se
queixar com o bispo'', ninguém resolveu dar uma cópia do projeto
de boa vontade, e eu não quis forçar a barra. Ah, e num dia em
que eu estava no Centro do Rio eu passei pelo prédio da FINEP pra
ver se dava pra conseguir cópia por lá, e o funcionário
simpático que me atendeu foi falar com um cara mais graduado, que
veio meio assustado, e acabou chamando um cara mais velho que parecia
saber de tudo e saber lidar corretamente com situações
estranhas, e esse cara disse que eu teria que ter alguma justificativa
{\sl muito} boa, porque eles não dão cópia de projetos pra
qualquer um não.

Era pra termos feito alguma espécie de ``condução formal''?

Aqui vai mais um trecho do {\sl Debt} (pp.332--333), só porque ele
é bom pra iniciar discussões
sobre \Index{judicialização}...

\begin{quote}

  The story of the origins of Capitalism, then, is not the story of the
  gradual destruction of traditional communities by the impersonal power
  of the market. It is, rather, the story of how an economy of credit
  was converted into an economy of interest; of the gradual
  transformation of moral networks by the intrusion of the impersonal -
  and often vindictive - power of the state. English villagers in
  Elizabethan or Stuart times did not like to appeal to the justice
  system, even when the law was in their favor - partly on the principle
  that neighbors should work things out with one another, but mainly,
  because the law was so extraordinarily harsh. Under Elizabeth, for
  example, the punishment for vagrancy (unemployment) was, for fist
  offense, to have one's ears nailed to a pillory; for repeat offenders,
  death.
  
  The same was true of debt law, especially since debts could often, if
  the creditor was sufficiently vindictive, be treated as a crime. In
  Chelsea around 1660,
  
    \begin{quote}
  
    Margaret Sharples was prosecuted for stealing cloth, ``which she had
    converted into a petticoat for her own wearing,'' from Richard
    Bennett's shop. Her defense was that she had bargained with with
    Bennett's servant for the cloth, ``but having not money sufficient
    in her purse to pay for it, took it away with with purpose to pay
    for it as soon as she could: and that she afterwards agreed with
    Mr.\ Bennett of a price for it.'' Bennett confirmed that this was
    so: after agreeing to pay him 22 shillings, ``Margaret delivered a
    hamper with goods in it as a pawn for security of the money, and
    four shillings ninepence in money.'' But ``soon after he disliked
    upon better consideration to hold agreement with her: and delivered
    the hamper and goods back,'' and commenced formal proceedings
    against her.
  
    \end{quote}
  
  As a result, Margaret Sharples was hanged.
  
  Obviously, it was the rare shopkeeper who wished to see even his most
  irritating client on the gallows. Therefore decent people tended to
  avoid the courts entirely. One of the most interesting discoveries of
  Craig Muldrew's research is that the more time passed, the less true
  this became.

\end{quote}






% --------------------
% * «fuga-dos-zumbis»  (to ".fuga-dos-zumbis")
% (sec "A fuga dos zumbis" "fuga-dos-zumbis")
\mysection {A fuga dos zumbis} {fuga-dos-zumbis}

% ** «cabo-frio»  (to ".cabo-frio")
% (subsec "Cabo Frio" "cabo-frio")
\mysubsection {Cabo Frio} {cabo-frio}

Em março de 2012 ficamos sabendo, por esta
notícia \fnhref{http://uni-amacaf.blogspot.com.br/2012/01/prefeitura-e-uff-debatem-universidade.html}{aqui},
que alguns membros do departamento Engenharia de Produção do
PURO estavam tendo reuniões com a prefeitura de Cabo Frio, sobre a
possível implantação de cursos lá - com ``90 professores e
1500 alunos''.

Ora, se as universidades federais não estão conseguindo
contratar professores suficientes - e as estaduais idem -, de onde
é que apareceriam esses 90 professores? Será que estes
professores da Engenharia foram a Cabo Frio apresentar um estudo de
viabilidade? Será que o sorriso deles na foto quer dizer ``estamos
todos muito felizes porque descobrimos que é viável sim''?

Isto, como sempre, gerou um monte de discussões, e mais tentativas
de pormos em palavras porque é que todo mundo ficaria bem mais
tranqüilo se os responsáveis por estes projetos divulgassem mais
coisas - ``mais'' no sentido de ``bem mais que quase nada'' - ao
invés de só ficarem defensivos e se esquivando mais e mais... e
criei uma página com bastante material que surgiu durante as
discussões, aqui:

\msk

\centerline{\url{http://angg.twu.net/2012-cabofrio.html}}

\msk

Ela é {\sl muito} melhor do que qualquer resumo que eu consiga
fazer aqui - acho os argumentos sobre os problemas com
explicações verbais, na resposta pra Tailana, no final,
especialmente bacanas - então visite-a! $=)$

\msk

{\sl Update:} em fev/2013 ficamos sabendo que o ICT - aliás, a
Engenharia - tem um projeto parecido para um campus na Zona Especial
de Negócios de Rio das Ostras, que vem sendo discutido com a
Prefeitura há algum tempo, e que deve ser a fonte do boato
recorrente de que ``o ICT vai se mudar pra \Index{ZEN}''. O projeto
foi
\fnhref{http://angg.twu.net/PURO/zen/atuacao_do_ICT_em_RO.pdf}{apresentado}
na reunião com a Prefeitura de 4/fev/2013; veja a seção
\ref{nunca-tivemos}.

% file:///home/edrx/TH/L/2012-cabofrio.html
% (find-TH "2012-cabofrio")




% --------------------
% ** «nunca-tivemos»  (to ".nunca-tivemos")
% (subsec "Nunca tivemos uma oportunidade de pensarmos juntos" "nunca-tivemos")
\mysubsection {Nunca tivemos uma oportunidade de pensarmos juntos} {nunca-tivemos}

A impressão que eu tinha é que há um dois anos atrás havia
praticamente um consenso de que o convênio com a prefeitura era um
mau karma do qual a gente tinha que se livrar, porque a gente recebia
cada vez menos do que a gente precisava e que estava acordado que
iríamos receber, a prefeitura não estava nada interessada em
investir numa universidade - embora talvez estivesse interessada em
negócios,
\fnhreff{http://angg.twu.net/containers/DSC_0126_r4_anfiteatro_placa_OOOOOO_r4.JPG}{propaganda}
e na incubadora de empresas - e acabávamos ficando divididos entre
ou sermos bem-comportados e {\sl talvez} merecermos um agrado ou
fazermos cobranças, denúncias,
protestos, \fnhreff{http://www.youtube.com/watch?v=5sSROi8b6Sc}{passeatas}.

Agora algumas cabeças de Niterói, junto com a gestão
Bazilio-sem-Áureo da Direção do Pólo, estão criando um
novo convênio. De
uma \fnhreff{http://www.puro.uff.br/node/1058}{notícia publicada no
site do PURO em 30/jan/2013}:

\begin{quote}

  {\bf PURO e PMRO formam grupos de trabalho}

  Criado por Katia Vieira, qua, 30/01/2013 - 16:51

  No último dia 23 de janeiro, foi dado mais um passo na retomada
  da parceria estabelecida entre o Pólo Universitário de Rio das
  Ostras (Puro) da Universidade Federal Fluminense e a Prefeitura
  Municipal de Rio das Ostras (PMRO), quando reuniram-se os
  representantes da UFF, pró-reitor de Assuntos Estudantis
  Sérgio Mendonça, o coordenador de interiorização e
  ex-reitor, Cícero Mauro Fialho Rodrigues, o superintende da
  Prefeitura Universitária, Augusto Ronconi, o Diretor do Puro,
  Carlos Bazílio e autoridades da PMRO, a secretaria municipal de
  Ciência e Tecnologia, Eronei Leite, o sub secretário de
  Planejamento, Wladimir Paschoal e a procuradora do município,
  Thaís Bragança.
 
  (...)
 
  O diretor do Puro destacou que este é um momento único na
  relação da PMRO com a UFF. ``Nunca tivemos uma oportunidade de
  pensarmos juntos sobre todas as questões que nos cercam. Espero
  que saibamos aproveitá-lo da melhor forma possível'' concluiu
  Carlos Bazílio.

\end{quote}

Essa fala do Bazilio - espero que possamos tomá-la como um
``pronunciamento oficial'', porque é {\sl muito} melhor termos
algum prounciamento oficial pra discutir sobre do que não ter
pronunciamento oficial nenhum, nunca - tem um furo: como assim,
``nunca tivemos oportunidade de discutir juntos''? E o tempo em que o
pólo era bem menor e o RIR e o ICT decidiam muita coisa em
reuniões conjuntas? E o tempo em que as reuniões do ICT
incluíam todos os professores? E o tempo em que as reuniões do
CONPURO lotavam o auditório? E
as \fnhreff{http://www.aduff.org.br/boletim/2011a_05m_18d.html}{reuniões
no saguão}, as
\fnhreff{http://angg.twu.net/2011-maio.html}{passeatas}, as caravanas
à reitoria, as discussões enormes no grupo ME PURO do Facebook,
o plebiscito sobre os cursos pagos, o voto paritário na
eleição pra Direção e representação nos conselhos
superiores, a própria
\fnhreff{http://angg.twu.net/chapa1.html}{campanha dessa
eleição}, a
\fnhreff{http://angg.twu.net/chapa1.html\#ocupacao-reitoria}{ocupação
da reitoria}, a greve de 2012, e até a própria mailing list da
Computação do PURO (o ``BCCPURO''), que só se tornou um canal
morto em maio/2012, quando vários {\sl alunos} começaram a {\sl
pedir}: ``{\sl parem de brigar}''?

% botelho brigar bccpuro
% pá de cal

A hipótese que eu acho mais interessante pra explicar essa fala do
Bazilio é a seguinte: em todas essas situações que eu
mencionei ele não se sentia muito à vontade pra participar -
porque as pessoas se exaltavam demais, era tudo muito rápido e com
muito ruído, e ele só funciona bem em lugares em que a carga
emocional é bem menor - e é óbvio que a gente não vê um
evento no qual a gente não consegue participar como um evento no
qual {\sl todo mundo participou}... então, num certo sentido, é
como se nenhum desses eventos que pra mim eram ``de todos'' contasse,
e agora, pra ele, é a primeira vez que há uma possibilidade de
diálogo entre a prefeitura e ``todos''.

% [Neves]

% [Rodolfo]

% (find-TH "2011-maio")
% (find-TH "chapa1")
% (find-books "__etc/__etc.el" "ross")





% --------------------
% ** «fabricas-de-projetos»  (to ".fabricas-de-projetos")
% (subsec "Fábricas de projetos" "fabricas-de-projetos")
\mysubsection {Fábricas de projetos} {fabricas-de-projetos}

A expressão ``fábrica de diplomas'' é bem conhecida, e tem um
sentido muito negativo. Deixa eu introduzir mais uma:``fábrica de
projetos''.

Uma vez, numa reunião de Colegiado de Unidade (acho), o Marcio
Magini comentou que dos projetos de pesquisa dos tipos tais, tais e
tais, pelo menos 80\% do total das verbas são concedidos para as
universidades X, Y e Z... entre elas a Unicamp, que ele sabia que
organizava grupos de profissionais especialistas que sabem exatamente
qual é a forma esperada pros projetos pra cada tipo de edital, e
que têm até uma noção de que editais estão pra sair, e
ajudam os professores e estudantes a organizarem os seus dados com
antecedência pra poderem produzir projetos na forma certa em
pouquíssimo tempo, assim que os editais saem - o prazo de muitos
editais é bem curto...

Essa visão, de que a Unicamp tem uma ``fábrica de projetos'',
ilustra a conotação positiva da expressão ``fábrica de
projetos''. O Governo é o ``cliente'', os professores e estudantes
são os ``produtores'', e o pessoal da Fábrica de Projetos ajuda
a adequar o produto ao consumidor e a fazer o mercado funcionar. Ah, e
projetos são como contratos - o pessoal da Fábrica de Projetos
ajuda a deixar esses contratos claros, vantajosos pra ambas as partes,
e realistas.

Agora a conotação negativa pra ``fábrica de projetos''. Isto
é das
\fnhreff{http://angg.twu.net/2012-cabofrio.html}{discussões} sobre
o campus de Cabo Frio (seção \ref{cabo-frio}):

\begin{quote}

  (...) num debate sobre interiorização que houve na última
  semana acadêmica a gente chegou à conclusão de que não
  havia um plano sério pra fazer a interiorização funcionar -
  o que deve ter havido foi uma sacação do governo de que
  ``precisamos de universidades no interior'', que gerou um edital,
  que gerou um projeto da UFF pra ganhar a licitação do edital.
  Quanto à qualidade do ensino, o máximo que devem ter pensado
  foi: ``o país gera $N$ doutores por ano, e eles precisam de
  emprego, e devem ser jovens cheios de garra, que vão se virar''.
  Mas nem pensaram que pros jovens doutores conseguirem se virar em
  condições precárias eles iam precisar de um pouco de apoio
  e de autonomia...

  Acho que é bem claro que tipo de gente faz os projetos que ganham
  as licitações: essas pessoas ``empreendedoras'' - os
  especialistas em projetos. E depois que os projetos estão
  aprovados eles consideram que está na hora de ir pra outros
  lugares fazer outros projetos. ``Inovação'' é chique, mas
  coisas que ficam velhas não... e, aliás, um modo de manter a
  aura de vencedor é só se permitir ficar associado a coisas que
  estão em alta, e partir pra outras assim que essas começam a
  precisar de manutenção.

\end{quote}

Nós sabemos (...)


% --------------------
% ** «sinergia»  (to ".sinergia")
% (subsec "Sinergia" "sinergia")
\mysubsection {Sinergia} {sinergia}

Eu reli o powerpoint do Parque Tecnológico muitas vezes. Uma coisa
que me chamou a atenção é que ele repete muitas vezes a
palavra ``sinergia''. Ora, sinergia é algo que acontece quando um
grupo trabalha junto - e algo de adicional aparece, e o todo se torna
maior do que a soma das partes.

Eu só conheço os zumbis a partir do trabalho deles no PURO, e
eles não me parecem bons em trabalhar em grupos... quero dizer,
talvez eles sejam ótimos em grupos muito homogêneos, mas acho
que quando aparece alguma grande diferença, ou alguém
insatisfeito, o que eles fazem deve ser parecido com o que fazem no
PURO: ou cooptam essa pessoa, ou a excluem e a eliminam - mas não
sabem dialogar com gente muito diferente. Ou seja, a capacidade deles
de sinergia é pequena - eles vão tentar calar desavenças ou
comprando as pessoas com bolsas (e os recursos pra isto são
limitados, e a margem pros não-contemplados se sentirem
injustiçados ou ficarem com inveja é grande), ou criando
rachas... é por isso que eu imagino que essa equipe de zumbis que
está montando o Parque Tecnológico vá ficar lá durante
pouco tempo, e assim que o Parque Tecnológico der problemas eles
vão fazer outros projetos e vão se mudar pra outro lugar. Eles
são {\sl iniciadores}, não {\sl cuidadores}.

Voltando à idéia da ``fábrica de projetos'' - e às três
bolas, ``Universidade'', ``Governo Municipal'' e ``Empresa'', da p.10
do
\fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/zen/atuacao_do_ICT_em_RO.pdf}{powerpoint}...
{\sl Em que sentido esses zumbis são ``a universidade''?} Acho que
isto é uma pergunta {\sl bem} grande - vou tentar esboçar alguns
modos de pensar sobre elas nas próximas seções - mas, com
relação às menções à sinergia (...)

\msk

[O novo convênio com a PMRO como um contrato; {\sl desejo de
sinergia} ou {\sl promessa de sinergia}?]



% --------------------
% «femass»  (to ".femass")
% (subsec "Aulas em outros lugares" "femass")
\mysubsection {Aulas em outros lugares} {femass}

Em março de 2013 começou a ficar {\sl muito} público que
muitos dos zumbis dão aulas em outros lugares também... os nomes
deles constam dos quadros de horários da FEMASS, e os próprios
alunos dizem que os professores do curso da FEMASS são ``os mesmos
do PURO''.

Isso é ilegal? Ora, tecnicamente não - basta que eles passem um
mês sem receber lá a cada $N$ meses de trabalho (não sei a
regra exata) pra que o vínculo deles com a FEMASS não seja
considerado permanente pela lei - é como se a cada semestre eles
fizessem um trabalho esporádico diferente, e só incidental que
esses trabalhos esporádicos sejam sempre no mesmo lugar.

A Ana Isabel andou tentando descobrir o que constitui um vínculo
empregatício ``permanente'', e uma coisa que ela viu é que às
vezes as pessoas têm diaristas ao invés de empregadas
domésticas fixas, achando que isto {\sl não} vai ser visto pela
lei como uma contratação ``mesmo'', mas, ledo engano - aí
quando elas param de chamar suas diaristas elas são processadas,
têm que pagar rescisÕes, etc.

Imagino que a definição precisa do que é um ``vínculo
permanente'' pra cada tipo de trabalho seja definida primeiro pela
jurisprudência, e só depois formalizada em lei... e o sindicato
das domésticas deve ter lutado pra conseguir configurar diaristas
regulares como trabalhadoras com vínculos permanentes. Já no
caso dos professores das Federais, imagino que tenhamos de um lado os
professores com Dedicação Exclusiva, lutando junto com seus
advogados e seus sindicatos pra que a DE seja compatível com cada
vez mais atividades extras... e, do outro lado, lutando pra que a DE
seja algo mais estrito, quem? Um ou outro promotor público, o
Tribunal de Contas da União?... ou seja, é provável que os
zumbis da FEMASS não consigam se defender facilmente, e não
levem sequer um puxão de orelha da lei.

\msk

Aí eu tava muito desanimado com isso, me sentindo otário e
preguiçoso por nem cogitar em dar cursos fora do PURO - por
escrúpulos idiotas - e não conseguir fazer nada... mas na quinta
8/maio/2013 apareceram muitas cópias de um
\fnhreff{http://angg.twu.net/PURO/denuncia_DE.jpg}{papel} no saguão e
nos murais do PURO, com o título ``{\bf Você sabia que existem
professores da UFF/PURO com Dedicação Exclusiva lecionando em
outra instituição de ensino superior?}'', com duas fotos do
quadro de horários da FEMASS, e um texto genial que terminava com:

  \begin{quote}
  ``Mas eu ouvi dizer que se eles trabalharem só por um semestre
  não tem problema!''

  Isso é tão verdade perante a lei quanto um rapaz que foi pego
  pela namorada com outra tentar convencê-la de que aquilo não
  foi nada, foi só por uma noite! Ouvir dizer não é
  sinônimo de legalidade. Só a lei pode dizer o que é legal
  ou não. Leia a lei e veja por você mesmo. Não acredite em
  tudo que as pessoas dizem, muitas coisas são lendas
  acadêmicas.

  ``Mas se é assim, porque ninguém faz nada? Porque ninguém
  denuncia esse absurdo?''

  Pode estar certo de que algo já está sendo feito, denúncias
  já foram encaminhadas ao Ministério Público Federal. Mas
  essa pergunta também pode se reverter a você mesmo. Porque
  você, de posse dessa informação, não faz isso? Como
  cidadão você pode procurar o Ministério Público Federal
  também e fortalecer a denúncia, ou cobrar desses professores e
  da universidade explicações para isso.

  % (find-fline "~/PURO/denuncia_DE_25p.jpg")
  \end{quote}

% Anonimo
% Se alguem achar que fui eu vou ficar orgulhoso
% Fnaufel: a denuncia anonima e' melhor que o crime assinado
% Trabalho em equipe - alguem que acredita na lei e nas instituicoes

% Quem e' punido
% STF, mensalao, julgamento politico

% http://racismoambiental.net.br/2013/04/historias-que-assustam-a-onu-sistema-prisional-brasileiro/
% http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/01/24/por-falta-de-material-higienico-presas-improvisam-miolo-de-pao-como-absorvente-no-interior-de-sp.htm
% http://www.interativa87.net/2013/04/cidades-oab-go-constata-que-detentos.html
% http://www.informeipiau.com.br/2013/04/04/ipiau-presos-ficaram-sem-comida-pois-fornecedores-nao-aderiram-ao-servico-de-nota-fiscal/
% http://www.ebc.com.br/cidadania/2012/12/superlotacao-e-grave-problema-nos-presidios-brasileiros
% http://www.youtube.com/watch?v=8AB2XDuQHMU Promotor Rogério Pacheco explica ação contra Eduardo Paes e Rodrigo Bethlem

% LINK PRO SCAN

% Zaccone:
% http://www.youtube.com/watch?v=KTWc3Eo_CpI Direitos Humanos e a Guerra às Drogas
% brechas na lei
% Voltando: a DE é espécie de contrato
% Sob este ponto de vista, os zumbis _desistiram_ do PURO
% Eles desistiram do PURO
% Eles não estão deprimidos em suas casas
% Fica a dúvida se devemos deixar os zumbis fugirem ou atacá-los como covardes



% --------------------
% «divisao-das-salas»  (to ".divisao-das-salas")
% (subsec "A divisão das salas" "divisao-das-salas")
\mysubsection {A divisão das salas} {divisao-das-salas}

% Eduardo Nahum Ochs Shanykka, voce viu os adesivos dizendo "ICT" em
% algumas salas? A Engenharia inventou uma proposta de divisao das salas
% do PURO, e enquanto ainda tava todo mundo discutindo essa proposta,
% achando ela pessima e se preparando pra apontar as falhas dela quando
% ela fosse apresentada em alguma reuniao, a Engenharia foi direto na
% Reitoria, apresentou a proposta la' e conseguiu aprova'-la... vou
% copiar abaixo o e-mail original.
% 
% Esta' tudo uma confusao danada. Nessa proposta o Auditorio passava a
% ser do IHS, mas nao sabemos o que queria dizer isto - com que
% direitos, com que responsabilidades - e nada foi divulgado
% publicamente... se voce puder ir divulgando o que voce descobrir isso
% ajuda todo mundo.
% 
% La' vai o e-mail original... Beijos.

Em 4/abril/2013 recebemos um forward do e-mail abaixo:

  \begin{quotation}
  \def\nip{\par\noindent}

  \nip De: Marcelle de Sá Guimarães {\tt <[email protected]>}
  \nip Data: 3 de abril de 2013 14:13
  \nip Assunto: divisão de salas para alocação das turmas do proximo periodo
  \nip Para: ramiro marcos {\tt <[email protected]>}

  \msk

  Prezados professores,

  Encaminho menasgem que enviei ontem para o professor Ramiro, propondo
  a divisão de alguns espaços físicos no Polo, motivada pela
  necessiade urgente de definir a alocação das salas de aula para
  o próximo semestre.

  Fiquem à vontade para apresentar suas considerações/ sugestões.

  Atenciosamente

  \msk

  Prezado Ramiro,

  Desculpe incomodá-lo em suas férias, porém precisamos definir
  com urgencia a questão de alocação de salas de aula para o
  próximo período.
  
  Sugiro que as salas sejam divididas entre as unidades, ficando a
  administração/ responsabilidade por esses espaços por conta
  das respectivas unidades.
  
  Segue a minha sugestão de divisão:
  
  \ssk
  
  \par salas 1,2,3,7,8,9 e 10 - IHS
  \par salas 5,6,11 e 12 - ICT
  \par sala 4a - lab pesq. ICT (Llarc)
  \par sala 4b - lab pesq. IHS (lab prof Walter)
  \par 5 containers - IHS
  \par 5 containers - ICT
  \par auditório - IHS
  \par laboratório de informática - IHS
  \par anfiteatro - IHS
  \par quadra - ICT
  
  \ssk
  
  Aguardo sua resposta e considerações.
  
  Abraços
  
  \par {\tt --} 
  \par Marcelle de Sá Guimarães
  \par Diretora do Instituto de Ciência e Tecnologia
  \par UFF - PURO
  \end{quotation}

Daí começamos a discutir como reagir a esta proposta. Várias
pessoas da Engenharia e da Computação já tinham dito em
reuniões de Colegiado da Unidade que achavam que com o fim da
Direção do Polo tudo teria que ser dividido formalmente entre as
duas unidades, e este e-mail reflete isto - a proposta de divisão
inclui laboratórios, o auditório, o anfiteatro e a quadra - mas,
por outro lado, o campo {\it assunto} do cabeçalho diz ``divisão
de salas para {\it alocação das turmas} do proximo periodo''...

Essa proposta é absurdamente simplista - ela nem leva em
consideração que a Engenharia e a Computação quase não
têm aulas depois das 18:00hs, mas {\sl todas} as aulas do
Serviço Social são das 18:00 às 22:00... e, se tudo precisa
ser dividido, os banheiros do térreo vão ficar com que unidade?
E os do andar de cima? E ela também não deixa claras as
consequências desta divisão... quais passam a ser os direitos e
as responsabilidades de cada unidade sobre as ``suas'' salas? O ICT
pode, por exemplo, levar os datashows das suas salas do PURO pra
Zen?...

Aí a gente se preparou bem pra quando essa proposta de divisão
fosse discutida em alguma reunião, e na sexta, 3/maio, de tarde, um
monte de salas apareceram com adesivos bem caprichados, colados com
Con-tact e com uma cara bem definitiva, dizendo ``ICT - Instituto de
Ciência e Tecnologia - Sala $nnn$''. Fui perguntar pro Ramiro o que
tinha acontecido e ele disse que a Direção do ICT levou a
proposta de divisão direto pra Reitoria e a Reitoria aprovou.

\msk

Eu acho isso muito antipático.



% --------------------
% * «ideias-e-argumentos»  (to ".ideias-e-argumentos")
% (sec "Idéias e argumentos" "ideias-e-argumentos")
\mysection {Idéias e argumentos} {ideias-e-argumentos}



% --------------------
% ** «passa-o-sal»  (to ".passa-o-sal")
% (subsec "``Passa o sal?''" "passa-o-sal")
\mysubsection {``Passa o sal?''} {passa-o-sal}

Vou fazer várias citações a um livro que eu tou lendo -
``{\sl Debt: the first 5000 years}'', do David Graeber - e que virou
um dos meus livros preferidos. Ele usa antropologia pra mapear
várias esferas de {\sl valores} diferentes -

Algumas coisas que a gente pede estão na mesma categoria que
dizermos ``passa o sal?'' ({\sl Debt}, p.123) quando estamos numa mesa
com várias outras pessoas: não esperamos receber um ``não''
como resposta, o pedido tem o tom de algo pedido entre iguais (sem
hierarquia), e atender um pedido de ``passa o sal'' {\sl não cria
dívida}.

No mundo de onde eu venho - o do Software Livre, e, em grau um pouco
menor, o da pesquisa em Matemática e Lógica, em áreas de
pesquisa relativamente pequenas - pedidos de informação, e
até pedidos de explicações são vistos como pedidos de
``passa o sal'': as máquinas de xerox, e a existência em forma
digital da maior parte dos documentos, fazem com que seja fácil dar
cópias para colegas interessados; quanto ao que ainda não existe
em forma escrita, considera-se importante que as pessoas saibam
explicar porque agiram de certa forma - as pessoas pensam de formas
bem diferentes, e perguntar e explicar ajudam a lidar com estas
diferenças e a fazer com que as pessoas não se ponham em
posições frágeis. Além disto há uma noção de
``\Index{adulto}'' subjacente - é natural que as crianças não
consigam explicar direito porque é que chutaram e morderam os
coleguinhas, mas pelo que eu entendo os adultos se {\sl definem} pela
capacidade de agirem pensando nas conseqüências, e de lidarem
com as diferenças entendendo as posições dos outros e
esclarecendo as suas próprias... e esta capacidade de entender e
esclarecer deveria ser mais central ainda num ambiente
universitário, já que quase todos nós fizemos doutorados e
portanto temos prática em ler e escrever muito, e com argumentos
grandes e detalhados.

\msk

Um ponto sutil, que nem sempre é considerado, é que as
explicações e respostas variam de acordo com a situação e
os interlocutores, e são mais fáceis em certas situações
que em outras. Um exemplo que apareceu numa
\fnhreff{http://angg.twu.net/2012-out-04.html}{reunião/debate com
alunos} foi o seguinte. Imagine que um velho muito antipático te
pergunta: ``Porque você tem essas \Index{tatuagens} horríveis?
Que coisa idiota!'' É muito mais difícil responder a algo assim,
que nem é exatamente uma pergunta, do que responder a uma pergunta
sobre porquês de tatuagens de alguém conhecido, ou de um
desconhecido com tatuagens visíveis, que formula sua pergunta com
um certo tato, e que com de alguma forma revela um pouco da sua
relação com tatuagens, e aí nos dá bastante margem pra
escolher por onde começar a responder.






% --------------------
% ** «facas»  (to ".facas")
% (subsec "Confiança e facas" "facas")
\mysubsection {Confiança e facas} {facas}

Um dos argumentos contra gravações - ou melhor: contra as {\sl
minhas} gravações -, da Profª Flávia e do Prof.\ Fontana
(reunião do ICT
de \fnhreff{http://angg.twu.net/audios/2012nov22-ict.html}{22/nov/2012}),
é de que eu posso usar trechos das gravações ``para o mal'',
distorcendo o sentido deles.

% (find-angg ".emacs.audios" "2012dec13-ict")
% (find-angg ".emacs.audios" "2012dec13-ict" "recorte")

Lá vão várias respostas diferentes pra isto. Obs: quando eu
comecei a escrever estas idéias o meu plano era preparar uma carta
pro Colegiado e lê-la durante a reunião, pra, sei lá,
``oficializá-la'' - mas depois vi que isto seria só um
desperdício de tempo e energia pra todos os membros do Colegiado.

\begin{itemize}

% Me permitam dar tres respostas diferentes para este argumento.

\item[1.] Estamos cercados de coisas que podem ser usadas para o
  mal - por exemplo, \index{faca}facas. Facas podem ser usadas tanto
  pra cortar pão, queijo e frutas quanto pra esfaquear pessoas.
  Porque facas não sao proibidas? A professora Flávia mencionou
  que uma processo judicial contra alguém que usa um trecho de uma
  gravação, fora de contexto, pra detonar a reputação de
  alguem, leva anos, e quando ele afinal tem efeito e o culpado é
  condenado o estrago não pode mais ser revertido. Já um
  processo contra uma pessoa que esfaqueia outra é bem mais rapido,
  mas aí não é só uma questão de que a polícia pode
  ser chamada e vai agir em pouco tempo - um esfaqueamento causa uma
  comoção tão grande que num instante a reputação do
  esfaqueador fica arruinada, os amigos se afastam, ele se torna um
  foragido. Uma pergunta importante aqui é: {\sl porque a pessoa
  que usa um trecho de gravação para o mal não é
  ostracizada de forma parecida, ainda que em grau menor?} Será que
  nos tornamos tão \index{banana}bananas que não conseguimos
  mais ``punir'' um colega que usa gravações ``para o mal''?
  (Confira a idéia de ``posições frágeis'' na
  seção \ref{quimica})

\item[2.] O remédio mais óbvio pro uso errado de trechos é a
  disponibilização do contexto completo. Se a pessoa $A$ faz uma
  acusação a $B$ baseada numa interpretação errada (ou
  mal-intencionada) de um trecho de algo que $B$ escreveu ou disse,
  basta que alguém apresente o texto inteiro, ou a gravação
  inteira. Não é nem preciso que {\sl todo mundo} leia ou
  ouça a versão inteira - normalmente {\sl alguém} faz isso,
  diz ``a acusação tá errada, leiam/ouçam o original, o
  que acontece lá é patati patatá'', e a reputação do
  acusador vai pro brejo. E estamos numa universidade, caramba, aqui o
  argumento de ``as pessoas só lêem o título da notícia''
  {\sl não vale} - aqui mesmo quem não tem tempo pra entender o
  contexto inteiro tem mecanismos pra ou perguntar mais e descobrir,
  ou pra não confiar demais em informações muito
  incompletas...

\item[3.] E se considerarem que eu ``não sou confiável''? Então tá na
  hora da gente começar a esclarecer e detalhar os porquês; ou
  não confiam nos meus {\sl objetivos} - uma universidade mais
  transparente - ou nos meus {\sl métodos} - por exemplo eu me
  recusar a ``conversar num canto'', e eu fazer {\sl muita} coisa
  publicamente... {\sl Tá na hora da gente aprender a lidar com
  pessoas que têm princípios e códigos muito diferentes dos
  nossos} - e pra isso a gente precisa saber {\sl algo} sobre o outro
  lado. A gente só consegue encontrar modos de agir com tato se a
  gente tem uma noção do que ofende o outro - e pra mim tá
  difícil descobrir - a partir de informações {\sl
  mínimas} - como fazer isso com gente que acha normais as coisas
  das seções \ref{garrafa-dagua} e \ref{atas-e-gravacoes}.

% uso de trechos se combate com apresentacao do texto completo -
% ferramentas web e nao web para isto

% ou ela nao confia nos meus metodos, ou nao confia nos meus
%     objetivos. Acho que sei de uma diferença básica entre eu e
%     ela - peço desculpas de antemão pela possibilidade de eu
%     soar simplista, mas é que ainda não tenho detalhes
%     suficientes. A professora flavia as vezes propoe que esquecamos os
%     erros uns dos outros, e recomecemos com uma tabula raa. Eu nao
%     acho que isto seja possivel pra todo mundo, e tento propor modos
%     de lidar com erros do passado que nao sejam magoa e rancor.
% 
% pra mim tudo e' material pra aprendizado e pra discussoes
%     construtivas - e pra esclarecermos a nossa visao do que a
%     universidade deve ser e do que fazemos pra chegar la'.
% 
% que ela leia - ela ja' disse que nao tem tempo - ora, precisamos
%     de mais tempo e mais energia - a sobrecarga afeta a todos
% 
% como voces vao desfazer estes mitos?

\end{itemize}

\msk

[Problemas: mitos, códigos, não ver posições frágeis]

[Imagino que um dos problemas seja que vocês criaram mitos a
respeito do RFM, segundo os quais vocês precisam se proteger de
nós de todas as formas possíveis. Outro problema, relacionado, o
número dois, é a dificuldade de entender os códigos e a
visão de universidade dos outros. Os problemas um e dois se
resolvem trivialmente gravando as reuniões e permitindo que quem
quiser ouça os argumentos várias vezes, pra se familiarizar com
os modos de pensar de cada pessoa - e aí, depois, os interessados
conversam com outras pessoas, discutem um pouquinho, e pronto, da
discussão nasce a luz.]

[O problema número três é que vocês não estão vendo
quando se põem em posições frágeis - e isto é um tiro
no pé. Este problema também se resolve (...)]





% --------------------
% ** «nao-disjuntas»  (to ".nao-disjuntas")
% (subsec "Chapas não-disjuntas" "nao-disjuntas")
\mysubsection {Chapas não-disjuntas} {nao-disjuntas}

[Possibilidade de chapas não-disjuntas; possibilidade de membros em
estágio probatório; o que eu entendi de como a Flávia
apresentou o argumento da CAA]







% --------------------
% ** «farra-das-diarias»  (to ".farra-das-diarias")
% (subsec "A farra das diárias" "farra-das-diarias")
\mysubsection {A farra das diárias} {farra-das-diarias}

O PURO foi criado por um convênio entre a UFF e a Prefeitura
Municipal de Rio das Ostras (PMRO), que previa que nos primeiros anos
a Prefeitura bancaria a infra-estrutura, construiria os prédios
novos, pagaria bolsas para professores de Niterói que quisessem dar
aulas em RO, pagaria bolsas de fixação para funcionários,
etc. Os detalhes podem ser conferidos no scan do convênio,
\fnhref{http://angg.twu.net/PURO/convenio_puro_scan_v2011jun17.pdf}{aqui}.

Em 2005.2 e 2006.1 o PURO ficou {\it fechado} por causa de um processo
judicial por desvio de verbas do convênio, e os alunos do PURO
foram transferidos - temporariamente - para Niterói.

Hoje em dia a gente tende a achar que essas histórias são muito
remotas, e portanto irrelevantes - mas em muitas áreas o
histórico desse convênio continua a nos influenciar, e não
há como ir adiante sem entendê-lo e sem tentar lidar lucidamente
com ele. Não é só uma questão de que os problemas deste
convênio foram a {\sl causa} de nós hoje termos menos
professores e menos espaço físico do que o previsto... nós
continuamos dependendo da construção dos prédios novos, que
dependem de certas verbas que a Prefeitura ainda nos deve, mas que ela
{\sl só pode repassar} quando certas prestações de contas
antigas do PURO forem terminadas - e estas prestações de contas
atormentam a Direção atual do Pólo, atormentaram a anterior
(dá pra ter uma noção do quanto o convênio pesa no
trabalho da Direção
\fnhref{http://angg.twu.net/chapa1-waltermag.html}{aqui} e
\fnhref{http://angg.twu.net/PURO/relatorio_wm/relatorio_gestao_tabela.pdf}{aqui})
e vão continuar atormentando quem quer que for que passe a fazer o
papel da Direção...

% (find-TH "chapa1-waltermag")
% (find-TH "chapa1" "carta-funcionarios")


% --------------------
% ** «tempo-e-energia»  (to ".tempo-e-energia")
% (subsec "Respeito ao tempo e à energia dos outros" "tempo-e-energia")
\mysubsection {Respeito ao tempo e à energia dos outros} {tempo-e-energia}

% (find-angg ".emacs.audios" "2012sep20-ict")
%            (find-TH "audios/2012set20-ict")
% (find-angg ".emacs.audios" "2012nov22-ict")
%            (find-TH "audios/2012nov22-ict")
% (find-angg ".emacs.audios" "2012dec13-ict")
%            (find-TH "audios/2012dez13-ict")


O Fontana se refere frequentemente a ``desrespeito'' nas suas falas -
o meu pedido de incluir na ata de 23/ago/2012 que eu apostava R\$\,5
com o Moacyr que a votação daria 7 a 3 era ``absurdo, é
desrespeitar o colegiado'' (reunião
de \fnhreff{http://angg.twu.net/audios/2012set20-ict.html}{2012sep20},
39:29); o Antônio pedir pra mudar como a fala da Marcelle foi
registrada, idem (41:56); eu gravar a reunião
em \fnhreff{http://angg.twu.net/audios/2012nov22-ict.html}{22/nov/2012},
é, de novo, desrespeitar o colegiado (30:50).

Acho que ele está confundindo {\sl desrespeitar o colegiado} e {\sl
desobedecer o colegiado}.

[Localizar a ameaça explícitas na de 2012nov20; desgaste
psicológico, perda de energia; se não dá pra conceber um
mundo sem violência e ameaças que a gente pelo menos concorde
que essas coisas só são aceitáveis em situaçõees
extremas - e que a gente passa a pensar sempre em termos de {\sl
atenuantes}]

[Falar sobre eu acho que deveríamos evitar ao máximo certos
tipos de falas redundantes e de grosserias em
reuniões; \fnhreff{http://angg.twu.net/monep.html\#ata}{um link}]

[Discutir o que é ``respeito pela {\sl função da
universidade}'' (talvez caibam termos jurídicos aqui, como
desvirtuação, abuso, e \fnhref{http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/15970-15971-1-PB.pdf}{corrupção}]

[Respeito absoluto à hierarquia (e a aposta na capacidade do
soberano de conseguir favores e criar excecoes) - citar Casa Grande e
Senzala e estudos da Marilena Chauí sobre ele)]

% desgaste psicologico
% tato
% Ora, voces, tanto os colegas da engenharia quanto os 
% pessoas psicologicamente frageis, como eu, 

% (find-angg ".emacs.papers" "graeber")
% (find-graberhonorpage (+ -164 170) "strip others of their dignity")

\begin{quote}

  Yet, at the same time, this ability to strip others of their dignity
  becomes, for the master, the foundation of his honor. (...)

  It seems to me that this is precisely what gives honor its
  notoriously fragile quality. Men of honor tend to combine a sense of
  total ease and self-assurance, which comes with the habit of
  command, with a notorious jumpiness, a heightened sensitivity to
  slights and insults, the feeling that a man (and it is almost always
  a man) is somehow reduced, humiliated, if any ``debt of honor'' is
  allowed to go unpaid. This is because honor is not the same as
  dignity. One maight even say: honor is surplus dignity. It is that
  heightened consciousness of power, and its dangers, that comes from
  having stripped away the power and dignity of others; or at the very
  least, from the knowledge that one is capable of doing so. At its
  simplest, honor is that excess dignity that must be defended with
  the knife or sword (violent men, as we all know, are almost
  invariably obsessed with honor). Hence the warrior's ethos, where
  almost anything that could possibly be seen as a sign of disrespect
  - an inappropriate word, an inapproriate glance - is considered a
  challenge, or can be treated as such. Yet even where overt violence
  has largely been put out of the picture, wherever honor is at stake,
  it comes with a sense that dignity {\sl can} be lost, and therefore
  must be constantly defended.

  The result is that to this day, ``honor'' has two contradictory
  meanings. On the one hand, we can speak of honor as simple
  integrity. Decent people honor their commitments. This is clearly
  what ``honor'' meant to Equiano: to be a honorable man meant to be
  one who speaks the truth, obeys the law, keeps his promises, is fair
  and contentious in his commercial dealings.

% *** ^ contentious?

\end{quote}





\newpage

\addtocontents{toc}{\par{\bf Apêndices:}}


% ----------------------------------------
%  ____       _                         
% |  _ \  ___| |_ __  _   _ _ __   ___  
% | | | |/ _ \ | '_ \| | | | '_ \ / _ \ 
% | |_| |  __/ | |_) | |_| | |_) | (_) |
% |____/ \___|_| .__/ \__,_| .__/ \___/ 
%              |_|         |_|          
% ----------------------------------------

% (find-TH "2012-delpupo")


% --------------------
% * «delpupo»  (to ".delpupo")
% (sec "Apêndice: O REUNI e a criação dos ``escolões''" "delpupo")
\mysection {Apêndice: escolões} {delpupo}

{\small (Textos que o Rodrigo
Delpupo\fnmailto{[email protected]} divulgou pelo Facebook e
por e-mail em agosto/2011, para serem usados nas discussões no
PUCG\footnote{Pólo Universitário de \Index{Campos dos
Goytacazes}}/UFF que estavam sendo organizadas por ele e pelo
Maracajaro Mansor\fnmailto{[email protected]}.)

}
 

\msk

Pessoal,

O bate-papo hoje sobre a greve foi ótimo: 20 alunos bastante
interessados que discutiram com o gente durante 3h. Muito bom.

As minhas intervenções foram orientadas por três mini-textos que
escrevi e que fui passando aos alunos nas últimas semanas via
Facebook. O segundo desses três textos foi aquele que o Maraca já
repassou no primeiro e-mail. Abaixo eles estão separados por títulos.

Abraços,

Rodrigo

Nessa sistematização, darei ênfase a três pontos:
 
\begin{itemize}

\item  como o projeto do governo diferencia os centros de
excelência dos ``escolões'';

\item como o modelo escolão afeta diretamente os alunos e suas
possibilidades profissionais futuras (ou seja, ``as possibilidades
profissionais de vocês'', pois Campos está no projeto ``escolão''); e

\item como o projeto do governo limita a pesquisa científica
autônoma (e as implicações dessa redução de autonomia sobre o projeto
de país que está sendo construído).
 
\end{itemize}


\subsubsection*{O REUNI e a criação dos ``escolões''}
 
Sobre a diferenciação entre instituições, a primeira a relatar é a
diferenciação entre as universidades e outros setores do serviço
público que empregam pessoas pós-graduadas. Nos últimos anos o governo
foi diferenciando os salários de modo que, recentemente, a categoria
de professor universitário tornou-se uma das menos remuneradas entre
entre pós-graduados no serviço público. Quanto a isso, alguém poderia
argumentar, e com boa dose de razão, que se a reclamação é sobre a
diferença salarial, então que os insatisfeitos façam concurso para
essas outras áreas melhor remuneradas. Bom, esse argumento não deixa
de ser verdade. E tanto é verdade que essa migração já vem ocorrendo:
atualmente o curso de Ciências Econômicas de Campos tem dificuldade
para preencher vagas até mesmo para o cargo de efetivo (a vaga de
macroeconomia, finalmente preenchida no primeiro semestre, estava
aberta há aproximadamente dois anos!); o curso de Economia da
UFF-Niterói, que há anos só fazia concurso para doutores, no último
ano teve, em um de seus concursos, que baixar a exigência para mestre.
Mesmo estando na segunda maior metrópole do país, o curso de Niterói
não conseguiu doutores. Onde estão eles? No IBGE, IPEA, BACEN e em
outros vários órgãos governamentais. Se derem uma busca no google por
editais de concursos dessas agências, e também de algumas outras (como
p. ex o Ministério da Fazenda, INPI, ELETROBRÁS, PETROBRAS, ANCINE,
BNDES), poderão fazer uma comparação. Isso só falando de efetivos.
Sobre o temporário, as consequências da baixa atratividade do cargo já
foram sentidas por várias turmas, que amargaram alguns meses sem
professor. E como estamos próximos do Rio, a nossa situação com falta
de mão-de-obra nem é a pior. As universidades do Nordeste, onde a
greve é mais forte, não têm essa mesma vantagem.
 
Agora vem a segunda diferenciação, aquela tratada especificamente
pelo Maraca: a diferenciação entre universidades, separando centros de
pesquisa de excelência dos ``escolões'' com alta carga de matérias por
professor e turmas lotadas. Há algumas formas pelas quais essa
diferenciação vem sendo feita, mas vou falar apenas de uma, aquela que
afeta o PUCG mais diretamente, que decorre do modo como a proposta
REUNI foi implantada. Em qualquer universidade federal antes do REUNI,
o normal era o professor dar duas disciplinas, que têm uma
complexidade que exige um tempo grande de preparação, e ter o restante
do tempo voltado para pesquisa, extensão e atividades administrativas
(burocracia que, no nosso caso, tendo em vista que o curso está ainda
em fase de implantação, é alta até para quem não é coordenador e chefe
de departamento). Os cursos implantados com o REUNI foram concebidos,
em grande parte dos casos, para ter 3 disciplinas ou mais por
professor, além de turmas de 60 alunos (quando o padrão era de 40 a
45). Com esse tipo de trabalho, qualquer pesquisador diria que a
atividade de pesquisa ficaria bastante comprometida. Em outras
palavras, o conjunto de medidas implantadas nos últimos anos vêm
forçando a transformação de professores-pesquisadores em meros
professores de sala de aula. E isso não deixa de ter impactos também
sobre a vida de vocês, alunos: professores que não pesquisam conseguem
menos bolsas de iniciação científica e de outros tipos; professores
que não pesquisam são professores que não estudam, o que tem reflexos
em sala de aula; professores que não pesquisam são professores menos
motivados.
 
Esse último aspecto, o da motivação do professor, não é trivial:
muitos de nós só estão aqui por uma forte identificação com a
profissão, mas com a profissão como era no nosso tempo de graduação,
alguns anos atrás. Se esse processo ora em curso se consolidar daqui a
algum tempo, isso significará uma mudança radical da profissão tal
como a conhecemos, o que pode levar a uma forte saída dos professores
mais qualificados e a uma entrada de professores com qualificação cada
vez menor. E o Curso de Ciências Econômicas da PUCG, que tem sido
mantido com razoável qualidade apesar dos vários problemas de falta de
professor que datam da metade do ano passado, talvez não resista mais
muito tempo e entre em deterioração. O ``escolão'' estará completo e
talvez ainda não tenhamos saído dos conteineres e puxadinhos, que não
têm nem a adequada assistência estudantil, que deveria incluir
bandeijão e moradia estudantil, nem a adequada estrutura para a
pesquisa e para as outras atividades dos professores.
 
% ----------
 
\subsection*{O que significa, para o aluno, ser formado em um curso REUNI, como
os do PUCG?}
 
Já relatamos algumas vezes que o projeto é tornar os cursos REUNI,
como os do PUCG, em ``escolões''. Mas o que isso significa? Que o
``escolão'' funciona num sistema parecido com o das faculdades
particulares em geral (tirando as de ponta, claro, como as PUCs e as
FGVs), acho que está claro. Mas o que parece que muitos alunos não têm
muito claro é o impacto disso depois de suas formaturas.
 
Sobre as opções de emprego oferecidas para os graduados, é um
equívoco dizer que só há espaço para os profissionais bem formados,
apesar de nós professores nos vermos, muitas vezes, tentados a fazer
esse tipo de afirmação. Há vagas tanto para graduados bem formados,
normalmente egressos de universidades públicas ou das particulares de
qualidade, como para aqueles de formação mais superficial, normalmente
egressos dos ``escolões''. Mas muda, obviamente, o tipo do cargo:
enquanto o ``escolão'' é concebido para colocar as pessoas em
subtarefas, como, no caso do curso de economia, trabalhos internos de
agências bancárias e tarefas rotinizadas em geral, como supervisão de
pesquisa de mercado feitas em rua etc., as universidades públicas e as
particulares de ponta oferecem uma formação que dá maiores
possibilidades de chegar aos cargos decisórios, como em consultorias,
agências governamentais e em conselhos executivos de grandes
empresas.
 
Não é que o ``escolão'' privado seja só desvantagem para o aluno.
Como a formação é mais superficial, a faculdade particular pode ter
turmas maiores, professores de menor nível de formação e dispensar
gastos com monitorias e iniciação científica, o que reduz muito os
custos e oferece mensalidades mais baixas aos alunos. E isso tanto é
uma vantagem que muitos alunos que vieram de fora de Campos poderiam
ter se mantido nas suas cidades, gastando menos com mensalidades do
que gastam atualmente para se manter fora de suas cidades. Muitos
vieram para cá em busca de instituições de maior qualidade, mas a
qualidade pode, em breve, entrar em processo de declínio e gerar
prejuízos a vocês.
 
Os cursos novos do PUCG estão a um ano de formar suas primeiras
turmas, e agora estamos chegando num momento bastante decisivo, no
qual não haverá aumento no número total de professores, o número de
disciplinas ainda vai crescer e chegarão as orientações de monografia,
empurrando os professores para uma carga de trabalho ainda maior. E
essa maior carga de trabalho vai dificultar a oferta de disciplinas de
qualidade, optativas variadas, orientação de monografias com o devido
comprometimento de tempo etc. Mesmo nessa situação, muitos professores
têm feito um grande esforço individual para reproduzir, aqui no PUCG,
cursos com qualidade compatível com a daqueles cursos nos quais se
formaram, mas a rotina de trabalho têm se tornado muito desgastante e,
por isso, dificilmente o nível de qualidade vai poder ser mantido caso
não haja reversão, em algum grau, das medidas adotadas pelo governo
para os cursos REUNI.
 
A realidade REUNI não é tão forte na UFRJ, e isso certamente
influenciou a sua saída da greve. Mas nas universidades que aderiram a
uma forte expansão com precarização, como foi o caso da UFF, os
professores estão extremamente radicalizadas e com pouca disposição de
deixar a paralisação. E esse é um dos motivos para uma greve tão
abrangente. Se essa realidade não for revertida agora, dificilmente o
será nos próximos anos.
 
% ----------

\subsection*{Implicações do novo projeto de universidade para o pensamento
autônomo e para o atual projeto de desenvolvimento econômico de longo
prazo}
 
O atual projeto de desenvolvimento de longo prazo no Brasil tem
demandado redirecionamento em vários campos, entre os quais
encontra-se o campo da pesquisa científica. Mas qual o sentido desse
redirecionamento e quais implicações isso pode ter?
 
A pesquisa vem sendo direcionada para áreas como, por exemplo, a das
necessidades das empresas (é só lembrar do propalado discurso de
aumento do financiamento privado de pesquisa). E esse é um
redirecionamento importante pois, na medida em que o financiamento
público de pesquisa vai sendo substituído pelo financiamento privado,
os objetivos da pesquisa também vão deixando de ser públicos para
tornarem-se privados. Sobre esse processo, alguém poderia julgar,
aliás de modo bastante razoável, que apesar de essa articulação gerar
um subsídio às empresas privadas (na medida em que elas não precisam
montar seus próprios laboratórios de pesquisa), os ganhos também se
estenderiam às universidades, pois elas também ganhariam recursos.
Além disso, outro argumento, também bastante razoável, é que apoiar as
empresas também beneficia a sociedade como um todo, pois favorece o
crescimento da economia e do nível de emprego.
 
O grande problema dessa medida, pensando apenas nos seus
desdobramentos sobre o desenvolvimento econômico, é que esse projeto
de desenvolvimento de pesquisa está ligado à estrutura empresarial de
``hoje'' (aspas para enfatizar, já que o Face não permite negritos), e
não ligado a uma estrutura produtiva que poderia ser bastante
diferente. Bom, qual parte da estrutura produtiva de ``hoje'' está em
franco crescimento? O setor exportador de matérias-primas e produtos
semi-elaborados. E quais as implicações disso? Destaco duas. Primeiro,
a interação ``universidade-empresa'' nos coloca no papel de
subordinados da economia mundial. Segundo, se no futuro passarmos por
uma crise econômica mais forte (o que não é mera futurologia, já que
crises são comprovadamente recorrentes), e essa crise futura implicar
uma reorientação da economia para evitar grandes danos, serão
demandadas novas soluções aos pesquisadores das universidades que,
naquele momento, só terão respostas que se encaixam com o modelo
anterior, já esgotado. Em outras palavras, tornar a pesquisa
científica cada vez mais rígida parte da suposição que a sociedade
também se mantém rígida, sem grandes mudanças. E essa é uma suposição
sem nenhum fundamento e constantemente desmentida pela história,
inclusive pela história recente do Brasil.
 
O financiamento público de pesquisa garante que os objetivos sejam
públicos, e pode-se definir para a sociedade um modelo não subordinado
na economia mundial; e a produção autônoma de conhecimento pode
garantir linhas de pesquisa diversas no lugar da pesquisa única, o que
nos garante boas propostas de ação em momentos adversos. É por isso
que a redução da autonomia de pesquisa ora em curso tem efeitos
nefastos não apenas para os professores universitários, mas também
para a sociedade num futuro um tanto próximo. Frear esse processo é um
dos propósitos da atual greve.







\newpage

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% * «safatle»  (to ".safatle")
% (sec "Apêndice: Amar uma ideia" "safatle")
% (find-djvupage "~/SCANS/safatle.djvu")


\section{Apêndice: ``Amar uma ideia''}
\label{safatle}

(Texto de Vladimir Safatle, transcrito do livro
\fnhref{http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/04/02/lancamento-boitempo-occupy-movimentos-de-protesto-que-tomaram-as-ruas/}{Occupy} - Boitempo, 2012)

\msk

{\small (Transcrição de uma conferência improvisada no Vale do
  Anhangabaú, em outu\-bro de 2011, a pedido de estudantes que se
  mobilizaram através do movimento Ocupa Sampa. O texto guarda seu
  caráter oral, acrescido em alguns pontos, para esta edição, de
  trechos que escrevi sobre as manifestações de 2011.)}

\msk

{\it Que tempos são estes / em que uma conversa}

{\it é quase um crime, / por incluir o já explícito?}

\msk

Paul Celan, ``Uma folha, desarvorada, para Bertold Brecht''

\subsection*{O espaço do universal}

O que vocês estão fazendo aqui? Essa me parece uma boa maneira de
começar. Até porque não são poucos os que dizem que vocês não sabem a
resposta. Mas, para mim, se ha alguem que sabe o que faz são vocês. Na
verdade, vocês são peças da engrenagem que se montou de maneira
completamente inesperada e imprevisível em várias partes do mundo.
Existem certos momentos na história em que um acontecimento
aparentemente localizado, regional, tem a força de mobilizar uma série
de outros processos que se desencadeiam em diversas partes do mundo.
Ou seja, as ideias, quando começam a circular, desconhecem as
limitações do espaço, pois têm a força para construir um novo. E, de
certa forma, vocês aqui são peças de uma ideia que aos poucos constrói
um novo espaço por meio dessas mobilizações mundiais em cidades como
Nova York, Cairo, Túnis, Madri, Roma, Santiago e agora São Paulo.

Lembro-me de um exemplo que expõe claramente a maneira como uma
ideia pode ignorar seu espaço original. No início do século
XIX, Napoleão enviou tropas à colônia do \Index{Haiti}. O
objetivo era retomar o poder da mão de escravos rebelados
comandados por Toussaint l'Ouverture e, com isso, reinstaurar a
escravidão. Num estudo clássico, Cyril James conta o momento em
que os soldados franceses, imbuídos dos ideais da Revolução
Francesa, ouvem a ``Marselhesa'' ser cantada por seus oponentes, os
negros. Desnorteados, os franceses se perguntam como era possível
ouvir sua própria voz vinda do outro lado da batalha. Afinal,
contra quem eles estavam lutando, a não ser contra seus próprios
ideais?\footnote{C. L. R. James, Os jacobinos negros (São Paulo,
Boitempo, 2000). (N.E.)}

Aquela experiência foi decisiva para quebrar-lhes o espírito de
combate. A derrota foi uma consequência natural. Esse pequeno fato
histórico nos nos ensina o que acontece quando uma ideia encontra seu
próprio tempo e constrói um novo espaço. Ela demonstra que estava
presente em vários lugares, à espera do melhor momento para dizer
claramente seu nome. Quando os franceses ouvem sua própria música
vinda do campo inimigo, eles, no fundo, descobrem que não são seus
verdadeiros autores. Quem a compôs foi uma ideia que usa os povos para
se expressar. Quando isso fica evidente, um momento histórico se abre,
impulsionado pela efetivação de exigências de universalidade.

Esta é a força impressionante das ideias; elas explodem contextos, dão
novas configurações para uma relação radical e fundamental de
igualdade. Mas por que é interessante lembrar disso agora? Talvez
porque, de certa maneira, seja o que vocês fazem aqui. Vocês procuram
fazer com que uma ideia que apareceu inicialmente em um lugar
determinado - mais precisamente, na Tunísia, com suas manifestações
populares contra a ditadura Ben Ali, animadas por slogans como {\it O
  povo exige} - comece a circular de forma tal que possa mobilizar
populações absolutamente dispersas e diferentes em torno de uma noção
central. A noção de que ``nossa democracia não existe ainda, nossa
democracia ainda não chegou, nós ainda esperamos uma democracia por
vir''.

\subsection*{Democracia por vir}

O regime que nos governa pode não ser uma ditadura nem um sistema
totalitário, mas ainda não é uma democracia. E nenhum de nós quer
viver nesse limbo, no purgatório entre um regime de absoluto
autoritarismo e uma democracia esperada. Não queremos uma democracia
em processo contínuo, incessante, de degradação, que já nasce velha.
Por isso, quando as mani\-fes\-tações de ocupação insistem que ainda falta
muito para alcançarmos a democracia real, elas colocam uma questão que
até o momento não podia ter direito de cidadania, porque nos ensinaram
que, se criticarmos a democracia parlamentar tal como ela funciona
hoje, estaremos, no fundo, fazendo a defesa de alguma forma velada de
autoritarismo. Quantos não se comprazem em nos olhar e dizer: o que
vocês querem? Vocês não querem um Estado democrático de direito? Então
vocês querem o quê?

No entanto, se há algo que a verdadeira política democrática nos exige
é só falar de democracia no tempo futuro, só falar de democracia como
democracia por vir. Quando se acredita que a democracia já está
realizada no nosso ordenamento jurídico, já está realizada no nosso
Estado, na situação social presente, então todas as imperfeições do
presente ganham o peso da eternidade, aparentam ser eternas e
impossíveis de superar. Na verdade, parece ser crimi\-noso tentar
superá-las sem respeitar os procedimentos jurídico-normativos criados,
na maioria das vezes, exatamente para que nenhuma superação real seja
efetiva.

É essa consciência de que as imperfeições do presente ganharam o peso
da eternidade que levou manifestantes no Reino Unido, na Espanha e na
França a exigirem ``democracia real''. Vocês podem se perguntar o que
há de fictício na democracia de países que aprendemos a ver como
exemplos de sistemas políticos consolidados. Por que largas parcelas
de sua população compreendem que há algo no jogo democrático
aparentemente reduzido exatamente à condição de mero jogo?

Talvez os manifestantes tenham entendido que a democracia parlamentar
é incapaz de impor limites e resistir aos interesses do sistema
financeiro. Ela é incapaz de defender as populações quando os agentes
financeiros começam a operar, de modo cínico, claro, a partir dos
princípios de um capitalismo de espoliação dos recursos públicos. Não
é por outra razão que se ouve, cada vez mais, a afirmação de que a
alternância de partidos no poder não implica mais alternativas de
modelos de compreensão dos conflitos e políticas sociais. Por isso, o
cansaço em relação aos partidos tradicionais não é sinal do
esgotamento da política. Na verdade, é o sintoma mais evidente de uma
demanda de política, de uma demanda de politização da economia.

Em momentos assim, devemos lembrar que a democracia parlamentar não é
o último capítulo da democracia efetiva. A Islândia tem algo a nos
ensinar sobre isso. Um dos primeiros países atingidos pela crise
econômica de 2008, a Islândia decidiu que o uso do dinheiro público
para indenizar os bancos seria objeto de plebiscito, Maneira de
recuperar um conceito decisivo, mas bem esquecido, da democracia: a
soberania popular. O resultado foi o apoio massivo ao calote.

Mesmo sabendo dos riscos de tal decisão, o povo islandês preferiu
realizar um princípio básico da soberania popular: quem paga a
orquestra escolhe a música. Se a conta vai para a população, é ela
quem deve decidir o que fazer, e não um conjunto de tecnocratas que
terão seu emprego garantido nos bancos ou de parlamentares cujas
campanhas são financiadas por estes. Como disse o presidente islandês
Ólafur Ragnar Grímsson: ``A Islândia é uma democracia, não um sistema
financeiro''. O interessante ê que, com isso, saiu-se dos impasses da
democracia parlamentar para dar um passo decisivo em direção a uma
democracia plebiscitária capaz de institucionalizar a manifestação
necessária da soberania popular.

É tal processo que nos situa nas vias de uma democracia real. Ele é a
condição primeira para sair da crise, pois a verdadeira questão que
esta nos coloca é política: ``Que regime político é esse que permitiu
tamanho descalabro na calada da noite?''.

\subsection*{Pensar é a melhor maneira de agir}

No entanto, ao colocar questões dessa natureza é necessário de fato
estar disposto a discutir. Esse é um ponto extremamente interessante,
porque quando vocês afirmam ``nós queremos discutir'', outros logo
respondem ``eis a prova de que eles não sabem o que querem''. Por
exemplo, observem que interessante, quem passa por aqui não vê nenhuma
palavra de ordem, nenhuma proposta no sentido forte do termo, ``nós
queremos isso, isso e isso!''. Em princípio, pode parecer um problema,
mas eu diria que se trata de uma grande virtude.

Atualmente, boa parte da imprensa mundial gosta de transformá-los em
caricaturas, em sonhadores vazios sem a dimensão concreta dos
problemas. Como se esses arautos da ordem tivessem alguma ideia
realmente sensata de como sair da crise atual. Na verdade, eles nem
sequer sabem quais são os verdadeiros problemas, já que preferem, por
exemplo, nos levar a crer que a crise grega não é o resultado da
desregulamentação do sistema financeiro e de seus ataques
especulativos, mas da corrupção e da ``gastança'' pública. Nesse
sentido, nada mais inteligente do que uma pauta que afirme: ``Queremos
discutir''.

Trata-se de dizer que, após décadas de repetição compulsiva de
esquemas liberais de análise socioeconômica, não sabemos mais pensar e
usar a radicalidade do pensamento para questionar pressupostos,
reconstruir problemas, recolocar hipóteses na mesa. Mas, com o
objetivo de encontrar uma verdadeira saída, devemos primeiro destruir
as pseudocertezas que limitam a produtividade do pensamento. Quem não
pensa contra si nunca ultrapassará os problemas nos quais se enredou.

lsso é o que alguns realmente temem: que vocês aprendam a força da
critica. Quando perguntam ``afinal, o que voces querem?'', é só para
dizer, após ouvir a resposta, ``mas vocês estão loucos''. Porém, toda
grande ideia apareceu, para os que temem o futuro, como loucura.

Se vocês me permitem, eu gostaria de fazer um pequeno parêntese em
direção à história da filosofia. Em {\it Carta sobre O
  humanismo}\footnote{São Paulo, Centauro, 2005. (N.E.)}, Martin
Heidegger é confrontado com uma pergunta a respeito da relação entre
pensamento e práxis. Marx já dissera que a função da filosofia era
transformar o mundo, e não simplesmente interpretá-lo\footnote{Karl
  Marx, ``{\it Ad} Feuerbach'', em Karl Marx e Friedrich Engels, {\sl
    A ideologia alemã} (São Paulo, Boitempo, 2007), p. 535. (N.E.)}.
Heidegger faz um adendo de rara precisão: ``O pensamento age quando
pensa''.

Esse agir próprio ao pensamento talvez seja o mais difícil e decisivo.
Não se trata da velha crença de o pensamento ser, no fundo, um
subterfúgio contra a ação, uma compensação quando não somos capazes de
agir. Se podemos dizer que o pensamento age quando pensa é porque ele
é a única atividade com a força de modificar nossa compreensão do que,
de fato, é um problema, de qual é o verdadeiro problema que temos
diante de nós e que nos impulsiona a agir. É o pensamento que nos
permite compreender a existência de uma série de ações que são,
simplesmente, lances no interior de um jogo cujo resultado já está
decidido de antemão.

A sociedade capitalista contemporânea procura dar aos sujeitos a
impressão de possibilidades infinitas, de que eles podem decidir sobre
tudo a todo momento. Um pouco como as escolhas de consumo, cada vez
mais ``customizadas'' e particularizadas. No entanto, talvez seja
correto dizer que essa ação não é um verdadeiro ``agir'' pois é
incapaz de mudar as possibilidades de escolha, previamente
determinadas. Ela não produz seus próprios objetos, apenas seleciona
objetos e alternativas já postos à mesa. Por isso, essa ação não é
livre.

Quando realmente pensamos, conseguimos ir além dessa liberdade
reduzida a um simples livre-arbítrio, cujas escolhas são feitas no
interior de um quadro imposto, e não produzido por cada um. Por isso,
o pensamento, quando aparece, exige que toda ação não efetiva pare,
com o intuito de que o verdadeiro agir se manifeste. Nessas horas,
entendemos como, muitas vezes, agimos para não pensar. Pensar de
verdade significa pensar em sua radicalidade utilizar a força crítica
e radical do ensamento. uando a força crítica do pensamento começa a
agir todas as respostas se tornam possíveis e alternativas novas
aparecem na mesa. Nesses momentos, é como se o espectro das
possibilidades aumentasse, pois para que novas propostas apareçam é
necessário que saibamos, afinal de contas, quais são os verdadeiros
problemas.

\subsection*{O desencanto como afeto central do político}

Mas por trás da necessidade de discussão, de reconstrução do Caráter
real da democracia, há um afeto que vocês devem saber guardar sempre,
porque é o motor de toda crítica. Trata-se do profundo sentimento de
mal-estar e desencanto que todos vocês sentem e que os faz estar aqui.
É a angústia do desencanto que nos une, que faz com que o mesmo
sentimento apareça em Túnis e São Paulo, Cairo e Nova York.

Esse é o sentimento mais verdadeiro que temos, aquele com mais força
para nos colocar em ação. No entanto, vivemos numa sociedade em que o
desencanto e o mal-estar são vistos imediatamente como sintomas de
alguma doença que deve ser tratada o mais rápido possível nem que seja
preciso dopar todos com antidepressivos ou qualquer coisa dessa
natureza. Mas é isso que vocês têm de mais concreto, de mais real.
Esse é o índice de que há algo errado, não com vocês como indivíduos,
mas com a vida social da qual fazem arte. Por essa razão é muito
importante que vocês sejam capazes de se mobilizar para dizer que esse
mal-estar não é um problema individual, é um problema da sociedade, da
vida social.

Nesse sentido, eu diria que cada época tem um afeto que a caracteriza.
Nos anos 1990, foi a euforia, marca de um mundo supostamente a sem
fronteiras, pós-ideológico e animado pelas promessas da globalização
capitalista. Na primeira década do século XXI, os ataques terroristas
aos EUA conseguiram transformar o medo em afeto central da vida
social. O discurso político reduziu-se a pregações, cada vez mais
paranoicas, sobre segurança, perda de identidade e fim necessário da
solidariedade social.

Agora, porém, vemos uma mudança fundamental na dimensão afetiva:
graças a vocês, novos laços sociais paulatinamente apareceram, levando
em conta a força produtiva do desencanto. Esse é um dado novo. Desde o
final dos anos 1970, as sociedades capitalistas não tinham mais o
direito de acreditar na produtividade do desencanto. Fomos ensinados a
ver nele um afeto exclusivamente ligado aos fracassados, depressivos e
ressentidos, nunca aos produtores de novas formas.

Em {\it Suave é a noíte}\footnote{Rio de Janeiro, Best Bolso, 2008.
  (N.E.)}, Scott Fitzgerald apresenta um de seus personagens dizendo
que sua segurança intacta era a marca de sua incompletude. Tal
personagem nunca sentira a quebra de suas certezas, a desarticulação
de seus valores, por isso continuava incompleto. Ele não tinha o
desencanto necessário para explorar, sem medo, a plasticidade do novo.

Não temos mais esse problema, pois sabemos que todo verdadeiro
movimento sempre começa com a mesma frase: ``Não acreditamos mais''.
Não acreditamos mais nas promessas de desenvolvimento social, de
resolução de conflitos dentro dos limites da democracia parlamentar,
de consumo para todos. Sempre demora para que tal frase se transforme
em um: ``Agora sabemos o que queremos''. Tal demora é o tempo que o
desencanto exige para maturar sua produtividade. Como sempre, essa
maturação acaba chegando quando menos esperamos.


\subsection*{A geração que quebrou o mundo}

Termino lembrando o seguinte: hoje, nem acredito, estou chegando aos
qua\-ren\-ta anos. Lembro que na idade de vocês, dezoito, dezenove,
vinte anos, costumava ouvir que não havia mais luta política a ser
feita, que o mundo estava globalizado e o que valia era a eficácia, a
capacidade de assumir riscos, de ser criativo, inovador, de
preferência em uma agência de publicidade ou no departamento de
marketing de uma grande empresa. Se assumíssemos essa nova realidade,
entraríamos em um futuro radiante onde só haveria vencedores e {\it
raves}, onde os que ficassem pra trás teriam, no fundo, um problema
moral, pois não haviam tido a coragem de assumir riscos, a necessidade
de inovação e coisas do tipo.

Bem, vejam que interessante. Exatamente essas pessoas que ouviram e
acreditaram em tal discurso há vinte anos e que, como eu, estão hoje
perto dos quarenta anos foram trabalhar no sistema financeiro e
conseguiram criar uma crise maior que a de 1929, da qual ninguém sabe
sair. Ou seja, eles simplesmente conseguiram quebrar o mundo.

Para essa geração, não era possível que o futuro fosse diferente do
presente. Ela não acreditava, em hipótese nenhuma, na capacidade de
transformação da participação popular, considerava isso chavão
ideológico no limite do ridículo. Como assim participação popular?
lsso não existe mais! Manifestaçöes, isso não existe! Vocês não
deveriam existir. Por isso, essa geração é a primeira a dizer que
vocês não sabem o que fazem, que vocês são sonhadores que, no máximo,
podem aparecer como fundo de um comercial de jeans. Pois, se vocês
mostrarem que a força crítica do pensamento é capaz de reconstruir
nossas relações sociais, então eles se perguntarão: mas o que nós
fizemos durante todo esse tempo? Como fomos capazes de acreditar
piamente no que agora desmorona?

Agora, vejam que coisa interessante. Se tivermos um pouco de de
cuidado, notaremos que as manifestações que ocorreram este ano
trouxeram pautas extremarnente precisas. Santiago do Chile colocou 400
mil pessoas na rua para pedir educação pública de qualidade e gratuita
para todos. Esse é um belo exemplo. Eis uma proposta que parece ser de
muito regional, mas-que no fundo modifica radicalmente a estrutura
econômica do país. Para garantir a educação pública, o Estado tem de
ter mais dinheiro. E como ele faz isso? Taxando mais dos ricos, que
não pagam impostos em lugar nenhum da América Latina. No fundo, uma
proposta como essa significa uma redistribuição de renda radical por
meio do uso democrático do Estado como aparelho de consolidação de
serviços públicos que melhorem a vida do cidadão. Ou seja, uma
proposta extremamente precisa.

Vejam, por exemplo, o que dizem os indignados na Espanha: ``Nossa
democracia parlamentar faliu junto com o sistema econômico que ela
sustentava''. Por que a crise econômica licou desse tamanho? Que
maldito sistema político é esse que permite uma crise tão grande, que
não con- segue enquadrar a ala mais terrorista do sistema financeiro?
Façam esse exercício, acessem a internet e peguem os balanços dos
bancos que estavam quebrados há três anos. Hoje, todos estão
extremamente superavitários. De onde vem esse dinheiro? Vem do Estado!
Então devemos nos perguntar que tipo de sistema político é esse que é
incapaz de colocar contra a parede quem destrói a vida, a propriedade.
Fala-se em defesa da propriedade privada. Como bem lembrou Slavoj
Zizek, esses bancos conseguiram destruir a propriedade privada de um
número maior de pessoas do que Lenin tinha tentado fazer em 1917.
Alguém devia ter colocado esse pessoal para trabalhar para nós.

Vejam bem, as pautas são extremamente precisas e conscientes, de uma
clareza e visão cirúrgica. Esta é mais uma demonstração de quando o
pensamento começa a agir: as pautas reais aparecem. Daqui a cinco anos
vão se perguntar ``Como acreditamos durante tanto tempo que nenhum
acontecimento real pudesse ocorrer?''. Daqui a cinco anos. o nível de
descontentamento e a insatisfação serão tamanhos que vão se perguntar
como se acreditou durante tanto tempo que a roda da história estava
parada, que não havia muito mais a se esperar a não ser uma espécie de
acerto gerencial de rota a partir dos princípios postos pelo
liberalismo econômico.

Vocês são o primeiro passo de um grande movimento que só começou
agora, Esses processos são lentos. No entanto, como diz Freud, ``a
razão pode falar baixo, mas nao se cala . Agora, percebemos algo
fundamental: não dá mais para confiar em partidos, sindicatos,
estruturas governamentais que podem ter suas funções em certos
momentos, mas não têm nenhuma capacidade de ressoar a verdadeira
necessidade de rupturas. Vejam, por exemplo, o caso da Grécia: qual
partido governa a Grécia? Um clássico partido social-democrata
(Movimento Socialista Pan-Helênico, Pasok na sigla original), em
princípio de esquerda. Qual partido governa a Espanha? Um clássico
partido social-democrata (Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE),
dito de esquerda. Com uma esquerda desse tipo, ninguém precisa de
direita. Todos jogam no mesmo time. A única diferença é que um faz
isso com dor no coração, ``Olha vou ter de arrebentar seu salário, não
gostaria disso'', enquanto o outro o faz cantando ``Você era um
funcionário público inútil'', e por aí vai.

Fora isso, a diferença é mínima, retórica. lsso significa simplesmente
o quê? A época em que nos mobilizávamos tendo em vista a estrutura
partidária acabou, acabou radicalmente. Pode ser que ainda não
saibamos o que vai aparecer, o que não vai acontecer, como as coisas
se darão daqui para a frente. Podemos não saber o que vai acontecer no
futuro, que tipo de nova organização política aparecerá, mas sabemos
muito bem onde acontecimentos não ocorrerão. Com certeza não nas
dinâmicas partidárias. Você tem uma força de pressão enquanto está
fora do jogo partidário. Quando entrarmos nele, tal força diminui.
Então, conservem este espaço!


\vfill

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